1 - TCC's e Terapias

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O farfalhar de papéis chamou a atenção do dono dos olhos dourados —que tinha uma xícara de chá Darjeeling na mão— até o garoto ruivo de olhos azuis. Extremamente ansioso. Num aceno positivo seu, o menino ajeitou a postura respirando fundo, e com o tic tac do relógio em seu ouvido, começou a falar.

— São animais ágeis, inteligentes, independentes, possuem sentidos extremos como reproduzir mais de cem sons diferentes, também ouvem sons de alta frequência numa maneira muito mais eficiente que os cães, correm a mais de quarenta quilômetros por hora em espaços de tempo muito curtos e ainda salta cinco vezes a própria altura num único pulo. — suspirou apertando os dedos de uma das mãos na lateral da bancada antes de virar a folha com os dedos trêmulos da outra, focou sua visão novamente no homem a sua frente e quase perdeu o raciocínio pela intensidade que era observado. Seu tronco arrepiou com o tocar do vento, estar apenas de calção em pleno outono lhe custaria a saúde um dia.

— Os gatos dormem a maior parte da sua vida, aproximadamente dois terços, então de nove anos, três eles passam acordados. Eles possuem resistência a pulos muito altos por causa da área de superfície do corpo ser grande em relação ao peso, o que reduz a força com que chegam ao chão em uma queda. Algo como sensores internos que inventam onde ele está durante a queda para ele cair em pé, interessante não? — Ajax sorriu incerto, já se encontrava sem jeito, não conseguiria se concentrar em treinar sua apresentação daquela forma. Sentia seu corpo inteiro remexer em desespero.

A razão de ter saído de casa foi para ter silêncio e disciplina para conseguir agir perfeitamente, sem sua família bagunçando e o tirando da concentração, atravessou a cidade até o apartamento dele para evitar que sua mente fuja do propósito, não para ferrar tudo.

Havia ficado com a introdução de seu trabalho, e sinceramente, já era difícil ter que decorar os nomes de cada osso do animal, e ainda estragar a parte mais fácil que eram as curiosidades, seria muita desgraça única na sua vida. Sabia que o motivo era por ser muito ansioso, que quando se pressionava as mãos suavam, gaguejava, que esquecia o próprio nome e tudo o que aprendeu na vida — o que era muito contando o tempo que estudou — porém quando está com ele, perto dele, raramente acontecia, e hoje não é um desses dias raros.

Quando está com ele, as coisas fluem. Não sente o medo de falhar o corroendo aos poucos, não sente vontade de fugir das pessoas —tão forte— igual normalmente era, para falar a verdade, mesmo ambos estando no mesmo cômodo a menos de dois metros distante um do outro, ainda queria estar mais perto, porque estando colados, ele não era observado. E não havia nada que o deixasse mais desconcertado do que a análise constante de si que o outro fazia, como se estivesse lendo um conto de aventuras extremamente fascinante.

Balançou a cabeça antes de, novamente, respirar e focar no treino da apresentação. Um reflexo de seu corpo levou sua visão diretamente aos lábios alheios, estavam umedecidos, péssima ideia, o ar faltou e ali ele travou outra vez, como se estivesse sido pego na hipnose dos gatos, imitando o som das suas presas, às atraindo a sua armadilha e as devorando. Se Childe fosse um passarinho, ele neste momento seria nada mais além de uma bola de penas.

Seu rosto quase tomou o tom de seus cabelos, esquentou e avermelhou violentamente, o corpo novamente arrepiou, as mãos chacoalhavam e ele não sabia explicar o porque estava daquele jeito, mas se sentia frente a frente com um predador. Todo o seu estudo daquela semana rodopiou sua mente, e ele não sabia mais onde havia parado.

O riso grave tomou seus ouvidos e junto, o seu sistema nervoso pulou, odiava a sensação de ser menor e mais fraco quando claramente, não era.

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