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Eu fiz minha primeira tatuagem com quatorze anos.

Sim, foi em um momento de "cinco minutos".

Sim, ela é horrível.

Sim, eu daria um tapa no eu de quatorze anos.

E não, eu não mudaria o fato de ter feito. Na época tive, o que considero, bons motivos para fazê-la.

Cresci em Busan, de forma bem pacífica e acordando, literalmente, de cara com o mar. Meus pais além de serem donos de um café/restaurante, eram também os pastores da igreja do bairro, sendo altamente respeitados pela comunidade. Logo eu e minha irmã mais velha, Bora, éramos o centro das atenções, sendo sempre o foco.

Deveríamos sempre ser educados, nunca quebrar regras, tirar boas notas, ajudar no negócio da família e na igreja, estudar a bíblia pelo menos uma vez ao dia, andar sempre arrumados, arranjar somente amigos da congregação e, além de tudo isso, se ajoelhar três vezes ao dia para orar e agradecer a Deus.

Minha relação com Deus era ótima, e continua assim, para falar a verdade, mas com o tempo, manter as exigências de meus pais foi se tornando inviável.

Eu via as pessoas da minha escola saindo e fazendo coisas de adolescentes, mas eu e Bora nunca podíamos e o que nos restava era a inveja e a curiosidade. E não estou falando nem de beber e nem de fumar maconha, e sim de só caminhar por aí com sua turma de amigos que você escolheu, e não que foi imposta a você.

Também não tínhamos tempo para nós, já que ele era preenchido por atividades cronometradas, sobrando uma horinha e meia mais ou menos por semana para fazermos o que queríamos.

Ai o outro problema: O que faríamos. Não tínhamos celulares ou televisões, já que "esses corrompem", de acordo com nossos pais. Bora e eu acabavamos indo caminhar pela praia a fim de observar pessoas vivendo suas vidas sem as amarras que possuíamos.

Era estressante, mas eu aguentei bem até aquele fatídico dia.

Ninguém na escola, além de quem era do grupo de jovens da igreja, falava comigo e eu também não conhecia ninguém além deles; até que um dia, o professor de biologia, Seokjin, passou um trabalho em duplas e ele que iria sorteá-las. Eu caí com Namjoon, um menino simpático, porém meio malandrinho, que sentava sempre no fundão.

A gente conversou bastante e logo viramos amigos. Eu estava tão feliz por ter alguém de fora do nicho igreja para conversar comigo.

Os meses passaram e continuamos amigos, cada vez mais unidos. Meus pais não sabiam, pois eu sabia que se contasse eles me proibiriam de conversar com ele por conta dele fazer parte do "mundo".

Namjoon me ensinou muita coisa a respeito da vida, coisas essas que jamais chegariam aos meus ouvidos se dependesse dos meus pais, e por isso sou eternamente grato à ele.

Era fevereiro e seu aniversário de quinze havia chegado. Eu recebi um convite para a festa, o primeiro da minha vida que não vinha de alguém da igreja, e eu acho que nunca tinha ficado tão empolgado para alguma coisa.

Sendo o bom filho que fui criado para ser, ao invés de só fugir na calada da noite para a casa dele, resolvi pedir aos meus pais.

Erro grotesco.

Recebi uma bronca por estar me relacionando com gente daquele tipo e ainda fiquei de castigo, por estar interagindo com quem eu sabia com quem era para não interagir.

Fiquei tão revoltado naquele dia, porque estava perdendo a celebração da vida de alguém que era importante para mim, que quase quebrei meu quarto todo, só não fazendo por medo de uma punição maior.

The Tattoos Your Hands Leave on My SkinOnde histórias criam vida. Descubra agora