Atravessei os corredores com passos firmes, rápidos. Cada passada fazia meu coração bater mais forte, mais pesado, como tambores de guerra ecoando dentro do peito. Minhas longas mangas se movimentavam juntamente, como uma dança quase sensual. Mas eu estava com raiva. Acho que depois de tantos anos sendo mantida como uma princesa fraca e indefesa, minhas armaduras começavam a desmoronar.
Eu estava tão exposta e frágil naquele momento.
O castelo, que antes respirava solenidade, agora parecia decadente. Servos passavam por mim cabisbaixos, alguns abaixando os olhos, outros apenas observando de canto, como se soubessem exatamente para onde eu ia, e o que encontraria lá.
Não era uma surpresa que todos aqui sofreram muito com a morte do meu pai. Fazia quase um mês que o enterramos e que, meu primo, Charlos, assumira o trono. Mas ele não vem se mostrando tão benevolente conosco quanto todos imaginávamos.
Eu o conheço desde que éramos crianças, ele, um pouco mais velho que eu, mas nunca mudara, sempre uma criança desprezível e que não ligava para nada que não fosse consigo mesmo. Ele nunca deveria ter se tornado rei, afinal, jamais seria em seu próprio reino. Charlos é filho de um lorde abastado, Ezequiel III, mas não é o primogênito. Me surpreende que o trono tenha sido passado para ele, e não para algum de seus três irmãos mais velhos.
Minhas suspeitas são que ele tenha tido ajuda e algum dedo muito bom nisso. Ahrgus, claramente compartilha dos mesmos pensamentos que eu, mas se abstém de falar. Ele é um homem inteligente, já viveu tempo o suficiente para saber que isso nao é um jogo, não quando se trata de um reino tão afortunado e disputado como esse.
Brewaelum, o reino que tem sido lar da minha família, Ithoria, durante mais de cem gerações. Nunca caiu, nunca fora invadido, e que guarda grandes tesouros de guerras passadas e riquezas nos depósitos reais. A economia daqui movimentavam a maior parte do mercado da região e de Amsberg, que abriga outros três reinos, pequenos vilarejos e duas capitais.
Quando finalmente chego, logo percebo. As portas dos aposentos de Charlos não estavam completamente fechadas. Luzes tremeluzentes escapavam pelas frestas, misturadas a sons... risadas... gemidos.
Meu estômago se virou antes mesmo de tocar as mãos nas maçanetas douradas.
Empurrei as portas com força. Elas se abriram batendo contra a parede, fazendo um estrondo que interrompeu, por segundos, aquela cena grotesca.
Ali estava ele.
Charlos.
Deitado na cama que, até poucos dias atrás, pertencia ao meu pai. A mesma cama onde o rei Eirwen Ithoria passou seus últimos dias de vida. Agora, aquele leito estava profanado por corpos entrelaçados, pele exposta e o cheiro nauseante de vinho derramado, perfume barato e sexo.
Duas mulheres. Prostitutas. Nuas. Uma sentada sobre ele, rindo, a outra deitada ao lado, com a boca vermelha demais e marcas de mordida pelo corpo.
Charlos usava apenas uma camisa de linho aberta no peito, coroado, como se isso por si só o tornasse rei. Uma mão segurava uma taça de vinho, enquanto a outra apertava sem pudor o quadril da mulher sobre ele, logo descendo para a carne rechonchuda de sua bunda.
Quando me viu, não se deu nem ao trabalho de disfarçar. Apenas ergueu uma sobrancelha, relaxado, como se minha presença fosse um simples incômodo no meio da sua diversão.
— Ora, ora... veja só quem resolveu sair do ninho — disse, levando a taça aos lábios. — A princesinha chorona.
Reprimi a vontade de cuspir as palavras e ofensas presas em minha garganta. Jamais proferi um insulta a alguém antes, mas estava me segurando para nao fazer o mesmo com Charlos. Sim, ele era meu primo. Sim, era um homem respeitado no norte, pela sua família e temido pelo seu povo. Mas isso era insano!

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Pact with darkness
Romance(Nova versão disponível!) Conteúdo adulto| Monster romance com demônio +18| Quando a morte do rei mergulha o reino em caos, a princesa Elysie se vê sem saída. Cercada por inimigos, traída pelo próprio sangue e prestes a perder tudo, ela descobre uma...