O garoto que (felizmente) não desistiu

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Era mais um daqueles dias monótonos para Taesan, onde ele se sentia uma máquina trabalhando no piloto automático. Não podia dizer que estava cansado de viver o mesmo dia repetidamente como se estivesse aprisionado em um loop, porque se considerava incapaz de sentir qualquer coisa, até mesmo quando o céu estava cinzento e ameaçando chorar uma tempestade, como naquele momento em que ele estava solitário naquele banco do metrô, muito mais silencioso do que o comum.

Havia outras pessoas mais afastadas dali, cabisbaixas, mais concentradas em ler um livro ou deslizar o dedo pela tela do celular. Ninguém estava vivendo o momento, até porque não tinha o que ser vivido. O metrô parou de repente, mas aquilo não bastou para que todos voltassem à triste realidade. Talvez estivessem fugindo dela.

Uma menina de longos cabelos pretos balançava levemente a perna no ritmo da música que tocava em seu headset. O senhor de idade ignorava a boina caída para continuar lendo seu livro de poesia. Eram as únicas coisas que podiam capturar a atenção de Taesan, já que sua vida não era suficientemente interessante, obrigando-o a focar mais na vida alheia. Ele não se sentia o protagonista de sua própria história e estava crente de que seria assim pelo resto de seus dias. Aquela sensação o acompanhava e, com certeza, morreria com ele.

O metrô permaneceu parado durante cinco minutos, sem motivo aparente e sem nenhuma mudança, até que o sinal que indicava que as portas estavam prestes a se fechar soou, e um garoto foi rápido em se esgueirar para dentro antes de ser prensado, como uma emocionante cena de filme de ação. Ele carregava uma mochila nas costas e uma mala de rodinhas, além de uma câmera contornando seu pescoço.

Ele aparentava ser da mesma idade de Taesan, e não foi nada discreto enquanto tateava cada parte do corpo meio desajeitado, como se estivesse conferindo se ainda estava vivo. Com um suspiro de alívio, reuniu seus apetrechos e se sentou ao lado de Taesan, respirando alto e de maneira incômoda. Aparentemente, ele havia corrido muito para conseguir alcançar o transporte, e agora estava ameaçando roubar todo o oxigênio dele.

"Então era ele que o universo estava esperando" — Taesan pensou.

O rapaz puxou o telefone da calça moletom e procurou um contato específico antes de realizar uma ligação ali mesmo, mas todos estavam tão desanimados que sequer se importaram com a barulheira emitida por ele.

— Sungho, você não vai acreditar! — ele começou a dizer — Eu consegui chegar a tempo! Pensei que não conseguiria, fiquei tão cansado de correr e cogitei desistir no meio do caminho.

E permaneceu tagarelando por alguns minutos antes de encerrar a chamada, guardando o aparelho no bolso novamente para voltar sua atenção a Taesan, que tentou evitar contato visual para que o estranho não iniciasse uma conversa, já que ele era péssimo em continuá-las. O menor o analisou como se estivesse lendo uma revista e assassinou suas esperanças quando perguntou:

— Você é escritor?

— Como você sabe?

Taesan ficou impressionado pelo palpite certeiro, mas o outro deu de ombros, como se já estivesse acostumado a adivinhar tudo sobre as pessoas.

— Você não escreve histórias tristes, certo? — perguntou, torcendo para que a resposta desmentisse sua dedução sobre o maior.

— Escrevia. — o Han suspirou.

— Por que não escreve mais?

— Porque a realidade já é deprimente demais, e a ficção não precisa ser também.

Aquela resposta pareceu ter pegado o estranho desprevenido, pois foi possível perceber seus lábios se abrindo para falar algo, mas logo se fechando novamente.

— Você é fotógrafo? — esforçou-se para prolongar o diálogo.

— Ainda não. — demonstrou empolgação genuína diante do interesse alheio — Faço faculdade de fotografia e tiro algumas fotos de vez em quando.

Ele segurou firmemente a câmera e ajeitou a lente, aproximando um olho no visor enquanto o outro se fechava. Assim, ele tirou uma foto de Taesan sem sequer pedir permissão, e o mesmo não soube como reagir, especialmente quando notou a expressão do garoto admirando a foto tirada. Não sabia se estava orgulhoso de seu trabalho ou apreciando a aparência do Han.

A resposta veio em seguida, após o menor mostrar a ele o resultado, do qual ele gostou bastante.

— Não consegui resistir. Você é bonito.

Nenhuma reação conseguiu ser expressa outra vez. Taesan não costumava receber elogios porque as pessoas o consideravam intimidador demais para se aproximarem, mas o garoto atrasado do metrô parecia não ter medo de nada, fazendo tudo que tinha vontade sem hesitação. Nunca tinha conhecido alguém assim, que gostasse tanto de viver.

— Posso ler o que você escreve? — o estranho perguntou após guardar a câmera.

Taesan retirou de sua bolsa seu caderno de poemas e entregou nas mãos quentes do garoto, que emitiu um som pela boca após experimentar a frieza das mãos do mais velho. Eles mesmos sabiam que criavam um contraste perfeito.

Ele transparecia interesse, lendo atentamente cada palavra e pontuação desde que abriu o pequeno caderno. Na primeira folha, possuía seu nome verdadeiro e o nome artístico que havia criado e preferia ser chamado, além de seu número de telefone, caso perdesse aquele objeto, e algumas outras informações.

Após um momento de silêncio, o menor suspirou enquanto arrastava a ponta dos dedos pelas folhas levemente amareladas, como se todos os sentimentos marcados no papel com a tinta preta da caneta preferida de Taesan tivessem invadido o corpo dele.

— Você escreve as coisas mais bonitas do mundo, Han Dongmin.

Talvez pudesse começar a gostar mais de seu nome após ouvi-lo ser pronunciado pelos lábios do garoto do metrô, que era completamente diferente de si, que tinha uma percepção de mundo admirável. Taesan desejou ser um pouco mais como ele, mesmo que ele estivesse fingindo e romantizando dores secretas que seu coração gritava apenas antes do amanhecer.

Antes que o destino dele se aproximasse, Taesan pegou sua caneta, anotou seu próprio número no canto inferior daquela folha e a arrancou impiedosamente antes de entregá-la para o garoto. Ele a pressionou contra o peito, agindo como se aquele fosse o presente mais simbólico que já havia recebido, e talvez fosse mesmo.

Logo mais, o metrô parou e as portas se abriram, mas dessa vez, o garoto não precisou sair correndo feito um maluco. Ele ajeitou a mochila nas costas, segurou o cabo da mala com a canhota, enquanto a destra segurava o papel com todo o cuidado do mundo, e então ele se virou com um pequeno sorriso de despedida.

Bastaram apenas alguns instantes após sua ida para que o celular de Taesan vibrasse em seu bolso, e curioso, ele o pegou, verificando a mensagem pela barra de notificações na tela de bloqueio.

[Número desconhecido]
Oi, escritor :)
Costumam me chamar de Leehan
Mas meu nome é Kim Donghyun

Você
Prazer, Donghyun
Seu nome é lindo

metrô • gongfourzOnde histórias criam vida. Descubra agora