Esse one shot foi inspirado na música - shot glass of tears- Jeon jungkook.

Mingyu adorava ir para festas desde que começou a trabalhar, quando tinha dezessete anos.
até seus vinte e dois anos, estudou e trabalhou cinco dias por semana, sem descanso, então as festas, as bebidas e as músicas altas eram uma maneira de distrair a mente - e talvez beijar uma ou outra pessoa, passando a noite com alguém que sequer sabia o nome, e não se importava em perguntar.
isso até conhecer wonwoo.
Wonwoo era como a vida da festa. chamava atenção sem nem tentar, tinha a aparência de um anjo e seu jeito gentil atraía qualquer um que cruzasse seu caminho.
bem, mingyu foi um deles. um dos que se sentiu apaixonado pelo seu jeitinho atencioso e sua aparência perfeita, e aquela noite não acabou como mingyu imaginava - na cama de um motel qualquer -. não, acabou com os dois fazendo um pique-nique em um parque qualquer enquanto assistiam o nascer do sol, ambos lentamente ficando sóbrios com a presença um do outro.
porque wonwoo é assim. perfeito, e tinha o poder de acabar com os maus hábitos de mingyu.
mas, além de tudo, mingyu também tinha alguns hobbies perigosos, como esquiar, fazer mingyu dirigir com as mãos fora do volante a cem quilometros por hora durante a madrugada, apenas para saber como era a sensação. e claro, fazer mingyu se apaixonar até que sentisse borboletas no estômago toda vez que wonwoo sorria.
não que mingyu tivesse uma averção ao amor, mas ele teve o prazer de observar de pertinho o que o amor fez com seus pais - sua mãe tirando a própria vida por culpa da depressão pós-parto do filho não planejado, e seu pai se afundando em alcóol após a perda do amor de sua vida.
Então, sim. sabia que o amor era lindo, mas não estava a fim de experimenta-lo de perto, preferia continuar acabando suas noites com amores temporários que esqueceria da existência após deixarem sua casa.
mas algo em wonwoo fazia-o querer mudar isso... algo em wonwoo o atraia mais do que deveria.
e era recíproco.
- você quer namorar comigo? - wonwoo perguntou em uma tarde aleatória enquanto estava com a cabeça no colo de mingyu, assistindo a algum filme qualquer que acharam na tela inicial da netflix. Mingyu parou o carinho que deixava em seus cabelos e se sentiu congelado, olhando o garoto, que agora o olhava de volta. - parou por quê? eu estava quase dormindo. - reclamou ao que segurava a mão de mingyu, colocando-a em seus cabelos novamente.
- o que você disse?
- que eu estou quase dormindo.
- antes, wonu.
- antes? - olhou confuso, antes de murmurar um 'ahh...' - se você quer namorar comigo?
- você está falando sério?
- estou, ué. já estamos saindo a cinco meses, eu não estou ficando com mais ninguém, você também não, estamos sempre na casa um do outro... isso é tipo um namoro não-oficial. e eu quero que seja oficial. eu te amo, gyu.
e mingyu também o amava, por isso aceitou.
foi isso. não foi um pedido lindo ou emocionante, foi algo casual e pessoal, porque eles eram assim.
honestamente? Mingyu não se arrependia nem um pouco. aquele garoto é a melhor coisa que já aconteceu em sua vida, e passou os melhores meses ao seu lado, chegando ao ponto que já não se via mais sem ele consigo. não existia mais mingyu sem wonwoo.
e esse foi o problema da questão. a dependência.
porque tudo que começa, um dia acaba. Mingyu esperava que a morte fosse a pessoa que separaria-os, mas não. o fim veio em uma tarde como outra qualquer, em que wonwoo o sentou para conversar e disse que já não funcionava mais.
