Amigos

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Um silêncio ultra desconfortável se instalou. Mesmo desagradável o paulista não queria deixar o amigo sozinho com o loiro, foi numa situação dessas que as profanidades foram ditas com tanta clareza da outra vez e o paranaense dormiu chorando com aquilo. Se sua presença ajudasse de alguma forma, ficaria.

Sul estava virado para o balcão fazendo seu chimarrão, mas volta e meia lançava olhares para os outros dois. Olhares predadores. Realmente eles eram amigos. Isso lhe era claro.

— Que foi idiota? — Paraná não aguentou. — Tá olhando tanto porquê? — Sorria irônico. Usou a mesma frase que ele. — Apaixonou?

Viu claramente a paciência do gaúcho quebrando dentro dele. Era quase audível. Sul se virou absolutamente agressivo, lançou um olhar rápido para SP, ponderando se valia mesmo a pena explodir daquele jeito na frente dele. Era da mesma raça que o menor, valia a pena sim, já não o suportava.

— Olha aqui boiola. — Bateu forte na mesa. — Eu não sou que nem tu que fico me atirando desse jeito pros outros. — Aproximou o rosto dele ameaçador. — Ainda mais pra homem. — Falou com nojo.

Paraná distorceu a cara desagradado.

— Mas vai em puteiro seu depravado! — Se levantou absolutamente irritado o enfrentando.

São Paulo viu estarrecido tudo aquilo e genuinamente temia pelo amigo. Ele não tinha noção do próprio porte físico não?! Puta merda! Viu o gaúcho mover as mãos como quem quer esganar um.

— Pelo menos eu como mulher de verdade! E elas saem pedindo por mais!

— Se sua masculinidade é baseada nisso então que pobre homem tu deve ser! Se cortar teu pinto fora tu vira mulher é?

— Não! — Bateu forte na mesa de novo. — Eu ainda vou ser mais homem que tu! Que dá a bunda na esquina!

— EU NÃO DOU A BUNDA NA ESQUINA!

— É verdade. — Se afastou um pouco sorrindo cruel. — Deve ir com teu namoradinho aí transar às escondidas.

— Deixa o Paulo fora disso!

— Porque eu deveria? Tá com ciúmes da namorada?

— Ele não tem nada a ver com o que tá acontecendo entre a gente. — Dessa vez foi Paraná que bateu na mesa com as duas mãos.

— NÃO TEM NADA ACONTECENDO ENTRE A GENTE!

Sul gritou completamente fora de si, assustando os outros dois e a si mesmo. Se virou irritado tentando disfarçar. Desligou o fogão com força desnecessária. Era claríssimo que estava abalado.

— Eu ouvi gritaria aqui. — Norte apareceu na porta com o semblante sério e braços cruzados. Olhou para o irmão. — E pra minha tristeza é a voz do meu irmão. Pode me explicar o que tá acontecendo?

— Não é da tua conta jaguara. — Falou entredentes. Bufava alterado.

— Ele começou a insultar o Sampa também. — Paraná dedurou agressivo.

O gaúcho lançou um olhar absolutamente fulminante para o paranaense. O menor sentiu um arrepio gelado descer pela espinha, pela primeira vez o temendo de verdade.

— Que tipo de insulto? — O potiguar agora se dirigia ao menor com o mesmo tipo de olhar, obrigando-o a responder.

— E-em como eu d-dou a bunda na esquina. — Falou quase sem voz e sentia uma lágrima solitária querer escorrer por sua bochecha. Aquilo machucava afinal de contas.

O nordestino nem titubeou, pousou a mão pesadamente no ombro do loiro o fazendo virar e lhe deu um soco certeiro. O gaúcho recebeu o impacto e se apoiou no balcão para não cair. Fora avisado, não revidaria. Mas puta que pariu aquilo doeu.

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