✓ 𝐄𝐍𝐓𝐑𝐄 𝐁𝐈𝐓𝐒 𝐄 𝐆𝐎𝐓𝐀𝐒 | 𝑫𝑼𝑺𝑲𝑾𝑶𝑶𝑫

𝐉𝐀𝐊𝐄 𝐃𝐎𝐍𝐅𝐎𝐑𝐓; 𝐔́𝐍𝐈𝐂𝐎.

“Eu posso não ter ido para onde eu pretendia ir, mas eu acho que acabei terminando onde eu pretendia estar.”

— ENTRE BITS E GOTAS

— Você ainda está trabalhando nisso?

SUA VOZ EMERGE, chamando Jake de sua imersão na tela fria do computador. Ele se vira, erguendo seu olhar até sua forma, e seus olhos encontram os seus. Você, recém-saído do banho, envolto em uma toalha que abraça sua cintura, os braços cruzados e a pele ainda orvalhada pelas gotas d'água que dançam em sua superfície, estava parado ali; seus cabelos, curtos/médios, pingando em seus ombros.

Há um sorriso pequeno, quase imperceptível, nos cantos dos seus lábios. Mas seu rosto permanece sério, como uma estátua de mármore. Seus olhos pareciam observá-lo famintos de curiosidade e desconfiança. Assim como ele, você também está cansado, embora não o admita. A teimosia é parte da sua essência, um fio invisível que o liga ao hacker. Detetive por natureza, você se preocupa mais com os outros do que consigo mesmo, e essa é uma verdade que vocês dois compartilham.

— Preciso codificar mais algumas coisas. Nym0s está com uma pequena interferência. — murmura Jake, finalmente desviando o olhar quando se deu conta de que estava olhando para você silenciosamente por tempo demais. Ele se sente deslocado com a sua presença, como um personagem fora do enredo desde que o conheceu pessoalmente pela primeira vez.

Vocês dois, fugitivos, perseguidos por sombras e agentes que desejam sua captura, haviam se juntado quando Lilly acabou vazando suas informações pessoais e estragou parte de sua investigação. Seria muito arriscado simplesmente seguir em caminhos separados depois de tanto trabalho, então, por um acaso, você havia decidido que era melhor que ficassem juntos, o que acabou com vocês se encontrando depois de meses de mensagens trocadas.

Essa aposta no imprevisível poderia ser um movimento perigoso, onde cada passo poderia ser o último, e mesmo que ainda desconfiassem um do outro, vocês seguiram juntos. Transformando sua desconfiança em parceria. Sua solidão em união. Até que enfim estivessem tão próximos ao ponto de serem íntimos como se fazem os amantes.

Embora, meses atrás, Jake tivesse chegado a cogitar que você poderia traí-lo quando o mistério do desaparecimento de Hannah fosse desvendado, hoje ele sabe que isso é impossível. Você está tão enterrado até o pescoço nisso quanto ele. Juntos, afundam ou emergem. E ele sabe que você nunca o deixaria. Não quando a verdade está tão próxima, como um verso final que se recusa a ser escrito.

— Hum, entendi... — as palavras escapam de seus lábios como um sussurro rouco, e você inclina a cabeça em concordância com a resposta dele. Caminhando em sua direção, curioso para ver no que ele estava trabalhando. Seu programa, Nym0s, parecia decodificar erros, desvendando os mistérios ocultos nos códigos. Havia uma tensão no ar, uma linha não ultrapassada entre confiança e cautela. Fazia alguns dias desde que o FBI tentara invadir seus dados, e Jake os impedira a tempo. O rastro deles ainda pairava, como uma sombra incômoda, e por isso vocês dois viviam em constante movimento, trocando de hotéis nos arredores de Duskwood. Nunca se afastando muito, sempre alertas, caso mais alguma pista sobre Hannah pudesse surgir.

— Mas eu acho melhor você descansar um pouco depois, ok? — sua mão livre encontra os cabelos curtos de Jake, dedos suaves percorrendo as mechas. As raízes já estavam voltando à sua cor natural de castanho claro, enquanto a tinta preta ainda persistia nas pontas. O pequeno afago é bem-vindo, e mesmo que o hacker ainda seja um estranho em relação a tanto contato humano, ele está deixando suas barreiras caírem aos poucos.

Foi ele quem confessou estar apaixonado primeiro, afinal. Mesmo em questão de poucos meses, mantendo a comunicação apenas por breves mensagens de texto e chamadas de vídeo. Você, em pouquíssimo tempo, parece ter sido o único que se esforçou para conhecê-lo verdadeiramente. Jake. Não apenas mais um hacker procurado pelo governo. E mesmo que você tenha mil e um motivos para entregá-lo às autoridades e não confiar nele, você não o fez. Simplesmente arriscou sua carreira e sua vida, seguindo o enigma que ele era, mesmo com a guarda alta.

— Certo... — a voz de Jake é baixa, quase tímido, mas ele permanece sério. Bolsas de olheiras pesam sob seus olhos azuis elétricos, refletindo no monitor brilhante. Um leve corar envergonhado colore suas maçãs do rosto, um segredo que ninguém seria capaz de perceber a não ser que realmente se aproximasse. O efeito que você causa nele é como uma tempestade interna, ansiedade e desejo entrelaçados desde a primeira vez que ele falou com você. Mesmo agora, com o perigo rondando, ele não consegue evitar deixar seu coração derreter ao seu redor.

— Ou você pode simplesmente vir tomar um banho comigo. — a frase paira no ar, carregada de sugestão e brincadeira. Você ergue uma sobrancelha, divertido, ao ver Jake retribuir o olhar. Sua testa se franze levemente enquanto ele absorve suas palavras, e a timidez ainda é palpável. Flertar por meio de mensagens era uma coisa, mas ouvir essas palavras diretamente de seus lábios faz Jake tremer em seu lugar.

— (Nome)...

— O que? Eu só estou dizendo. — Você dá de ombros, mas o convite permanece ali, irresistível. Sempre foi mais fácil para Jake lidar com computadores e códigos do que com outras pessoas, e agora, com você na equação, ele se sente como uma bagunça. Mas talvez seja exatamente a bagunça que ele deseja ser nesse momento.

Erguendo-se da cadeira giratória, Jake o encara de cima a baixo, inclinando-se na sua direção. Um leve riso escapa de seus lábios, dissipando a tensão que antes repousava em seus ombros. Você também envolve seus braços ao redor do corpo dele, e sua pele molhada não o incomoda; ao contrário, as gotas que caem em seu moletom parecem insignificantes. O zumbido suave do ar-condicionado é o único som em seus ouvidos, entrelaçado com as batidas aceleradas do seu coração. Quando suas mãos apertam levemente a cintura dele, Jake se vê totalmente entregue, vulnerável, em suas mãos.

— Acho que eu aceito um banho.

Eis que, enquanto Nym0s se dedica à resolução dos intrusos que ousaram perturbar sua privacidade, vocês dois, em um compasso harmonioso, trilham lado a lado seu caminho até o banheiro. O moletom de Jake e a camisa que outrora vestira são agora abandonados, como oferendas jogadas ao chão de seu quarto compartilhado. E ali, sob a tênue luz que se espreita pelas frestas da janela, seus lábios se encontram em um beijo breve, mas carregado de promessas e desejos.

Pois o amor é uma vulnerabilidade que transcende códigos e senhas. E você, (Nome), é a chave para desvendar todos os enigmas que Jake Donfort guarda em seu coração.