Capítulo 1

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Christofer Bang

Me resumindo em algo, apenas, sou um pobre e fodido.

Sou um mecânico e ter essa profissão 'num bairro não tão rico de São Paulo é decepcionante pra caralho, um monte de burguês que vi arrumar o carro prefere passar diretamente por você com cara de quem chupou um pau e não gostou, isso é honestamente cansativo.

Vontade de mandar geral tomar no cu é que não falta, mas por amor ao meu emprego ── e logicamente ao dinheiro, eu não faço tal ato.

Tá, mas porque falar do meu trampo? Bem, agora eu tou' morrendo de fome, enquanto eu terminava de pintar o carro vermelho luxuoso, Jorginho, meu parça que tava' sentado na cadeira com uma latinha de skol na mão.

── Meu nobre, tou' precisando matar a larica ── Jorginho disse fumando o cigarro de maconha pendurado em sua boca.

Com o Jorge, ou o Jorginho como eu chamo, só da eu e ele falando mal de todo mundo o mesmo tem sotaque carioca, afinal ele na real é do Rio de Janeiro e é um canalha, papo reto.

── Eu também, fome do caralho. E, cuidado, se o chefe vê você fumando ele te mata, da última vez ele ficou de sacanagem só vendo uma latinha ── Digo largando meu boné falsificado da nike e o deixando no chão.

── Namoral, quando eu tou' com fome eu preciso de qualquer coisa no bucho, mesmo que seja cerveja, o que não mata engorda ── Disse o maconheiro tragrando uma.

── A diferença é que mata ── Digo bebendo da minha própria cerveja.

──  Cala a boca ── Jorginho rolou os olhos - Vai buscar alguma coisa pra gente aqui na padaria padaria do seu Zé e eu fico aqui cuidando do carro.

── Padaria do seu Zé? Eu nunca fui lá, só peço no ifood ── Digo erguendo a sobrancelha.

Quando eu vou pedir só vou pedir as comidas em promoção, sou pobre, mas não sou de ferro.

──  Foda-se ifood, irmão, eu tou' com você e você a mesma coisa, a padaria fica a uns 9 minutos, larga de ser preguiçoso ──  Jorginho resmungou tragando uma.

──  Tanto faz, preciso matar a larica logo  ──  Digo voltando a colocar meu boné, peguei meu Samsung, coloquei ele no bolso ── Marca um dez.

Saí andando com meu uniforme manchado de gracha mesmo, atravessei uma rua e logo vi, a simples padaria padaria seu Zé, aquela típica com apenas quadros com imagens religiosas, balcão, mesas e logo atrás a cozinha, com o principal sendo um forno que parecia até que ser moderno, além do 'caixas que ficava no lado oposto do balcão.

Entrei e vi que apesar de simples, a padaria estava lotada, uma criança banguela com a blusa do patrulha canina corria pelo local.

── Enzo, fique sentando ── Um velhinho de cabelos grisalhos e barriga levemente saliente disse, ele arrumou o óculos e tinha um crachá. "ZÉ", então ele era o seu Zé.

A música de fundo era uma qualquer do Seu Jorge, olhei para o balconista que atendia, anotava e ia até a cozinha informar, e santo destino, eu vi um anjo?

Olhei para um ruivinho que atendia as pessoas com cara de poucos amigos, ele tinha um risco na sobrancelha ── igual o meu ── cabelos longos, olhos que parecem de um cachorro vira-lata, um puta sorriso lindo e a corrente brilhava, um anjo talvez seja pouco, ele parecia um curupira do bem, algo celestial.

Tipo, se eu fosse mulher ou vice-versa, concerteza pegava ele, numa boa.

Pera lá, do que eu tou' falando? Sou hetero, papo torto do carai.

Não ao previsível • Stray kids Onde histórias criam vida. Descubra agora