Saio do táxi e fecho a porta do carro. O motorista estacionou um pouco longe da entrada da mansão então terei que andar os metros que faltam a pé, pois ele se recusou a se aproximar.
Carrego minha mala no ombro. O peso fazendo meu corpo tombar um pouco para a direita. Nela estão algumas roupas que tenho, além alguns livros que trouxe junto para o caso de ter algum tempo livre.
O que acho que não terei.
A mansão Fontana fica em um local quase isolado da cidade, um condomínio aberto, com bastante vegetação e uma boa distância separa uma mansão a outra devido a grandiosidade do terreno de cada uma e claro privacidade. Casas muito próximas uma da outra não tem esse tipo de privilégio. Se você faz algo seus vizinhos sabem, se você mente eles sabem também, os Fontana parecem não gostar desse tipo de coisa, assim como seus vizinhos cada um a uma distância de aproximadamente dois quilômetros de distância de uma mansão a outra.
Ando pela calçada observando tudo, todas as mansões ao redor, seus moradores, a pessoa que passeia com seu cachorro do outro lado da rua, a empregada que coloca o lixo para fora, todos vivendo suas vidas monotonamente, sem ser obrigados a carregar um fardo que não é seu.
Merda. Por que essas pessoas precisam de casas tão extraordinariamente grandes? Essas casas concerteza tem o quádruplo do tamanho da minha, se não mais. O acúmulo de dinheiro os dão esse privilégio mesmo que não seja necessário. Os ricos têm as suas próprias maneiras de esbanjar poder, dinheiro, deixar evidente sua situação econômica.
A desigualdade econômica nem precisa ser explicada com palavras, basta mostrar uma foto dessas mansões e outra de uma casa humilde do outro lado da cidade, que a pessoa verá a disparidade, um absurdo tombar da balança pendendo para um lado só.
Finalmente chego em frente a mansão Fontana e ela não é muito diferente das outras. A mansão é rodeada por muros altos e fortes em toda sua extensão, a vegetação a rodeia imprimindo uma beleza natural a sua fachada, árvores de diferente tamanhos aparentemente bem cuidados, aparadas constantemente para que as folhas não excedam um tamanho aceitável.
Me aproximo do portão com um F enorme — dos dois lados — em seu centro, as grades são altas o dobro do meu tamanho assim como os muros que o cercam.
Duas câmeras estão posicionadas nos dois lados do portão. Sinto vários olhos me fitando por trás das câmeras,dando zoom em meu rosto enquanto observam o ser estranho parado em um local que não deveria, que não é o seu.
Entendo o medo do taxista de não querer se aproximar da mansão, se fosse eu faria o mesmo. A mansão por fora não passa um ar de tranquilidade, muito menos segurança para quem circule seus domínios, mas eu não tenho escolha.
Meu irmão desde o dia que foi na oficina não voltou a aparecer, meu pai nao tem condicoes de trabalhar para os Fontana e nem condições de pagar a dívida alta cobrada a nós, então só resta eu, que que terei que tomar a responsabilidade por algo que nao fiz, algo que não é culpa minha.
Toco na grade de ferro, o metal frio de encontro aos meus dedos enquanto me aproximo do interfone para falar algo.
– Me mandaram vir aqui hoje. – Dig, após apertar o botão do interfone.
Fico parado esperando que minha entrada seja liberada, que alguém fale algo do outro lado do interfone, mas o que recebo é um completo silêncio, como se eles estivessem me ignorando.
A mansão é vigiada por incontáveis caras armados e de ternos, seus rostos em um semblante sério, seus olhares ameaçadores e nada amistosos. Eles ficam parados com os olhos atentos, com fones de ouvido que permitem a comunicação entre si, armas presas na cintura e a postura incorruptível a todo momento.
Eles perceberam minha presença, sabem que estou aqui. Aquele homem que foi cobrar a dívida na oficina antes de ontem deve ter avisado a eles que eu chegaria, deve ter mostrado a foto que ele tirou de mim com o seu celular.
