Honra no Oeste

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Oeste Selvagem, Fevereiro de 1886

— Encontrei você, finalmente. — Respiro fundo, vendo o homem à minha frente.

  Há lendas sobre este homem em cada canto do oeste selvagem, uma delas é que, apenas com sua presença, o ambiente esfria, e acabo de ter a confirmação vendo o ar quente saindo das narinas dele. A temperatura deveria estar em trinta e quatro graus celsius hoje.

  — Por que estava me procurando, criança? — ele pergunta, surpreendentemente demonstrando interesse. Seus olhos estão cravados em mim, como se estivesse aguardando um mínimo movimento hostil.

  O vento balança os cabelos ruivos daquele que todos chamam de “Carrasco Selvagem”, suas roupas maltrapilhas são exatamente como nas histórias dos Bulletwoods: camisa, calças e botas marrom-escuras e, por cima de tudo isso, um longo poncho negro.

  — Você me deve uma explicação, mercenário. Algo que aconteceu há dez anos — eu exijo, pegando vagarosamente o revólver da minha cintura com a ponta dos dedos, e o colocando no chão, então eu levanto de leve as mãos.

  Ele, por um segundo, arregala os olhos. — Você é o filho dos Middletons.

  — Desde quando um mercenário lembra de um trabalho, senhor Doc Richard? — Eu expresso a mágoa e o rancor pela minha face.

  — Nunca esqueci nenhuma das vidas que tirei, especialmente as dos seus pais.

     Dez anos atrás…

  Sentado perto da fogueira, fico imaginando os agentes da lei em seus cavalos enfrentando criminosos. Com meus bonecos de madeira nas mãos, eu faço sons bobos de tiros: — Pow, pow e pow!

  — Santo Deus! — Ouço papai exclamar, seguido de um som de lenha caindo no chão.

  — Esconda Dick, rápido! — A voz da mamãe parece desesperada.

  Eu me viro e, no mesmo momento, papai me pega no colo, correndo para as escadas, então sobe para o segundo andar. 

  — Filho, fique debaixo da cama, não saia por nada neste mundo! — Ele acaricia minha cabeça antes de me fazer ficar escondido. Confuso, eu só aceito, ficando em silêncio.

  — Querido, ele está parado lá fora — Ouço mamãe entrar no quarto, ela está chorando? — O que vamos fazer? Achei que fosse ser um cobrador qualquer, mas ele…

  Passos pesados descem as escadas, é o papai. Mamãe o segue, seus passos são mais rápidos. O engatilhar de uma arma chega nos meus pequenos ouvidos, papai vai matar alguém? É o homem que está lá fora? Quem é ele?

  — Por favor, vá embora, Carrasco! Não temos o dinheiro do Vanlaine! — papai grita.

  Carrasco?

  Alguém abre a porta pelo lado de dentro.

  O som de um tiro machuca meus ouvidos. Então mais um, seguido do som de algo caindo no chão de madeira da casa.

  — Demônio! — O engatilhar de arma mais uma vez, junto da voz engasgada da mamãe.

  Um tiro, dois tiros, três tiros. Silêncio. Ouço os passos da mamãe saindo da casa. Um disparo, e silêncio outra vez.

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