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POV YASMIN

Mais uma Sexta-Feira, como todas as outras. Desde o controle rígido que a minha intragável "mamãe" estabeleceu sobre cada um dos meus passos, tem sido difícil ter momentos espontâneos de alegria. Eu posso dizer que fui uma criança feliz. Sou uma menina mimada, "filhinha de papai", como eles dizem. Mal sabem eles que meu pai me abandonou há alguns anos atrás e, por esse motivo, a minha vida desandou.

Tenho duas sombras atrás de mim o dia inteiro. Marcos e Bruno, seus nomes. São meus seguranças particulares. Meu pai é um dos homens mais ricos do Brasil e desde que o escândalo de seu casamento fracassado com a maluca da Cristine, estampou todos os portais de fofoca, a mídia tem fixado os seus olhos em mim constantemente. Minha mãe acha que eu não estou no meu juízo perfeito desde que eu fui burra o suficiente para demonstrar que as drogas são as minhas melhores amigas.

Não lembro quando eu comecei a usar, só sei que foi depois que meu pai foi embora. A verdade é que eu nunca me senti pertencente ao meio da alta sociedade Paulistana. Todos aqueles paetês, purpurinas, noites intermináveis de pessoas vazias sorrindo falsamente uma para as outras, as aulas de etiqueta, aquela disputa irritante entre as famílias para saber quem tinha mais posses. Nada disso fazia sentido para mim.

Uma vez fizeram um bolão na casa de um dos amigos do meu pai, onde os presentes deveriam apostar altas quantias em qual dos homens eles achavam que tinha tido o maior rendimento em suas respectivas empresas naquele ano. Me deu enjoo assisti-los reverberando os seus traços de masculinidade e dividindo o microfone para abrir o balanço patrimonial financeiro anual dos impérios que herdaram. Acredito que eu tenha aflorado a minha homossexualidade nesse dia. Meu avô teria achado um ultraje. Aliás, vovô sempre disse que papai participava dessas ocasiões, mas nunca sentia que ele estava verdadeiramente à vontade. Ainda acho que era tudo para agradar a minha mãe. Verme maldito. 

Eu amo o meu avô. Os dois. O pai da minha mãe já é falecido, então cuido da minha avó como se ela fosse meu tesourinho escondido. Assim eu prometi para ele quando nos despedimos. Já o pai do meu pai, seu Herson, é um big querido. Mesmo com o distanciamento deles, foi ele quem mais me abraçou quando o bafafá todo da família recaiu pesadamente sobre os meus ombros. Nós continuamos mantendo contato, mesmo um tanto quanto mais distantes e eu sei que posso contar com ele para tudo. E com os meus tios. Com as minhas tias. Com os meus primos. A minha família, tirando a Cris, é a minha graça da vida. 

Adoraria ter sido uma criança que brincava, que escalava árvores ou sentava de perna aberta, mas isso nunca me foi permitido. Ela tinha uma palmatória que usava em mim todas as vezes que furava algum dos malditos preceitos aprendidos em minhas classes de "Como ser uma dama". Sinto vontade de rir todas as vezes em que tenho pesadelo com o pesado objeto de madeira. Quando o seu Herson via as marcas na minha mão, ele me dava um pirulito. Eu adorava. 

Na adolescência, eu me rebelei um pouquinho. Papai resolveu ter outra família, traiu minha mãe, nos deixou com uma mão na frente e outra atrás e nunca mais deu notícias. No meio dos playboys, alguns encontram um jeito de ganhar dinheiro traficando umas paradinhas. Muitos acham vantajoso fazer isso, já que a polícia tem um padrão de cor para prender os delinquentes, nos quais eles não se enquadram e mesmo que, se por um momento se enquadrarem, os pais deles pagam a fiança do filho empresário. Eu sempre fui tida como descolada no meu círculo de amizades e não poderia deixar de experimentar quando me ofereceram. Não existe o medo no meu vocabulário.

Então eu comprei uma boa quantia de MD, com um dinheiro que algum idiota me manda aleatoriamente todos os meses – É obvio que eu nunca fui atrás dessa pessoa para dizer que ela estava enviando dinheiro para a conta errada. Minha mãe não me dá um tostão e controla todos os meus gastos milimetricamente. Eu preciso de algum luxo, vai. Sou filha de Deus, ainda que esteja já estendida no rebanho dos condenados-, e, na noite em que eu usei pela primeira vez, me senti abraçada, parece que reencontrei o caminho da felicidade, se é que me entendem, e, entre excessos e loucuras, foda-se, nunca mais parei. Estou empenhada em usar todas as drogas do mundo. Posso dizer que conheço de cabo a rabo pelo menos 80% delas.

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⏰ Última atualização: Mar 23 ⏰

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