— Alguém pode me atender. — Falo um pouco alto demais, nervoso pela demora e falta de respeito.
Minutos depois o portão duplo se abriu me dando passagem. Suas grades com dois enormes F envolvidos por um círculo, um brasão simples, porém imponente, se afastou do caminho.
Um homem alto, aparentemente um ex militar está à minha espera do lado de dentro da propriedade e me lança um olhar de desdém ao inspecionar meu corpo magro com os olhos, há procura de sinais que eu era apto para estar ali, se eu era apto a trabalhar para os Fontana.
— Heitor Monteiro? — Ele me questionou, com certeza já sabendo a resposta.
— Me siga. — Ele me instruiu, seguindo por um corredor largo em direção aos fundos da propriedade.
Seus ombros largos ocultam a minha visão, enquanto eu o segui dando volta na mansão em direção aos fundos da propriedade.
A mansão Fontana tem três andares em tons de branco e cinza escuro. A entrada da mansão é da mesma magnitude que todo o resto, a grama é de um verde intenso, os arbustos bem aparados, uma estátua enorme e imponente — com uma espécie de rotatória para carros a circundando — enfeita a frente da mansão. Uma estátua em estilo renascentista de um anjo com duas asas perfeitamente esculpidas, demonstrando toda a habilidade do escultor, a beleza impressa em cada centímetro da estatua.
Os anjos não são assim, nunca foram. A verdadeira aparência de um anjo – segundo a bíblia – é grandiosa, sobrehumana, irreal, algo que espantaria os humanos e os fariam os temer em vez de amá-los, a retratação de anjos com duas asas e beleza natural, humana foi uma forma de nós os humanos imaginá los de uma forma agradável aos olhos.
O anjo está com as duas mãos abertas levantadas para o céu, como se estivesse adorando. A luz do sol atinge a sua face concebendo mais beleza do que ela sozinha já tem.
Os seguranças andando no pátio da mansão — os mesmos que me ignoram quando eu estava parado no portão — seguem eu e o cara em minha frente. Eles me lançam um olhar curioso, eles fixam seus olhos em mim como se eu fosse uma presa entre vários caçadores muito bem treinados.
O quê não deixa de ser verdade.
Não tenho um corpo robusto e forte igual o de todos aqui, não sei como usar uma arma, me defender, sou um iniciante e duvido muito que serei de alguma serventia.
Um ano.
Só preciso sobreviver um ano para que tudo isso acabe, para que eu deixe isso tudo para trás e volte a viver minha vida normalmente como sempre fiz. Um ano pode passar rápido, sempre passou, mas muitas coisas podem acontecer durante esses doze meses e é isso que me desespera.
Já vi muitos filmes e séries de máfia, como O Poderoso Chefão, Peaky Blinders, 365 dias, todos com muitas mortes, guerras entre máfias rivais, sangue espalhado por toda parte, pessoas morrendo brutalmente por motivos torpes, mas que se tornam grandiosos por envolver a máfia. E é isso tudo que me preocupa.
Parece que viverei com a minha vida em uma corda bamba e isso não é nada bom.
Nós circundamos e ele me dirige a lateral da mansão por um caminho ladrilhado sobre a grama verde. Metros de pedras dispostas pelo chão indicando um caminho que deve ser seguido.
Os fundos da mansão são como aqueles que a gente só vê em vídeos de casas luxuosas. Ele é amplo, muito mais do que eu achava que era, tudo aqui emana excentricidade, dinheiro, status. Só a piscina é maior do que o terreno da minha casa. Os fundos carregam o mesmo peso e imponência da entrada da mansão.
O homem segue em direção a uma sala, onde dava para se observar através do vidro, esteiras, bicicletas ergonômicas e halteres, o que deduz que fosse uma academia particular dos residentes da mansão.
— Espere aqui fora. — O homem mandou e eu obedeci.
O sol da manhã me atinge em cheio, seus raios quentes fazendo minha pele transpirar por debaixo da camisa preta.
