E lá se terminava mais um dia de trabalho duro na lida. Em plena sexta-feira, Ramiro seguia Ruan e Sidney até o conhecido Naitandei, único local de entretenimento da cidade (pelo menos daqueles que não poderiam gastar muito dinheiro).
Ramiro gostava do lugar. A cerveja era barata e a música até que era boa, mesmo que ele ficasse a maior parte do tempo sentado, observando as pessoas.
Uma conhecida deles, Iná, chegou na mesa para anotar seus pedidos, e saiu logo em seguida, mas não sem antes jogar um flerte para os homens, que sorriam bobos e a olhavam dos pés a cabeça.
一 Eu casava com uma muié dessas e tirava dessa vida! 一 Afirmou Sidney, tirando risadas de Ruan.
一 I desde quando uma muié dessas vai querê um homi que num tem onde caí morto, ô Sidnêy? 一 Questionou Ramiro rindo, e tirando mais risadas de Ruan.
一 É Sidney! I como si ocê num fosse igual nóis, né?
一 Êêêêê... mi respeita! Mi respeita qui eu sô o braço direito do patrão!
一 Respeita ele! Respeita ele! 一 Ruan encerrou a pequena discussão, sem parar de rir, enquanto Iná ressurge com as cervejas dos peões.
一 Mas mudando de assunto 一 Iniciou Ruan 一 Ficaro sabendo que tem gente nova trabaiando aqui no bar?
一 Aé?! I é tão formosa quanto as moças daqui? 一 Perguntou Sidney lançando um olhar galanteador para Iná, que começou a rir.
一 Olha, não tanto quanto a gente, mas é bem formosO 一 Iná respondeu fazendo questão de dar ênfase na última vogal da palavra. 一 Temos um novo garçom aqui no bar, o Kelvin, ele tá... 一 Iná percorre o local com o olhar buscando o novo funcionário 一 ... ali!
Iná aponta para um lugar atrás de Ramiro. Os colegas de trabalho que estavam em sua frente apenas seguiram o olhar de Iná, já Ramiro precisou se mover na cadeira.
Quando seus olhos encontraram o alvo, Ramiro ficou surpreso. Um rapaz loiro e baixinho com uma roupa muito curta, equilibrava alguns copos de cerveja em uma bandeja. Ao entregar para uma mesa, o garçom lançou um sorriso aos fregueses.
E nossa. Que sorriso lindo.
Ramiro sentiu-se um pouco nervoso, com um calafrio abaixo do umbigo.
Essa sensação de novo?
Voltou-se pra mesa, pegando o copo e tomando um gole de sua cerveja. Não ia pensar naquilo.
Infelizmente, seus pensamentos não o obedeceram, trazendo para a luz da consciência uma memória a muito tempo esquecida. Ou negada.
Ramiro devia ter por volta dos 13 anos quando Caio chegou na fazenda com um novo amigo da escola. Sua família estava reunida na varanda de casa, e por um acaso, Ramiro estava ali também, recebendo algumas ordens do patrão, além dos cotidianos "puxões de orelha", pois Ramiro sempre fazia algo errado. Por mais que se esforçasse ao máximo para fazer o melhor, sempre fazia besteira. Eram erros pequenos, mas Antônio não deixava passar nenhum. Até o elogiava de vez em quando, mas os xingamentos eram frequentes. Ramiro aceitava cada dia mais o jumento que era.
E no meio daquele sermão, quando Ramiro avistou o amigo novo de Caio, ficou nervoso, sentindo um arrepio abaixo do umbigo.
Qui menino bunito!
Seu pensamento foi tão rápido e surgiu de uma maneira tão automática que o assustou, o deixando mais nervoso.
Ê Ramiro! Isso é coisa de si pensar de homi?!
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A primeira vez que eu te vi
Fanfic"Eu também te amo... desde a primeira vez que eu te vi." E quando foi essa primeira vez?