Capítulo 1

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Seria tão mais fácil se todos sempre soubessem o que estamos sentindo, ou pelo menos eu acho, não sei... Eu amo o sol, por exemplo, sentir seu calor, e ver tudo brilhando para ele, inclusive eu. Eu amo visitar a areia, ela sempre tem muitas e muitas histórias diferentes, ela conhece mais lugares do que eu seria capaz de imaginar. Confesso que fico com uma pequena inveja.

Eu acho a lua linda, e quando o mar reflete seu brilho, é quase como se estivessem se casando. Ah! uma vez eu vi uma noiva! Ela não estavam se casando na verdade, mas estava tirando fotos com o noivo, ela até tirou uma foto comigo, disse que eu era linda, mas é claro que não como ela ou a lua, eu sei disso. Embora eu quisesse ser... Pelo menos nesse dia alguém me notou, mas só para depois me lançar de novo ao mar. Isso dó as vezes, se sentir descartável. A lua não é, nunca será. Ninguém faria isso com a lua.

Mas eu tento não pensar nisso, há muito trabalho a se fazer, e eu não posso perder tempo. Mesmo assim, não importa o quanto eu tente, ninguém nota, ou me percebe. Sempre digo a mim mesma ''você não pode confundir as coisas, você não pode se envolver emocionalmente'' eu sei que estou me enganando, ou tentando amenizar algo que não sei o que é.

Às vezes quando eu olho o sol pela manhã, eu sinto um bem estar, mas parece tão errado dizer que estou feliz... ele apenas está fazendo o trabalho dele, talvez nem quisesse estar ali, ou talvez quisesse, mas de qualquer forma está. Que motivo eu teria para sentir felicidade? Talvez as histórias da areia, eu rio com cada história, e embora ela não veja, sinto inveja, e as vezes ciúmes... embora ela não veja... e é difícil.

Todo mundo tem um limite, isso eu aprendi, e quando chego no meu, ninguém vê também... Tem dias que me sinto tão sensível e vulnerável, mas mesmo assim todos aqueles que passam por mim continuam me vendo como a mesma de sempre, mas eu sei que não sou, então não me vejo com outra escolha. Eu me fecho. Me fecho de tudo e todos, até de mim, e sabe o que acontece? Nada, todos continuam indo e vindo. Em dados momentos eu agradeço por ninguém me interromper no processo, mas em outros também choro por sofrer sozinha, desejando que alguém me abrace. E quando finalmente tenho alguma força para olhar o mundo novamente, sabe o que está fazem de diferente? Admiram a obra de arte que produzi, acham linda a esfera que guardo comigo, acreditando que eu estava em algum tipo de retiro artístico, para trabalhar. Mas só eu e essa bolinha comigo sabemos o quanto ela me doeu, e o quanto custou de mim. Eu não sei se posso chamar isso de tristeza, mas tudo bem.

Sabe aquela noiva? Eu a vi novamente depois de um tempo, e na mão dela, um lindo anel, com uma bolinha posicionada, igual as que eu faço. Ela passava a mão na barriga, enquanto o seu marido tirava fotos dela mostrando sua barriga redondinha. Seriam lindas memórias. Mas ela não está triste como eu. O que ela carrega dentro de sim, é uma bolinha muito mais complexa de explicar, e por isso ela está feliz, e todos ficarão feliz com ela. Mas em alguns momentos essa bolinha a deixará triste, e alguns ficarão triste com ela. Mas logo ela ficará feliz de novo. Diferente de mim, as minhas bolinhas só me deixam triste...Opa! Eu disse de novo.

Poxa! Era só isso... Essa coisa de sentir, ter obrigações, seria tão mais fácil se simplesmente tudo transparecesse. ''Estou triste, mas tudo bem, vou trabalhar. Estarei fechada aqui, mas assim que der venha me abraçar, por favor'' por que não pode ser assim? Eles podem sorrir, podem chorar, ficam corados, e muitas vezes não precisam nem falar nada, um olhar entrega o mar e a lua.

Vou continuar trabalhando, talvez tudo isso seja baboseira, vocês não precisam levar ao coração. Mas eu vou levar minha bolinha, talvez ela me mostre o que sentir, ou pelo menos talvez eu descubra o que estou sentindo... Se é que posso sentir alguma coisa.


- A concha que queria ser triste

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⏰ Last updated: Mar 29 ⏰

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Homem: o monólogo da vidaWhere stories live. Discover now