Ele entrou na sala e os três bastardos que estavam na oficina antes de ontem, estão com os corpos musculosos, altos e esguios, escorrendo suor enquanto cada um se concentrava em um aparelho.
Todos os três juntos em um mesmo local.
Meu pau se mexem involuntariamente dentro da cueca e eu o repreendo por esta ação. Não quero sentir nenhum tipo de atração por nenhum dos três, mas isso vai ser difícil.
Os três se assemelham a deuses gregos, criações perfeitas e hipnotizantes e eles sabem muito bem o poder que tem.
— Senhor. — O homem que me recebeu falou. — O novo soldado já chegou.
Senti os três pares de olhos se focarem em mim através do vidro. Todos ameaçadores e sutis.
— Leve-o para o alojamento. — O homem instruiu, enquanto dava longos goles na garrafa de água.
A camiseta branca justa ao corpo, permitindo a visualização de seu abdômen trincado perfeitamente exposto pela elevação na camiseta. Sua pele negra brilhando com o suor escorrendo de seu corpo.
Os três caras parecem que roubaram toda a beleza, a perfeição do mundo para si.
Os três se assemelham a deuses gregos, criações perfeitas e hipnotizantes e eles sabem muito bem o poder que tem.
O loiro retirou sua camisa molhada de suor. Seu tronco totalmente à mostra, com suas tatuagens, seu físico espetacular prendendo a atenção dos meus olhos. Ele joga o cabelo para trás, os fios molhados encostando em seu ombro. O loiro lança o olhar em minha direção e me pega admirando. Ele sorri para mim enquanto uma das mãos acaricia seu pau instigando desejo em mim.
Essa visão faz meu corpo estremecer, como faria com qualquer um.
— E mais tarde o leve ele ao meu escritório.
Porra ele é um gostoso isso eu não posso negar, assim como seus cachorros de estimação que o seguem e fazem tudo que ele mandar.
Fomos em direção a uma casa adjacente a dentro do terreno da mansão Fontana.
Thaisson entra em minha frente.
Algumas pessoas estão sentadas na sala á vontade, alguns mexem no celular, outros estão assistindo um jogo de vôlei na televisão.
Nós seguimos pelo corredor.
A casa tem vários cômodos com porta de madeira, as paredes de um azul meio escuro.
Thaisson entra no dormitório e eu entro logo atrás.
- Este é o quarto onde você ficará. - Ele me informa.
Todas as camas do quarto são beliches, o quarto onde estou tem apenas três onde cabem facilmente até seis pessoas. Será inevitável não dividir a cama com outra pessoa, só espero não ficar com a cama de cima.
Quando eu e meu irmão moravamos juntos, nós dividiamos um beliche eu sempre dormia na parte de cima o que dificultava a ida ao banheiro de madrugada, era difícil descer a escada descalço sem escorregar um pouco. Eu odiava dividir a beliche e quando ele saiu de casa eu me senti aliviado por não ter que dormir no alto. A beliche já era antiga, então usei o dinheiro que eu ganhava na oficina e comprei uma cama melhor, com um colchão ortopédico e perfeito. As noites de sono ficaram ainda melhores, ter um quarto só pra mim era maravilhoso e eu amava isso.
Agora terei que dividir um dormitório com várias outras pessoas e minha privacidade se torna inexistente aqui.
Me sinto um pouco desconfortável em estar em um ambiente hostil, onde não conheço ninguém, mas não há opção.
Duas pessoas dormem tranquilamente em uma das camas. Eles devem ser seguranças da mansão que trabalham no turno da noite.
- Sua cama será essa e você pode guardar suas coisas no espaço vago nessa cômoda. - Ele aponta para a cômoda de mogno com quatro gavetas grandes.
Algumas camas estão desarrumadas, outras não.Vestígios de que alguém dormiu horas e horas em cima delas e nem se importou em arrumar ao acordar.
Dois beliches ficam dos dois lados do cômodo e um ao fundo.
