Era sábado, pouco depois do horário do almoço, o dia da corrida classificatória para decidir o grid da corrida oficial de domingo ou seja, de qual posição os pilotos iriam largar. Kimberly já tinha checado a pista duas vezes, rezado uma ave maria pra cada piloto e já estava na sua cabine analisando as inúmeras câmeras e com o comunicador ligado. Testou cada equipe para ver se estavam atentos as luzes de emergência caso ela precisasse chamar eles.
Haviam passado duas semanas desde o primeiro treino livre para teste das novas motos, seria praticamente a primeira corrida oficial. Aquela seria transmitida por todos os canais oficiais, então todos os cuidados estavam redobrados. Kim limpava seus óculos a cada dois segundos com medo de perder um detalhe por estarem embaçados. Um chamado corta o silêncio, Kim pula da cadeira, o chamado vinha do capacete do Bang.
— O que foi? Tem algo errado? – Kimberly pergunta ansiosa.
— Não, ta tudo certo.
— Então deixa a linha livre.
— Qual é, você não está brava comigo ainda né?
— Christopher, por favor! – Kimberly aproveitava a ligação para regular o volume do fone e checar a câmera da moto do australiano, confirmando se estava realmente tudo certo.
— Ele já está bem, Kim. Está lá no pit. Ele não se machucou tanto assim.
— Foram quatro costelas, impossível ele não ter se machucado.
— Eu só dei um toque na roda, não imaginei que iria rodar daquela forma.
— Foco na corrida, Bang. Não se arrisque.
— Te espero no pódio.
Kimberly encerra a ligação com o sorriso bobo, o australiano sempre encerrava as ligações dessa forma, com esse flerte bobo que fazia o coração da morena errar as batidas. O cara era um completo babaca, pretensioso e sem medo da morte, mas era um ótimo piloto e nunca havia de fato se machucado, fazia questão de sempre ligar antes da corrida começar, dizia que a voz da mesma o passava a confiança necessária para chegar na bandeirada sem causar nenhum arranhão na moto.
Na pista, Jisung reparou o australiano rindo demais dentro do capacete, sabia que o mesmo deveria estar falando com a engenheira. Invejava a intimidade dos dois. A austríaca o encantava, a inteligência e preocupação excessiva eram apenas um pouco dos inúmeros charmes da morena. O coreano não era bobo, todos sabiam do acordo entre piloto e engenheira de que, caso ele ficasse em primeiro lugar, ela que iria no pódio entregar a medalha e o champanhe, por isso sempre fazia questão de acabar com a felicidade do australiano no último segundo, ultrapassando-o na última curva.
Abaixou a viseira do capacete com ignorância, acelerando bruscamente a moto direcionando seu olhar na direção do piloto mais velho que retribuiu com o famoso sorriso irônico, fechando a viseira e se ajeitando sobre a moto.
Um minuto para a largada, todos estavam recebendo os últimos ajustes nas motos enquanto a morena dava o sinal verde de dentro da cabine. A primeira corrida durava cerca de 10 minutos, os cinco pilotos que fizessem em menor tempo avançavam para a segunda fase, essa que durava sete minutos e definia quem largaria na primeira posição. O primeiro corredor também já ganhava cinco pontos na competição e o segundo apenas 3.
Corpos abaixados sobre as motos, capacetes presos, macacões zipados até em cima e comunicadores funcionando. Faltavam apenas 15 segundos para a largada. Não havia mais nenhum mecânico, engenheiro ou diretor na pista, apenas os pilotos em suas maquinas. As luzes verdes se acenderam uma a uma e, quando apagassem, era cada um por si.
O sinaleiro se apagou e ouviu-se apenas o alto roncar das 500 cilindradas dos 16 pilotos. O sol brilhava alto, dificultando a visão dos pilotos, mas nada impedia que Han Jisung e Christopher Bang já estivessem brigando pelo primeiro e segundo lugar. Como era de praxe, Jisung se mantinha preso a roda traseira de Christopher.
Ninguém era ousado o suficiente para se manter na frente da famosa moto 44. O assassino das pistas. Bang nunca chegou a ocasionar morte de uma pessoa, mas inúmeras motos já foram sepultadas pela roda dianteira da RC 16 que Christopher pilotava.
Jisung iria manter sua estratégia de sempre: manter-se a +0,700 segundos atrás do australiano e o ultrapassar no último setor aos nove minutos e trinta segundos de corrida. Esse plano funcionou nas últimas três classificatórias, mas Christopher não estava disposto a não encontrar a engenheira no pódio novamente. Todos estavam acostumados com a estratégia bruta do australiano, mas dessa vez ele não iria perder.
Ao parar no pit lane para abastecer, o australiano enrolou de propósito, criando assim uma enorme distância entre ele e, agora o primeiro colocado, Han Jisung. Nas arquibancadas e jornais questionavam-se como o veterano havia perdido tanto tempo numa parada quando sempre foi recordista usando menos de 3 segundos para as trocas. Nem mesmo a própria equipe sabia do plano de Chris, era uma estratégia arriscada e ele tinha que contar com a sorte. Havia ouvido dois de seus adversários conversando sobre quais pneus usariam e sabia que pelas condições da pista, era fácil que rodassem em uma certa curva.
Acelerou a moto em direção as motos 24 e 19, os dois pilotos que usavam o pneu macio. Precisava fazer com que os dois deslizassem em breve. Acelerava o suficiente para colar em ambos. Eram pilotos bons, mas novos demais. A equipe cometeu um erro ao colocar tais pilotos para competir a classificatória. Christopher precisava paralisar a corrida tempo o suficiente para estragar a estratégia de Han Jisung.
A famosa curva 6 estava se aproximando, Christopher acelerou até ficar na frente das duas motos, fechando os pilotos na curva. Os corredores que já estavam com os pneus desgastados não aguentaram segurar e abaixar o necessário para fazer a curva. O número 24 deslizou na pista, girando até conseguir acertar o número 19 e a essa altura, Christopher já havia recuperado sua posição perto de Han Jisung.
O estrago das duas motos havia deixado pedaços de plástico espalhados pelo circuito, o que foi necessário a inserção do safety car na pista enquanto era realizada a limpeza daquele setor. Han Jisung pedia informações para sua equipe pelo comunicador tentando entender o que Christopher estava planejando. Bang ouvia os xingamentos da Kim dentro do capacete, mas seu plano havia funcionado. O safety car iria impedir ultrapassagens pelos próximos dois minutos. Totalizando nove minutos e 45 segundos de corrida. Assim que liberado, Christopher conseguiria terminar o setor na frente de Jisung, seus pneus estavam melhores e havia acabado de reparar a moto no pit. Os pneus atuais de Jisung não aguentariam acelerar tanto e acabariam estourando. Boom! O plano de Christopher havia dado certo.
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We Race For Love
Teen FictionOs olhos do público seguiam atentos na pista, era o final do Grand Prix de 2024. Aquilo já estava valendo muito mais do que qualquer cem mil dólares, a felicidade deles estava em jogo, nenhum dos dois desistiria tão fácil. A grande aposta pelo coraç...