Mais um dia de trabalho, abri a cafeteria no mesmo horário de sempre, oito horas da manhã. Comecei a trabalhar aqui aos 16 anos, estava no ensino médio e precisava de algum trabalho, infelizmente, com uma avó doente não temos muita escolha. Eu queria ter continuado meus estudos e começado uma faculdade, mas preciso ajudar em casa e o cheiro de café e livros logo de manhã é uma das melhores coisas do dia. Semana passada passamos a atender um novo cliente, um tanto que... peculiar, digo isso pois a cafeteria é um lugar bem simples para uma pessoa como ele, aparentemente ele tem dinheiro o suficiente para comprar a cafeteria inteira. Hoje não foi diferente ás dez horas da manhã ele estacionou seu carro em frente a loja, um volvo preto com vidros escuros, ele desceu do carro usando seu terno azul escuro, gravata vermelha e camiseta social branca. Entrou e se sentou em uma mesa perto da vidraça e esperou ser atendido, a menina que trabalha comigo sempre atende ele mas hoje estava de atestado, ou seja, eu era a única atendente do café no dia. sai de trás do balcão e fui atender o único cliente do café, esse horário é sempre vazio por ser mais perto do almoço.
- Bom dia, em que posso lhe servir hoje?- digo pegando o bloquinho de notas e caneta do avental. - estamos com uma promoção da torta de banana e canela, o senhor teria interesse?
-hm- ele pega o cardápio e dá mais que uma boa e lenta, bem lenta, olhada- pode me trazer um expresso sem açúcar e a torta que falou... é realmente boa?
- sendo sincera, não muito, não é atoa que está na promoção, eu gosto mais do brownie com sorvete e café gelado sem açúcar e com um fio de caramelo.
- perfeito! pode me trazer exatamente isso e uma boa poesia para ler enquanto como.
Anotei seu pedido e fui buscar o livro, sempre levamos antes do que a comida para os clientes. Assim que deixei o livro na mesa para ele fui prepara o pedido. Normalmente os clientes não são muito de aceitar palpites sobre o que comer e beber, então realmente fiquei feliz por ele aceitar o que disse, eu realmente amo essa combinação. Preparei o pedido e organizei na bandeja de forma apresentavel e fui levar á ele.
- aqui está seu pedido!- apoiei a bandeja na mesa e fui colocando as coisas pouco a pouco na mesa, assim que terminei me retirei e voltei para trás do balcão a espera de outro cliente, mas não deixando de observar o homem que recém avia atendido, o fato dele estar bem vestido e um café simples e não muito conhecido e movimentado me intriga, mas pode ser exatamente por não ser movimentado a tal preferencia a uma semana direto. Enquanto estava perdida em meus desvaneios ouvi o sininho da porta soar e direcionei minha atenção diretamente para lá, eram duas garotas, se sentaram em uma mesa com duas de distancia do homem. Assim como ele me retirei de trás do balcão e fui atende-las.
-boa..- parei de falar pois fui impedida de continuar falando.
- vamos querer apenas dois cafés, do mais simples e barato que tiver!- apesar da grosseria fui preparar o pedido, nem cheguei a anotar na hora, não estava afim de mais grosseria ainda, apesar de já saber e esperar que tenham clientes assim é desconfortavel. terminei o pedido e levei na mesa, assim que me viro escuto uma das garotas me chamar, me viro e espero ela falar o que precisa.
- sabe me dizer quem é aquele sentado na mesa?- a garota, aparentemente mais nova pergunta.
- infelizmente eu não saberia dizer, normalmente não ficamos de papo com clientes.
- sei...mas ele vem sempre? me consegue o numero dele?- pergunta novamente a mais nova um tanto empolgada e afobada.
- ele sempre vem no mesmo horário sim, mas o numero eu infelizmente não tenho como conseguir para a senhora, se for somente isso já vou me retirar, qualquer coisa relacionada ao café podem me chamar- vejo o homem, cujo não sei o nome, ainda, me chamar e vou atender ele. - em que posso lhe ajudar?
- não precisa de tanta formalidade, sabe disso né!?- ele me olha e espera por uma resposta mais apenas aceno com a cabeça.- mas tudo bem, afinal é seu trabalho, eu queria saber se trabalham com soda italiana?
- trabalhamos sim! temos de maça verde, melancia, laranja e frutas vermelhas.- virei o cardapio para lhe mostrar melhor as opções que havia dito.
