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      VERENA ACORDOU QUANDO o primeiro relâmpago rasgou o céu negro, as estrelas mal se viam e a lua não passava de um fino sorriso, lentamente conseguiu afastar o urso cor de chocolate para a outra ponta da cama, os seus pés tocaram o chão gelado...

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VERENA ACORDOU QUANDO o primeiro relâmpago rasgou o céu negro, as estrelas mal se viam e a lua não passava de um fino sorriso, lentamente conseguiu afastar o urso cor de chocolate para a outra ponta da cama, os seus pés tocaram o chão gelado encolhendo-se quando um arrepio lhe percorreu o corpo magro. A porta fez barulho quando foi aberta devagar, a garotinha espreitou antes de se aventurar pelo corredor que era levemente iluminado pela luz da televisão que ainda trabalhava na sala de estar, Verena sorriu vendo apenas o topo da cabeça do seu pai apoiada no braço do sofá azul já desgastado - depois do câncer ter sido diagnosticado, tinha virado hábito o homem adormecer na sala enquanto assistia a algum jogo futebol americano -, Verena subiu no banquinho de madeira antes de puxar o pacote de bolachas do fundo da prateleira, algumas migalhas caíram na bancada quando deu a primeira mordida, o sabor de chocolate espalhando-se pela sua boca.

A garotinha de apenas oito anos caminhou até ao seu pai, a sua mão acariciou a pele nua da cabeça do homem - à muito que o cabelo havia caído, agora o seu lugar era ocupado pelos gorros de croché que a própria Verena fazia -, uma manta macia tapava o seu corpo extremamente magro protegendo-o do frio que fazia na pequena cidade.

- Papá - Verena sussurrou toca do gentilmente o seu braço - O doutor Romero disse para não te deixar dormir no sofá, é desconfortável - tentou novamente.

O doutor Romero, um médico nascido e criado em Espanha, recentemente havia se mudado para Forks, tornando-se numa espécie de melhor amigo de Verena, o doutor criava pequenas histórias e escrevia estas num bloco de notas para a garotinha ler ao pai durante as sessões de quimioterapia, segundo ele poderia ajudar o seu papá a melhorar.

- Papá, tenho medo dos relâmpagos - Verena tentou sabendo que o seu pai acordaria e dormiria abraçado a ela - Papá acorda - a sua voz ecoou pela casa.

O braço do seu pai escorregou da sua mão, normalmente o movimento rápido acordaria o homem, mas ele apenas ficou ali sem se movimentar apenas o seu braço balançando lentamente sem apoio nenhum, Verena observou os lábios do homem arroxeados - os seus olhos já inundados por lágrimas - a sua mão tocou o seu peito com esperança de sentir o movimento repetido do seu coração, não havia nada, era como se tivesse vazio, o seu coração não batia.

As lágrimas correram pelas bochechas pálidas, as suas mãos tremiam ao tentar destrancar a porta, Verena estremeceu quando o vento frio atingiu o seu pequeno corpo, as suas meias entraram em contato com o alcatrão molhado - estas absorvendo a água da chuva - o seu choro ecoava pela rua assustando os vizinhos que começavam a ligar as luzes preocupados. O carro da polícia estava estacionado no seu lugar do costume, Verena sentiu os nós dos dedos começarem a sangrar enquanto socava a porta de Charlie Swan, seu padrinho e também melhor amigo do seu pai.

- Verena - o homem abriu a porta com força, a sua cara demonstrava que havia sido acordado embora ainda vestisse a sua farda, não era apenas Michael que tinha o hábito de adormecer durante os jogos - Querida, o que se passa? -.

- O papá - o seu choro transformou-se em gritos de pura agonia e desespero - O papá -.

Charlie agarrou no corpo da criança correndo com ele no seu colo, alguns vizinhos já haviam saído à rua, o xerife sentou Verena nas escadas da entrada da casa amarela, os seus joelhos bateram no chão enquanto tentava acalmar a sua afilhada.

- Tens de ficar aqui à minha espera querida - Charlie murmurou - O padrinho vai ver o papá mas preciso que fiques aqui - pediu sentindo os seus olhos arderem pelas lágrimas que ali se acumulavam.

A sua expressão era suave, por alguns segundos um fio de esperança percorreu o coração do xerife, mas por trás da sua expressão estava o seu corpo demasiado mole, o seu peito não subia e descia como deveria fazer, algumas lágrimas caíram enquanto retirava o telemóvel do bolso das calças e marcava o número de emergência.

- 911, qual é a sua emergência? - era uma voz feminina, de certa forma suava robótica -.

- Sou o xerife Swan, preciso de uma ambulância - disse tentando manter a calma - Michael Brown faleceu, 920 K St, Forks* -.

- A Ambulância já está a caminho, foi o senhor que encontrou o sr.Brown - a mulher perguntou.

- Foi a filha, só tem oito anos, sou padrinho da criança - Charlie soluçou quando as luzes da ambulância iluminaram a rua.

- Sinto muito, xerife Swan - a chamada ficou em silêncio antes de ser desligada.

Dois homens entraram carregando uma maca, sendo seguidos por Verena que tentava afastá-los do seu pai, Charlie carregou a criança novamente para fora da casa, os seus olhos foram fechando lentamente enquanto via o corpo do seu pai ser tirado de casa embrulhado num saco escuro, a exaustão tomando conta do seu corpo antes de desmaiar no colo do seu padrinho.

Depois daquela madrugada, não houve uma noite em que Verena não sonhasse com o corpo sem vida do seu pai.


















* Procurei a morada dos Swan no maps, a morada deles seria 775, como a Verena vive na mesma rua coloquei outro número (920) e sim esse é o numero de uma casa ao lado da do xerife (acredito que 3 casas de distância).

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⏰ Última atualização: Mar 02 ⏰

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VERENA, p. lahoteOnde histórias criam vida. Descubra agora