- mas ainda podemos ser amigos, gyu. eu ainda te amo, só não é como antes... você me entende? - seu tom era tão carinhoso que
Mingyu não sentia nada além de verdade em suas palavras.
porque era verdade. já não funcionava mais, embora o amor de ambos ainda existisse.
1...
1...
- eu entendo, wonu. eu espero não perder sua amizade.
e não perdeu. continuaram tão próximos que os amigos de ambos constantemente perguntavam se eles tinham voltado, apenas para wonwoo negar com seu sorriso angelical de sempre. apenas para mingyu sentir as lágrimas chegando novamente.
o problema é que naquele dia, mingyu mentiu para wonwoo pela primeira vez em todo aquele tempo.
não o entendia. não entendia por que ele fez isso. não entendeu por que ele parecia tão feliz naquele relacionamento se iria terminar. até chegou a pensar que wonwoo talvez tivesse outro homem, mas sabia que ele nunca faria isso, e mesmo após o término, wonwoo não tinha ninguém porque ele mesmo dizia que não superava relacionamentos beijando outras bocas.
e mingyu, pela primeira vez na vida, entendeu o motivo de seu pai virar um bêbado depois da morte de sua mãe.
entendeu que o amor não funcionava. e o amor de wonwoo era tão lindo quanto o próprio wonwoo, mas o deixou viciado como uma droga, incapaz de viver se não acordaria todo dia com o calor de wonwoo em sua cama.
e agora quando ia a festas, pedia a bebida mais forte porque precisava disso. precisava sentir alguma coisa, precisava se sentir curado de um amor que se partiu.
porque depois do término, mesmo ainda tendo wonwoo como seu melhor amigo, não sentia mais nada, e se perguntava quando pararia de se sentir doente.
e doía mais ainda ver wonwoo exatamente igual:
vivo.
como a vida da festa, e a pessoa feliz que ele sempre foi.
doía ver wonwoo dançar e receber tantos elogios na sua frente,
e doeu cada vez que pedia ao garçom algo mais e mais forte, apenas para no fim da noite ter wonwoo o levando para casa e o perguntando o que o fazia beber tanto assim.
Wonwoo sabia, claro que sabia. porque ele conhecia mingyu como ninguém. e doia em wonwoo também. mas não era o término que doía, era ver alguém tão próximo e tão importante estando tão mal. doía se sentir tão culpado. mas aquela relação não funcionava mais. deveria ter continuado naquilo apenas por saber da dependência emocional de mingyu? deveria se manter em um relacionamento que não fazia bem a nenhum dos dois? tiveram momentos incríveis juntos, mas não funcionava mais... e não acha que tenha tomado a decisão errada, mas agora sentia tanta culpa e agonia quando via mingyu virar mais um shot daquelas bebidas. Mingyu não era mais o mesmo de antes, e ambos sabiam que a culpa era de wonwoo.
e mingyu agora não se sentia congelado como quando wonwoo o pediu em namoro, mas se sentia com frio naquele apartamento sem o calor e felicidade de wonwoo.
mas era o contraste perfeito.
porque agora aquelas pilulas anti-depressivas desciam pela sua garganta com dificuldade, enquanto aquela bebida semelhante a um copo de lágrimas descia gelado.
e mais pilulas.
e mais alcóol.
e mais pílulas.
e mais alcóol...
e quando wonwoo o achou naquela noite, ao se preocupar quando mandou mensagem e mingyu não respondeu, sentiu como se seu mundo tivesse caído.
porque ninguém merecia uma culpa daquelas, e ninguém merecia ver uma cena daquelas.
não tinha sangue. não tinha uma carta. não tinha vida.
não tinha mais nada. Mingyu se foi, e wonwoo só poderia sentir uma culpa que não era sua, enquanto lutava pelo luto de não perder só o melhor amigo, como perder sua outra metade.
não tinha nada além de um pequeno post-it que wonwoo sabia que era para si, três palavras escritas e borradas pela garrafa despejada pela mesa:
eu te amo.
