O fantasma da costa sempre havia sido uma dúvida para todos os olhares curiosos que o vissem ali em um fim de tarde onde o céu estava cinzento e havia neblina.
-Ele não aparece para todos.- Dizia o velho Ben, um dos poucos homens que havia de fato chegado a ver o fantasma. Ninguém sabia dizer se era uma mulher ou homem, ou se sequer era humano, apenas diziam que havia uma onda de tristeza envolta da pobre alma, que encarava o mar como se o lugar dele fosse ali. -Dizem que é uma das almas atormentadas que não encontraram o caminho para o paraíso.
-Isso é impossível. Fantasmas não existem.- Uma das crianças do círculo de pessoas envolta de Ben disse, usando um tom arrogante e entediado.
As outras crianças viraram a atenção delas para o menininho por poucos segundos, mas, como se não vissem o garoto, logo voltaram a atenção para Ben, cujos olhos brilharam ao conseguir ouvir o que o garotinho havia dito.
-O impossível existe apenas em mentes pequenas, criança.- Ben disse calmamente, se virando de costas para o garotinho depois de olhar para ele uma última vez e continuando a contar a história para as outras crianças que estavam ali e que ouviam atentamente tudo o que ele dizia.
O garoto se levantou da areia, limpando as roupas dele e se afastando do grupo em passos pequenos.
Ele passou por algumas almas que observavam o lugar e o mar, todas distraídas demais para notarem o garotinho chegando perto da costa.
-Fantasmas não existem.- Ele repetia, murmurando várias vezes a mesma coisa e olhando para o mar, não percebendo a presença ao lado dele.
Ele virou a cabeça devagar, tirando algumas mechas do cabelo loiro dele do rosto e olhando para a figura ao lado, com o rosto pálido e sem vida, a pele branca como se não tivesse mais sangue no corpo e os olhos vazios.
A figura usava apenas um manto cinza velho e estava descalça, mas não movia sequer um músculo. Os olhos azuis da figura estavam fixados no mar, e o garotinho tentou ver o que a figura também via, mas não havia nada no mar além de ondas calmas.
-Há algo ali?- O garotinho perguntou, olhando para a figura curiosamente e depois de volta para o mar.
A figura não o respondeu, e seguindo o vento se desfez em poeira, indo na exata direção em que estava olhando antes.
O garotinho encarou o lugar por alguns segundos antes de caminhar novamente para onde antes estava o grupo de crianças e o velho Ben, mas que haviam desaparecido de lá assim como as outras almas, como se seguissem o vento que bagunçava o cabelo loiro do menino.
(Inspirado em "The Ghost on the Shore", de Lord Huron.)
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Lost Souls
Short StoryO fantasma da costa sempre havia sido uma dúvida para todos os olhares curiosos que o vissem ali em um fim de tarde onde o céu estava cinzento e havia neblina.