Eu estava em casa me preparando para mais um baile. Rosa ou azul? Bordado ou liso? pérolas ou diamantes? Foram questionamentos desse tipo que eu ouvi minha mãe fazer a semana toda. Não que eu estivesse velha ou fossemos pobres para que minha mãe quisesse me arrumar um marido com tanta urgência, mas ela era tradicional demais, se casou quando tinha 16 anos e na época algumas pessoas diziam que ela já tinha passado da idade, iria ficar para titia a pobrezinha.
Eu tinha 20 anos e minha vó achava um ultraje que eu ainda não tivesse me casado, ela ficava se perguntando "mas o que essa menina tem de errado?" "será que ela não é bonita o suficiente?" "será que não á educamos bem o suficiente?" Não. isso era impossível. Eu tocava Mozart quase tão bem quanto o próprio Mozart, eu sabia matemática melhor do que muitos homens que frequentam a universidade, eu leio de romances a filosofia, eu danço e ainda canto, sei todas as regras de etiqueta. O problema não estava na minha educação, tão pouco na minha aparência.O problema era que os livros me fizeram sonhar demais, e ainda tinha ele.
— Clarisse! Largue esse livro agora. Não é possível que você ainda não tenha começado a se arrumar para o baile minha filha, sabe como ele é importante!
— Importante para quem mamãe?
Eu não me importaria de viver minha vida como uma solteirona que está sempre com um livro por perto. É claro que eu queria viver um romance, me apaixonar tão enlouquecidamente por alguém ao ponto de só de olhar para ele perder o ar. Eu queria isso, e eu já tive isso. Eu não sou pobre, mas imagino que um duque saiba que deve se casar com alguém que tenha um pai com um título, e quando ele soube que meu pai quando vivo não possuía um, talvez tenha achado melhor se afastar sem nem sequer se despedir.
— Mocinha! não seja impertinente. Ande, se arrume, você precisa estar no seu melhor para hoje.
— Não entendo o que tem de tão especial nesse baile.
— É o primeiro baile da temporada Cice, e a rainha é sempre a anfitriã do primeiro baile. Não é sempre que nós somos convidadas para o palácio - Eu pensei que ela tinha acabado o discurso, mas é claro que ela não tinha acabado - e além disso, a rainha sempre chama os melhores cavalheiros para seus bailes, e eu fiquei sabendo que haverão muitos solteiros! Quem sabe você se interessa por alguém.
Duvido que eu fosse me interessar por alguém, já fui em bailes o suficiente para perceber que a maioria dos homens de minha idade não querem se casar, mas entram no mercado de casamento por alguma obrigação familiar. Quanto aos que realmente querem se casar, a maioria tem idade o suficiente para ser meu pai. Se ele estivesse aqui, com certeza me deixaria esperar mais um pouco. Mas ele não estava, e pelo bem dos meus ouvidos eu comecei a me arrumar.
Alguns dias atrás eu passei a tarde inteira na modista com minha amiga Rebeca, a família dela também foi convidada para o baile da rainha e nós fomos fazer nossos vestidos. Em meio a muitas fofocas da alta sociedade eu optei por um vestido rosa. Ele não era muito extravagante mas era lindo. Era de um rosa suave com alguns detalhes em dourado e um decote bem generoso para segundo minha mãe, exibir minhas melhores qualidades para os cavalheiros certos.
— Aumente um pouco o decote.
— Mãe! — Eu já estava começando a ficar envergonhada. O vestido era lindo e o fato de não ser algo exagerado me agradava, mas se a modista descesse o decote mais um centímetro que fosse eu me recusaria a usar aquilo. Graças a Deus, a modista pareceu notar meu desespero.
— Senhora Albuquerque, eu creio que aumentar o decote não seja uma atitude muito sabia. Caso eu aumente, as pessoas poderão acusar a senhorita Clarisse vulgaridade. Você sabe como as pessoas adoram falar.
Eu adorava a Madame Camille. Ela nunca se casou e sempre estava feliz. Além disso sempre sabia o que estava acontecendo com os membros da alta sociedade.
Minha mãe concordou com ela após pensar um pouco e por sorte me deixou continuar na modista com Rebeca. Todas as decisões sobre meu vestido já haviam sido tomadas mas Rebeca ainda estava com dúvidas a respeito da cor. Minha mãe não gostava que eu ficasse fora de casa sem ela ou a dama de companhia mas a dama de Rebeca prometeu me deixar em casa em segurança.
— Por que não usa verde? Sempre fica linda de verde.
Rebeca era ruiva, com uma pele tão clara que qualquer um diria que ela nunca viu a luz do sol. Ela me lembrava as protagonistas dos livros de aventura que eu lia, sempre lutando contra algum monstro para salvar quem ama. No caso, ela estava lutando contra si mesma para salvar sua família. Ela precisava de um marido rico o mais rápido possível. Seu pai o Visconde Bardo, perdeu toda sua fortuna em jogos de azar há alguns meses e eles tem mantido seu estilo de vida com alguns poucos alugueis que ele possui, mas está começando a ficar difícil pagar os empregados, e apesar de todos os esforços para esconder a verdade, as pessoas estão começando a comentar.
— Linda não é o suficiente Cice, eu preciso estar encantadora o bastante para atrair o cavalheiro que vai salvar minha família da ruína. — Rebeca sonhava em se casar, procurar por pretendentes não era algo que a aborrecia, o que estava a aborrecendo era a falta de tempo e Rebeca precisava de tempo para encontrar um cavalheiro que além do dinheiro tivesse gentileza, a respeitasse e se interessasse genuinamente por ela. Se apenas o futuro dela estivesse em jogo, ela não se importaria em esperar mais duas ou três temporadas até se casar, mas sua família a estava pressionando e seu senso de dever a obrigava a encontrar um cavalheiro rico que estivesse disposto a ajudar sua família ainda nesta temporada, o que infelizmente, fazia ela deixar critérios como gentileza e interesse em segundo plano. — Já tenho as joias que irei usar então preciso que o vestido combine com elas. Estou em dúvida entre esses dois, o que acha?
Os dois vestidos já estavam parcialmente prontos e ambos eram verdes. O primeiro vestido era de um verde desbotado com renda, era bonito, mas o segundo iria deixar Rebeca deslumbrante.
— Esse aqui — apontei para o segundo — Você ficará tão linda que vão te confundir com uma princesa.
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Querido Duque
RomanceClarisse poderia ser como qualquer outra jovem de 1817, ansiosa para encontrar um cavalheiro e ser feliz ao seu lado, mas as lembranças de um duque que ousou desonra-la da maneira mais deliciosa possível e depois ir embora sem se despedir, a atormen...