Capítulo único

4 0 0
                                    

Terminava de colocar glitter no rosto quando Minseok tocou a campainha. Ainda com os dedos cheios de cola e brilho azul, foi até a porta abrir para o amigo, que já chegava com um mini cooler e uma cerveja bem gelada nas mãos. O ensaio do Bloco da Laje iria sair da Praça dos Açorianos e seguir pela Washington Luís até a Orla. A vantagem de morar na Cidade Baixa é que estava sempre muito perto da bagunça, bem como gostava. E, passar o Carnaval na CB não era de todo mal, o problema era lidar com a frustração de ter perdido o voo numa data como essa. Mas deixou os pensamentos burocráticos para outra hora — precisava não ficar estressado para conseguir aproveitar um pouquinho daquele dia —, o Rio de Janeiro ainda iria conhecer o gingadinho de Byun Baekhyun, quem sabe.

Pessoas vestidas de amarelo, vermelho e azul ocupavam todas as ruas. Eram as cores do bloco, e Jongdae, Minseok e Baekhyun estavam a caráter, respectivamente. Samba e Funk se alternavam ocupando todo o espaço sonoro. Em poucas latinhas de Stella, já estavam completamente no brilho. Baekhyun sentia o corpo começar a suspender, as palavras cantadas já não eram tão compreensíveis e tudo virava graça — provavelmente efeito do baseado que Kyungsoo, amigo de Minseok, havia ascendido e colocado na roda. Não que sua vida não fosse um pequeno caos festivo durante o ano inteiro, mas no carnaval, a folia generalizada era uma faísca a mais, convidando o lúbrico a ocupar espaços inesperados. Por isso, naquele dia, não soou estranho beijar os amigos. O que incomodou foi quando ficou de fora, na realidade. Sabia que Jongdae tinha uma ficante, mas ficar de lado logo depois de um beijo triplo com Minseok e Kyungsoo foi meio broxante.

Enquanto os dois se perdiam num amasso intenso — não pode deixar de observar a mão de Minseok naquela bunda redondinha de Kyungsoo —, foi com Jongdae até um mini mercado, na rua pela qual cruzavam, comprar vodka para montar um kit. Como o caminho até a Orla nunca era acelerado, estava tudo bem se separarem por alguns minutos. Jongdae pagava as bebidas enquanto Baekhyun esperava do lado de fora, bolando um beck encostado no poste. Foliões caminhavam por ali também, e deixou o baseado cair quando um cotovelo acertou seu braço.

— Mas que porra! — gritou frustrado, se abaixando para juntar a seda e o farelo de ganja. Piscou por alguns segundos, um pouco em transe, quando virou o rosto para cima e deu de cara com a figura mais bela que já tinha visto em toda sua vida, se abaixando para ajudá-lo.

— Desculpe, não te vi — o outro falou num tom adocicado, que nem o chuvisco carioca mais tapado de glicose poderia ter. E como se não fosse o bastante, vestia uma camiseta do Internacional de 2008, bermuda e chinelos. Era a pura encarnação de um canalha!

— T-tá tudo bem. Valeu — agradeceu o rapaz, sem tirar os olhos do olhar do outro. O que estava acontecendo? Era só um cara qualquer. Alto, bonito, gostoso, com uma voz deliciosa, qualquer.

Os prazeres sempre duram pouco, então Jongdae apareceu e voltaram para junto de Minseok e Kyungsoo, com o projeto divino ficando para trás, mas com o formigamento estranho da sensação de estar sendo acompanhado com os olhos — mas não virou para conferir. Pelo resto do trajeto se pegou olhando para os lados procurando "por alguém". Mas, enquanto Descobridor dos sete mares era cantada em uníssono pelos foliões, conforme o bloco chegava no ponto final, com o sol se pondo e a Orla se compondo como uma obra de arte, Baekhyun dançava e pulava com os amigos, esquecendo-se por alguns instantes do rapaz que lhe fisgou com o olhar.

Aproveitavam o restante do bloco em um boteco. Deixou a mesa para ir ao banheiro, e quando estava lavando as mãos, o colorado saiu da cabine ao lado. Encaravam-se mais uma vez, e o moreno tinha nos lábios um sorriso de canto formado, e no fundo, Lá vem você preenchia de samba o lugar.

— Oi de novo — disse, indo lavar as mãos também. Fitou Baekhyun com um tom de malícia. "Lá vem você com seus larará", Byun pensou com gosto.

— Tu não morreu de calor com essa camisa? — Baekhyun indicou com o queixo a farda do mais alto.

— Se quer me ver sem ela é só pedir... você é? — provocou, querendo saber o nome do outro.

— Baekhyun — respondeu simples, um pouco corado com a sugestão — E você?

— Sehun. Você tá bem nessa sua camisa também, uma pena que é azul — brincou.

— Não sou gremista, se isso ajuda — Baekhyun devolveu enquanto iam até o bar.

— Ajuda muito — sorriu — Quer beber? Te pago uma — apontou para a prateleira atrás do barman.

Baekhyun assentiu e sentaram em outra mesa, os amigos não se importariam. Coisas de Carnaval. Foram terminar de beber e conversar do lado de fora do boteco, que começava a ficar muito cheio. A noite era bonita, e Baekhyun começava a se achar até que sortudo por perder o voo.

— Você fica uma gracinha dançando — Sehun comentou, passando um dedo pelo lábio inferior de Baekhyun para tirar um glitter preso, que assistiu o movimento quase que com uma hipnose letárgica. Baekhyun corou e sentiu um arrepio começar pelo baixo ventre e subir por todo corpo — Posso te beijar?

Baekhyun não respondeu, apenas puxou o mais alto para perto de si. Sentiu a boca quente de Sehun contra a sua, e o mais alto pressionando o corpo contra o seu, apoiando uma mão na parede logo atrás. O beijo tinha gosto de caipirinha, erva, cerveja e chiclete, mas era doce, duvidava que pudesse achar outro como ele no Rio. Beijavam-se com um desejo violento. Em algum momento, foram parar na sua casa, e lá, a camiseta do Internacional ficou atirada em algum canto qualquer...

Pois bem, cheguei
Quero ficar bem à vontade
Na verdade, eu sou assim
Descobridor dos sete mares
Navegar eu quero...
No mar a luz azul me guia.

Lá vem você - SebaekOnde histórias criam vida. Descubra agora