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No hall principal do resort, tomei apenas um café preto, sem açúcar, e comi algumas frutas. Queria mesmo almoçar, mas não queria pular o café porque provavelmente sentiria dor de cabeça.
Na beirada da piscina, tirei meu vestido, deixando em uma espreguiçadeira e me inclinei, procurando em meus contatos preferidos o número de Totó. Liguei algumas vezes e, como esperado, nada.
Respirei fundo, ainda querendo matá-lo, mas também começando a me preocupar. Liguei para Kênia, uma chamada de vídeo, em sequência. Ainda não queria falar com meus pais, mas a minha "cunhada", vulgo melhor amiga e irmã de Eduardo, poderia acalmar meu coração.
Kênia não demorou para atender com sua câmera aberta. Diferente de mim, ela estava em um escritório, usava óculos de grau e roupa social.
— Adorei as tranças — falei sobre o cabelo dela.
— Knotless braids, gatinha — respondeu.
— Que é?
Minha amiga riu.
— Menina branca mesmo você, viu? É uma traça sem nós, começa com o cabelo natural e depois o megahair. É um negócio mais gradativo, curti a técnica. — E começou a me mostrar, mexendo a câmera antes de colocar parada no que deveria ser na bancada de seu escritório.
— Bem seu estilo — disse. — Mas aposto que você vai enjoar rapidinho.
Voltou a rir.
— Talvez sim, talvez não. E aí, como estão as coisas? — perguntou. — Você tá na beirada de uma piscina, de biquininho, óculos de sol... Só falta o drink.
— Ainda não almocei, por isso não comecei a beber... E ei, meu biquíni não é tão pequeno assim. — Virei meu celular para meus peitos, do qual o tecido da parte de cima cobria razoavelmente bem meus seios.
— Eca, não quero ver sua pepeca — reclamou quando eu desci mais o celular.
— Só queria que você visse que estou bem comportada.
Gargalhou e eu não me aguentei e ri junto.
— Você nunca tá comportada, amiga. Não se preocupe, é por isso que te amo. Vai... Me conta as novidades. Já perdeu a virgindade?
Se eu tivesse bebido, teria engasgado de tanto que ri. Ainda bem que o áudio saia pelo fone sem fio e ninguém ao meu redor entendeu qual era a piada.
Olhei ao redor, vendo que as pessoas estavam distraídas em suas próprias vidas e respondi:
— Não sei se existe mais nenhum buraco em mim que ainda é virgem, mas agradeço a preocupação.
— Sério? Não rolou uma investida?
— Kênia... Você conhece seu irmão. Ele me detesta.
— Ele te detesta e sempre detestou porque você sempre deixou claro que gosta dele. Você tinha que ser uma puta sem sentimentos.
Fechei meus olhos por um minuto e me levantei, me sentando na espreguiçadeira e pedindo meu almoço a um garçom. Não queria comer no restaurante fechado quando havia uma parte, ao ar livre, próximo a piscina, que era permitido almoçar e jantar.
Continuava na linha com Kênia e a olhei teclando alguma coisa no computador antes de voltar a sua atenção ao celular.
— Não sei o que eu posso fazer... — admiti. — Totó nada?
— Nada, mas sabemos que ele tem dessas. Some com umas mulheres aleatórias e, do nada, aparece. Ainda não voltou casado...
— Ainda — pontuei.
— Pois é. — Alguém falou alguma coisa para Kênia, fazendo-a desviar seu olhar do celular e responder que seria em dez minutos. Murmurando, ela explicou: — Minha mãe tá no meu pé desde que Dudu foi para o resort com você e Totó sumiu. — Ela era a única que o chamava de Dudu, tinha algo a ver com as primeiras sílabas que ela aprendeu a falar na vida.
— Por quê?
— Ela acha que eu não entendo o que estou fazendo na empresa.
— É um pouco complicado mesmo...
— É, mas eu sei o que eu estou fazendo.
— Mas não deixa de ser difícil.
— Mas... — Minha amiga começou.
— Eu sei, amor — a cortei, me adiantando. — Você sabe o que está fazendo. Apoio que jogue na cara da velha que você é mais eficiente que o babaca primogênito.
— Eu sou mesmo!
— Tenho certeza disso.
— Amiga...
— O quê?
— A resposta é álcool, Isa.
— Oi? — perguntei.
— Embebede meu irmão.
— Isso seria abusivo... — disse, franzindo meus olhos, tentando entender o raciocínio dela.
— Eca! Não! Não tô pedindo pra você embebedar o cara e transar com ele, tô falando pra você embebedar ele que ele ficará mais... tranquilo. Sabe, menos um humanoide e mais um ser humano?
— Não sei se ele consegue deixar de ser robô — admiti.
— Com a quantidade certa de álcool, todo mundo consegue.
Eu ri e agradeci a dica.
— Se tiver alguma novidade de Totó, me avise... — comecei a me despedir, mas vendo a expressão estranha do rosto dela, continuei: — Que cara é essa?
— Não sei se quero que você embebede um irmão meu e mate o outro.
— Às vezes acho que eu poderia matar Eduardo também.
— Não sei se fico tranquila com isso. — Ela ria e eu acompanhei seu riso. — Eu mesma quero matá-lo, sabe?
— Quem? Totó ou Eduardo?
Kênia abriu a boca e depois fechou de novo.
— Não sei, os dois, eu acho. Fiquei confusa.
— Podemos organizar juntas, que tal?
— Um duplo homicídio? — perguntou ela.
— Não seria interessante?
— Amei! Topo a ideia.
Rimos ainda de mais loucuras e antes que eu percebesse, estava almoçando com Kênia ainda na linha enquanto ela trabalhava. Apenas quando precisou entrar em reunião, desligou a chamada. Terminei de almoçar e liguei para meus pais, que me mandavam mensagens.
Voltei para o meu quarto apenas no fim da tarde para tomar um banho, trocar de roupa e sair de novo. Às pouco mais de nove da noite, voltei e, dessa vez, Eduardo estava no quarto, deitando em uma poltrona na varanda.
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O Caminho Ao Lobo [hiato]
RomanceAos quarenta anos, Lobo era conhecido por muitos nomes, dentro e fora de casa, mas nunca de que não mantinha a sua palavra e o que ele prometeu, em nome de sua família, era de que haveria um casamento. Se não havia noivo, ele próprio seria um. Se ca...