The way I loved you - Javier Peña

10. Palácio em chamas

Nina não sabia o que tinha na cabeça quando concordou com aquilo.

Estava sentada na sala de estar da casa dos pais observando enquanto sua mãe perdia a cabeça arrumando os últimos detalhes do jantar. A mulher que naturalmente já era um poço de tensão e estresse estava um milhão de vezes pior naquele momento.

Nina mantinha-se em silencio, estava tentando ao máximo não chamar a atenção da mais velha, pois a ultima coisa que precisava naquele momento era ouvir algum sermão sem sentido. Ela devia ter pensado melhor antes de fazer a boa samaritana e aceitar o convite dos pais, deveria saber que havia algo por trás da gentileza premeditada.

Alisou o pequeno amassado que começava a surgir em seu vestido e torceu para que sua mãe não visse aquilo. Tudo tinha de estar perfeito. Desde a comida até qualquer resquício de poeira que rondava o ar. A garota não sabia ao certo o que esperar do convidado misterioso dos pais, mas sabia que deveria ser alguém importante. Importante o suficiente para fazer sua mãe arrancar os cabelos de estresse.

Quando a campainha tocou Nina viu os olhos de sua mãe saltarem, a mulher gesticulava freneticamente para que ela se levantasse e fosse atender a porta, por mais que houvessem dezenas de empregados que poderiam fazer aquilo por ela. Preferiu não discutir e dirigiu-se calmamente a porta de entrada.

O rosto lhe era familiar, apesar de ele parecer um milhão de vezes mais bonito naquele momento do que no dia em que se conheceram. O rosto anguloso, com uma mandíbula forte coberta por uma barba espessa e grisalha e maças do rosto marcantes, era adornado por olhos castanhos expressivos e penetrantes. Os cabelos grisalhos e encaracolados eram a pitada final para completar o charme evidente do homem a sua frente.

Uma expressão de surpresa passou rapidamente pelo rosto do homem a sua frente, mas ele logo a substituiu por um sorriso enorme e confiante.

-Nina, eu não esperava vê-la novamente. -estendeu a mão lentamente com a intenção de que a garota a apertasse. -Acho que seu pai esqueceu de mencionar que você viria.

-Ele é muito bom em ocultar coisas, Senador.

A ruiva rapidamente acompanhou o homem até a sala de estar, de repente ela começou a achar que o pequeno amaçado em seu vestido talvez não fosse assim tão pequeno. Detestava que existissem pessoas que conseguiam fazer com que ela se sentisse tão hiperconsciente. Ele era só um homem importante dentre os vários homens importantes que ela já havia conhecido durante toda sua vida, não deveria causar todo aquele incomodo nela.

Segurou um suspiro nada contido quando seu pai finalmente a livrou da visita. Aquilo era uma armadilha de algum tipo, ela só não conseguia entender ainda qual. Quer dizer, até passava por sua cabeça que seus pais estivessem tentando fazer com que os dois ficassem juntos, mas não existia nenhuma razão lógica para aquilo.

Além de poder.

Arthur estava tentando fazer uma jogada política, e a estava usando para aquilo, ela só não sabia o motivo. Não era exatamente incomum que seu pai confraternizasse com figuras politicas da Colômbia, mas ele não tinha realmente nenhum apreço por nenhum daqueles homens. E Arthur estava deixando descaradamente claro o quão importante para ele era aquela nova amizade.

Agora Nina percebia que toda aquela insistência para que fosse ao Palácio da Justiça era estranha demais, sem mencionar o jantar relâmpago no meio da semana. A garota só parou de divagar quando percebeu que sua mãe a encarava ansiosamente enquanto sentavam-se a mesa de jantar.

-Oscar lhe fez uma pergunta, querida. -a veia na testa da mulher mais velha estava saltada devido ao estresse.

-Poderia repetir, por favor. -sentiu suas bochechas esquentarem.