Meu irmão uma vez me contou que no exército o dormitório tem vários beliches um do lado do outro - se estendendo pelo cômodo - onde muito mais de vinte pessoas dormem ao abrigo de sol e chuva.
Nunca fui para o exército. Consegui a despensa antes mesmo de pensar em se alistar por já ter tido bronquite — um tipo de inflamação das vias respiratórias, mais especificamente dos brônquios, os responsáveis por conduzir o ar que entra pelo nariz até o pulmão.
— O banheiro fica no final do corredor. — Ele falou.
- Ok. - Digo
Thaisson sai do quarto e me sento na minha cama do beliche. Por sorte eu consegui ficar com a cama de baixo do beliche.
O colchão macio afunda se adequando ao meu corpo. Se meu pai estivesse no meu lugar tenho certeza que ele sofreria com dores nas costas, o colchão não é dos melhores e o travesseiro vai pelo mesmo rumo.
Começo a tirar minhas coisas da mala e as coloco na cômoda que Thaisson indicou, as duas de cima estão vazias e possui uma plaquinha para anotar o nome. Coloco minhas roupas uma em cima da outra, tentando a organizar na gaveta da cômoda.
Um homem se aproxima da cama onde estou e se senta ao lado da minha. A camisa cinza um pouco larga demais em seu corpo, o short deixando evidente boa parte de sua coxa.
— Você não precisará dessas roupas todas. — Ele fala, levanta uma perna e a apoia na cama em frente ao corpo enquanto seca o cabelo com a toalha.
Olho de relance para ele e realmente, quando cheguei não vi nenhum segurança ou qualquer pessoa que trabalhe para os Fontana, usando roupas casuais, a não ser aqui no dormitório.
— Eles te chamaram para fazer as medições necessárias para te dar ternos feitos sob medida. — Ele largou a toalha molhada na cama. — Prazer Ryan. — Ele apontou a mão em minha direção.
— Prazer Heitor. — Digo, apertando sua mão. Seu toque é brusco, suas mãos são grossas, mãos que estão acostumadas a pegar em uma arma, mãos que trabalham para os Fontana a bastante tempo.
Ele lançou os olhos em cima de um livro que estava esparramado em cima da cama.
— Você gosta de Game of Thrones? — Ele me questionou.
— Gostar é pouco, eu amo. — Digo, com os olhos brilhando por poder falar de uma das minhas sagas de livros favoritas.
— Aqueles showrunner cagaram pro final da série.
— Realmente. — Lembro daquele final caótico e decepcionante.
O misto de dor e alegria por ver a Daenerys queimar tudo, matar todos que mereciam morrer.
— Mas a série continua sendo ótima, pelo menos até a sexta temporada. — Ele concorda com a minha observação.
Lembrar da Daenerys morta traz pesar ao meu coração. Lembro que quando eu vi a cena lágrimas se derramaram de meus olhos, eu sentia muita raiva pelo Snow ter matado minha rainha.
Espero que quando George R. R. Martin finalmente terminar de escrever os últimos livros da saga o final seja melhor ou bem construído.
— O que te traz aqui? — Ryan me pergunta.
— Dívidas do meu irmão e você? — Respondo, lembrando do babaca do Lucas.
— Dívidas. — Ele ri. — Só que minhas. — Compartilho uma risada com ele.
— Mas não será por muito tempo. Assim que terminar a dívida, irei embora desse lugar, só tenho que aguentar isso tudo por um ano.
— Veremos. — Ele disse, incrédulo. — A máfia é um lugar sem volta. Ou você é um deles ou está a sete palmos debaixo da terra. — Ele concluiu, se levantando da cama e indo com a toalha molhada em algum lugar para estendê—la.
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BAD MEN (Dark Romance Gay) +18 [EM ANDAMENTO]
RomanceHeitor nunca achou que um dia trabalharia para máfia. Até que ela bateu em sua porta. Obrigado a pagar uma dívida de jogo, feita por seu irmão Daniel, Heitor entra para a máfia dos cassinos ilegais, comandada pelo multimilionário Pedro Ávil...