PRÓLOGO

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Estava se repetindo de novo.
O mesmo sonho novamente vindo a tona da minha mente.
Mas porque eu não acordo? Sei que estou sonhando, tenho consciência disso mas eu não consigo fazer nada. Talvez seja por não ser apenas um simples sonho mas também por ser uma memória viva.
Como todas as vezes sinto alguém me chacoalhando na cama.

— Cat! Cat! Precisamos ir! Vamos, depressa! – Dizia a minha irmã ofegante.

Abro os meus olhos me deparo com Annabel me olhando de uma forma desesperada, com seus pijamas sujos e manchados por cinzas e... sangue. Muito sangue.

— O que você está esperando?! Vamos levante! Temos que ir! Agora! – Falava comigo com os seus olhos azuis claros arregalados e assustados, os cabelos loiros embaraçados, o pijama rasgado e com o braço direito sangrando muito.

— Mas, oque está acontecendo?! Por que está tão quente aqui? Por que você está tão suja e machucada assim? Cadê a mamãe e o papai? – Eu a questionava sem nem se quer dando uma brecha para ela responder, enquanto descia da cama com os pés descalços sentindo o chão quente, ao ponto de quase estar queimando.

— Não há tempo de explicar! Mas você precisa confiar em mim e me prometer que vai me obedecer!

— Mas-

— Mas nada! Apenas me prometa isso Catherinne! Ok?!

Aceno com a cabeça positivamente.
Ela me abraça rapidamente, se abaixando para ficar com o seu olhar na mesma altura do meu.

— C'est bon, d'accord? Tout ira bien pour nous. Je t'aime tellement.
(Esta tudo bem ok? Tudo ficará bem com a gente. Eu te amo muito.)

Ela me disse com os olhos cheios de lágrimas.

— Je t'aime assui Bebel.
(Eu também te amo Bebel)

— Agora vamos. Não solte a minha mão.

Ela entrelaça a sua mão com a minha e saímos do quarto. No momento em que fazemos isso sinto o calor escaldante e o ar abafado, o corredor é quase impossível de se ver ao meio de tanta fumaça. Começamos a andar em passos rápidos, mas com uma certa cautela para não ocorrer de acabarmos nos machucando.
Mais a frente ao meio de tantos quartos e dos diversos corredores da casa, é finalmente possível avistar o fogo. Ele se estendia rapidamente pelas paredes com o calor aumentando cada vez mais. A fumaça cegando a passagem. Comecei a sentir a dificuldade maior de respirar, uma vez ou outra eu tossia e Annabel  fazia o mesmo.

E então vimos a escadaria principal, estava quase impossível de se passar por ela, a cada passo que dávamos respirar se tornava uma tarefa difícil, os olhos ardendo, o suor escorrendo, as paredes e o teto começando a desmanchar.

– Estamos quase lá, só mais um pouco e o conseguimos, pequena.

Quando chegamos na escada, Annabel começou a analisar a escada para descermos.

— Pronto, vá pelo canto do corrimão e em hipóteses nenhuma você encoste nele ou na parede, entend... - Ela não consegue terminar a frase por começar a tossir freneticamente - Enten- Entendido?

Concordo com ela silenciosamente e me aproximo mais um pouco da escada com cautela. Até que quando finalmente vou descer as
escadas, escuto vindo da sala de jantar o barulho da porta de vidro se abrindo.
Olhei para baixo e então vejo aquilo, que me assombra por todos esses anos. Eu a vejo em frestas de portas de armários, sonhos, finais de corredores com a sua forma esfumaçada preta com a única coisa sendo possível de se ver era os seus olhos amarelos brilhantes, com as chamas do fogo a sua volta, mas eram.. verdes.

Como se fosse eu tipo de feitiço, como se as chamas obedecessem a figura.
Os olhos amarelos se encontram com os meus, e então novamente eu me paraliso. O mesmo medo de sempre absurdo vem até mim repentinamente, como se isso realmente estivesse acontecendo de novo, como se eu realmente estivesse lá novamente.. Sinto uma pitada de raiva, como se eu sentisse que nós já nos conhecíamos antes, antes do incêndio... Mas como?
Não me lembro de ter visto nada igual a aquilo na minha vida, porém a entidade me lança um olhar de como se eu fosse o seu maior inimigo e seu maior alvo. Além de que eu sinto remorso como se... Ela tivesse tirado algo de mim. Não só a minha família, mas algo a mais. Eu não sei explicar, mas aquilo me tirou alguma coisa de mim. Disso eu sei.

KIMERA: As chamas por trás da profeciaOnde histórias criam vida. Descubra agora