Capítulo 3 - No vazio

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Devil

Escuridão.

A escuridão é entornada de um frio torturante. Um frio que congela tudo ao redor. Um frio que cega a visão mais perfeita. A escuridão é minha única amiga. A escuridão é a única que me observa, que consegue me ver. Sua presença é indescritível, inominável. Ela sonda minha audição como se sussurrasse palavras sem sentido, ou até em outra língua desconhecida. Uma língua que nem o mais inteligente dos seres decifraria, porque vem acompanhada de chicotadas na alma.

Não é uma dor familiar, é diferente. Não é física, mas mental, espiritual. As ondas que se formam ao redor ficam cada vez mais frigidas. Não há uma chama sequer, nenhum resquício de calor de qualquer que seja. E isso faz uma parte de mim morrer na escuridão. No vazio.

E quem sou eu?

Não tenho muita certeza.

Há algo de íntimo nesse lugar, algo que, de alguma forma, me força a querer lembrar quem sou eu.

Não consigo, no entanto. A escuridão não me permite. É como se ela me quisesse apenas para ela. Como se, caso eu me lembrasse, ela fosse obrigada a me abandonar. E eu não quero isso. Não quero ficar sozinho. Uma sensação que já estive nessa mesma situação desperta no meu interior, reforçando que não devo lembrar, para não ser abandonado pela escuridão. De algum jeito, ela me aninha nos seus braços, afirmando que ela será minha única companhia pelo resto dos tempos.

Ele não passa. O tempo. É como um loop infinito. Como se o segundo fosse cronometrado e em seguida se repetisse tudo de novo.

A escuridão murmura que essa é minha casa agora, que não devo me preocupar com o passar do tempo, porque ela é a minha única companhia daqui em diante. E eu apenas assinto, não querendo ser deixado por ela. Há algo de natural na dor que ela me provoca. É como se, no fundo, por um motivo desconhecido, eu sentisse que merecesse isso, esse vazio na alma.

Ainda assim, sinto que deixei algo para trás. Não tenho certeza do quê, mas sinto que deixei. Parece um imã. É como se algo tentasse me puxar para longe. E em alguns momentos esse puxão fica mais forte. Como nesse exato momento. Um sussurro diferente retumba em algum lugar da minha audição, e eu tento me lembrar. Me esforço tanto que uma pontada de luz surge em meio ao mar de escuridão.

No entanto, a escuridão me puxa de volta em um rosnado grotesco, cantarolando que eu pertenço a ela, e somente a ela.

...

Alguém pra se jogar de uma ponte cmg?

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Burning In Hell: A Deusa da Morte (Livro III)Onde histórias criam vida. Descubra agora