Ele falava estranho, andava estranho e gesticulava estranho. Não era algo que rendia um charme exótico ou que passava a impressão de alguém diferenciado. Estava mais para um comportamento, ainda que inofensivo, grotesco e pesaroso, que mantinha os outros à distância. Ele não gostava disso. Ser sozinho. O isolamento o fazia perguntar sobre por que existia.
Durante a virada do ano, havia prometido parar de fumar, beber e pensar na mulher que o abandonara anos atrás, meses depois, obviamente, estava fumando, bebendo e pensando nela. Sabia exatamente o que tinha dado errado, o que a levou a ir embora.
Cuspiu fumaça na tela do celular enquanto assistia um anime. Se perguntava por que não tinha a determinação daquele protagonista. Esforço máximo em treinamentos para conseguir virar rei dos piratas, hokage, rei mago ou ninja. Ele nem conseguia ter energia para tomar banho todo dia ou fazer uma faxina na kitnet em que vivia. Estava deitado no chão, cercado de bitucas de cigarros, sacos de Doritos e latinhas vazias de Itaipava.
Em teoria, ele não deveria estar bebendo nada alcoólico. O tratamento e os remédios exigiam dele a sobriedade, mas o transtorno bipolar pedia por mais uma lata. Bem, o transtorno sempre vence.
Tinha algo em mente: ser outra pessoa. Era o que mais queria, mas não sabia como fazer. Entendia que o que ele era não era o suficiente; um homem tinha que ter compromisso com as suas responsabilidades, mas ele tinha dificuldade com isso, então ela foi embora e arranjou alguém melhor.
Bêbado, dormiu no chão com um cigarro queimando os dedos e o celular no rosto.
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BI
General FictionImagine o que sentir que a sua personalidade é algo inapropriado para o mundo?