- irei ficar com a opção de maça verde, por gentileza, não precisa me trazer agora, irei pegar somente daqui quinze minutos- acenei novamente com a cabeça em concordancia e já aproveitei para recolher a louça que estava na mesa dele. voltei para parte de trás do balcão e fui por a louça na pia para lavar e aproveitei o pouco movimento para repor a vitrine de doces e salgados. Me lembrei que o homem havia comentado sobre quinze minutos então fui preparar a soda para lhe entregar. Assim que terminei a soda e me virei me deparei com ele no balcão e as duas gurias grosseiras vindo logo atrás. - aqui está a soda que o senhor pediu! espero que faça um bom proveito.- disse lhe entregando a soda italiana.
- obrigado, a proposito me chamo Castel, não precisa ser formal, lembra?- havia um sorriso encantador em seu rosto, fechei a conta dele e acertamos o pagamento também. Assim que ele saiu pela porta as meninas se aproximaram do caixa e uma delas se apoiou no balcão. - vai ser no crédito- a mais velha disse e estendeu o cartão, ineri o cartão na maquina e virei para que ela colocasse a senha.- recusado?- a mais velha disse em um tom mais alto- olha, se não passou não tenho como pagar não, mais seis reais não fazem falta né?!- ela estava de brincadeira com minha cara né? não acredito que está se recusando a pagar seis reais, mas tudo bem, tenho a louça que fiz os doces de mais cedo para lavar e aposto que ela vai amar a tal tarefa.
Após muita discussão com com a pior cliente que já atendi acabei por deixa-la ir, afinal eu tinha mais o que fazer que passar meu dia discutindo com alguém que não vale nem metade do valor que se negou a pagar, fora o mico das pessoas passando na rua e olhando. Apesar de ser um dia parado consegui atender mais três clientes, também aproveitei que o "movimento" do dia tinha passado e fui organizar alguns livros. normalmente os livros do café são organizados por categoria, como jovens adultos ou suspense, e como já é de se imaginar os clientes acabam por bagunçar guardando fora do lugar. No fim da tarde eu limpei a cafeteria, lavei a louça, fechei o caixa, limpei as mesas e tranquei o café para ir para casa, sempre aproveito o fraco movimento para pegar um ou dois doces que acabam ficando.
Não moro muito longe do café, três quadras de distância apenas, gosto de caminhar e ouvir uma música calma. Perto de casa tem um gatinho preto que sempre paro para fazer carinho, hoje acabei por trazer um pouco do frango que sobrou dos salgados. Me agachei e chamei o gato preto, esperei ele se aproximar de mim e coloquei o frango na palma da mão para que ele comesse, esperei que cheirasse e comesse, fiquei com receio de deixar ali e outro gato ou cachorro acabar querendo brigar pela comida, claro que se outro animal aparecesse eu dividiria, mas enfim... Após o gato comer segui meu rumo para casa, estava louca para um banho quente e minha cama com meu chá de camomila e livro favorito.
Quando chegava em casa, apartamento na realidade, ouvi barulho na porta do meu vizinho, coloquei a chave na fechadura e dei uma enrolada antes de destrancar a porta, nesse momento que meu vizinho abre a porta com uma caixa, fico surpresa. - vai se mudar? - pergunto e ele larga a caixa para fechar a porta. - infelizmente fui transferido para o outro lado da cidade, vou acabar por sentir falta desse apartamento pequeno. - ele ri.- ah, sim. A qualidade de vida por aqui nem se compara com o outro lado da cidade.- falei pouco triste.- Sim, infelizmente vou para uma zona mais pobre para ganhar mais e trabalhar mais ainda, chega a ser irônico.
Encerrei o assunto com ele e entrei no meu apartamento, curiosa para saber quem iria ser meu novo vizinho, ou vizinha, claro. Os apartamentos do prédio realmente eram pequenos, o maior de todo prédio era o da cobertura, que também não morava ninguém, não me admira que esteja vazio, com um aluguel de 6 mil vai ficar vazio por mais um bom tempo. Morar em uma das partes mais "ricas" da cidade é se acostumar com preços absurdos, como doze reais um pacote de queijo qualquer, infelizmente o turismo é assim, se mora em uma cidade de turismo vai me entender, o preço sempre sobe porquê sempre têm alguém que acaba se dispondo a pagar tal valor absurdo.
Deixei todos meus pensamentos sobre valores e alugueis de lado e fui para o banho enquanto a água do chá esquentava na chaleira elétrica, assim que sai coloquei a água em uma xícara com a erva para o chá e já fui para o quarto, liguei o abajur com luz amarela mais fraca e peguei o livro, já me arrumei para ficar o mais confortável possível, o dia apesar de calmo foi cansativo então sabia que ia pegar no sono lendo.
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Amor, livros e café
Romanceuma combinação de livros, café e muito amor em meio a tudo e sempre mais próximo que imaginamos.