one for the road

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Dava para ouvir o barulho de vozes além da melodia do baixo. Pareciam animadas, harmoniosas com aqueles que estavam no palco. Mesmo que o vocalista cantasse bem alto e que o instrumental estivesse forte, eu ainda era capaz de ouvir as vozes. Dos bastidores, eu conseguia ouvi-las e enxergava naquilo um significado. Casa cheia.

Era a primeira vez para nós. Não a primeira vez que cantaríamos em um bar lotado de pessoas, mas a primeira em que cantaríamos nesse lugar em específico. Rose Alen. O lugar era um clássico. A casa noturna do momento por dez anos e continuava no auge. Tudo ali era luxo, exalava luxo e mostrava luxo. Naquela noite, tudo menos nós.

— Vocês sabem quantos artistas de sucesso já foram descobertos aqui, nesse lugar? — Jung Hoseok jogou a pergunta. O sorriso enorme estampava seu rosto fazendo cada canto retorcer para comportar aquela alegria.

Ele estava eufórico. Notavelmente eufórico. Uma empolgação de dois metros e cem quilos em um corpo consideravelmente mais baixo e mais leve. Reluzia em sua pele sempre bronzeada e vibrava nos fios castanhos do seu cabelo arrepiado. Ele era pura euforia.

— Dois. Trudy Holyday e Lewis Park — Yoongi lhe deu uma resposta direta e certeira.

De todos nós quatro ali, reunidos naquela saleta à espera da nossa vez, ele era quem parecia mais tranquilo. O corpo estava estirado relaxadamente na poltrona, seu semblante imparcial como quase sempre enquanto os dedos brincavam com as baquetas preferidas. Uma espécie de baquetas da sorte, eu diria.

— E já vale por uns mil, não acha?

— Claro. Igual a você quando saímos para comer — eu disse, com um sorriso debochado à mostra. Hoseok me respondeu com um xingamento murmurado e um tapinha na nuca. Yoongi deu uma gargalhada alta, Jungkook apenas soltou uma risada rápida. Então, eu o analisei pela terceira vez na noite.

Jungkook. O jeans surrado, a jaqueta preta preferida, a velha camisa branca. O corpo alto feito de músculos jovens, o rosto jovem feito de traços retraídos, o cabelo preto curto e espesso. Os olhos lustrados por galáxias agitadas de sonhos e universos tumultuosos de vontades.

Ainda estava nervoso. Era nítido na forma como as pernas se moviam enquanto os pés batiam no chão velozmente, como os dedos batucavam a ponta do baixo e como o olhar parecia perdido sobre o que encarar. Nervoso e ansioso, algo que só resolveria quando estivesse em pé diante do microfone e disso todos nós sabíamos.

Do lado de fora, a música pareceu parar. Hoseok saiu da sala para saber quanto mais esperaríamos. Já era a terceira vez que ele fazia aquilo em menos de trinta minutos.

— Puta merda, Jungkook! Relaxa aí, já está me irritando — Yoongi referiu-se às batidas incessantes com as pernas. A bagunça loira em sua cabeça pareceu mais indomável quando ele virou a cabeça na direção de Jungkook.

— Desculpe — ele disse baixo e parou. — Estou nervoso.

— Ainda bem, porque eu poderia pensar que você está tendo um ataque epilético.

— Cruzes.

— Não precisa de tanto nervosismo — eu decidi manifestar-me na conversa. — O Hoseok só está exagerando para um caralho. É só mais uma apresentação em um bar.

— Sei lá, a galera lá fora parece meio diferente, mais exigente. Eu não sei — Jungkook falou tudo em um único fôlego. Os dedos ainda batucavam no instrumento em seu colo e os olhos ainda passavam de um ponto a outro, sem destino, pela sala.

A maneira como ele parecia transbordar agitação formava um contraste cômico com o sossego de Yoongi, sentado logo ao lado. Um contraste acentuado pelos centímetros a menos que Yoongi tinha em sua estatura.

Rockstar • TaekookOnde histórias criam vida. Descubra agora