Prazerosa Confusão

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O vento balançava os cabelos pretos do garoto, parado em frente à vastidão daquelas árvores. O aroma de pinho lhe preenchia o olfato, e seus pés se moviam mesmo sem seu comando, e quando pararam, o deixaram novamente em frente a pequena gutural daquela vez. Por mais escuro que estivesse, Gulf podia ver com detalhes o lugar por onde passava, seus dedos tocavam as paredes da caverna, sentindo a saliência e vendo o brilho de algo incrustado ali. A fumaça esbranquiçada se espalhava pelo ar, e ao fundo do corredor de pedras, Gulf podia ver uma luz azul e intensa brilhar. A curiosidade era a única coisa sentida pelo garoto naquele momento, os pés seguiram o caminho, até chegar ao final do corredor, onde a gruta se abria, e um enorme e cristalino lago se formava abaixo de um buraco no teto da caverna por onde raios de luz passavam, iluminando algo no fundo da água, e chamando a atenção do garoto, que se aproxima quase hipnotizado por aquela forma misteriosa, mais alguns passos e já podia ver uma forma escura mas ainda borrada ali ao fundo, se colocando de joelhos, ele estica a mão, tentando alcançar o que quer que fosse aquilo. O choque foi grande, como se uma força o puxasse pra dentro, Gulf mergulha em um só movimento para dentro da água...

A respiração agitada bate contra o travesseiro grudado em seu rosto. Se sentando na cama, o garoto tenta desacelerar os batimentos, o frio doloroso da água ainda podia ser sentido em sua pele, ainda que ela estivesse úmida apenas pelo seu próprio suor. Kanawut encara o quarto, aos poucos tomando ciência se onde estava, ainda que estivesse longe de qualquer perigo, seu corpo ainda estremecia pela sensação do pesadelo sonhado.

A delicada mesa de ferro, que se encontrava na varanda da enorme casa do jardim, hoje estava posta impecavelmente para o café da manhã. Com a recusa de Gulf de sentar em uma mesa tão grande sozinho, e a recusa dos demais empregados em dividir uma refeição com ele, Kanawut solicitou que o café fosse servido ali, assim ao menos poderia acompanhar o movimento dos empregados, enquanto apreciava o canto dos pássaros. A xícara de chá ia ser levada aos lábios para mais um gole quente e reconfortante, quando o menor se levanta apressado. A carruagem que não era esperada naquele dia, atravessa o portão, fazendo o coração de Kanawut acelerar. Os pés batiam contra o cascalho, enchendo os sapatos novos de poeira. Os pés do rei mal tocaram o chão ao descer da carruagem, e seus braços já recebiam o corpo delicado de Gulf — Eii calma pequeno, assim caímos os dois contra as pedras — apesar do aviso, o rei sorria entre suas palavras. Gulf respirava fundo, sentindo o aroma e o calor do qual sentiu tanta falta — Você disse que levaria três dias pra voltar!? — o menor questionava ainda abraçando a cintura do rei — Também lhe disse que voltaria o mais rápido que pudesse — ao se afastar um pouco ele encara o mais velho, e só quando vê o sorriso do rei e ouvi as risadas dos guardas e servos, é que volta ao seus sentidos. Se afastando, Gulf se curva em respeito, sentindo até as pontas das orelhas vermelhas — M-me perdoe majestade, eu-eu fui inconveniente — Mew se apruma, saindo um pouco mais de perto da carruagem — Sua presença e afeto nunca me será inconveniente Kana...Me acompanha — se postando ao lado do garoto o rei estica o braço, em um claro pedido de que o Gulf o acompanhasse até lá dentro. Ainda que um pouco constrangido, ele acena brevemente com a cabeça, segurando de forma delicada o braço que lhe foi oferecido.

Durante o caminho, perguntas simples de como havia sido a viagem e se tudo havia dado certo. Se foi impressão sua ou não, ele não saberia responder agora, mas Gulf pode jurar que viu o brilho do dragão aumentar e o corpo do rei ficar tenso, mas foram tão breves segundos, que talvez fosse apenas confusões de sua percepção. Os empregados que traziam algumas bagagens, já haviam saído, deixando apenas os dois e alguns embrulhos no quarto. Por mais que quisesse fingir que não, Kanawut mal conseguia segurar a curiosidade sobre o que tinha dentro dos pacotes. O rei claro já sabia desse lado do menor, exatamente por isso pediu pra embrulhar individualmente cada item, apenas pra atiçar o mais novo. Mew não contem um pequena risada baixa, ao ver olhos arregalados e a boca aberta em surpresa, tomarem conta das feições do menor — São seus. Todos presentes pra você — Em pé, com as mãos enlaçadas atrás das costas, Mew admira com encanto os olhos brilhando de Gulf ao encarar todos aqueles pacotes, embrulhados em pedaços coloridos de seda. Os olhos de jabuticaba se voltam pro rei, que dá um largo sorriso — Abra-os, afinal são seus — Gulf sorri, se arrumando na cama, e puxando um dos pacotes, um menorzinho, não queria deixar tão na cara sua curiosidade sobre o enorme embrulho, que diferente dos outros era semi aberto, com algumas brechas entre as pontas amarradas, as mãos do menor abrem com delicadeza as pontas, lá dentro um papel que lembrava os de seda coloridos que ele usava nas aulas de artes do fundamental, cobria outro delicado tecido. Os dedos tocam a camisa, sentindo o leve toque áspero dos bordados floridos por ali — Ahh Mew, é lindo — puxando a camisa pra cima, a calça ali embaixo é revelada. Tão macia e delicada quanto a parte já em suas mãos — Por favor, experimente — o pedido em meio ao sorriso, deixou Gulf corado, mas ele rapidamente correu pra trás do biombo, curioso sobre as vestes também. Nunca usara algo tão bonito e de aparência tão chique, a coisa mais próxima que tinha era a camisa da Gucci ganhada de Mild, que não era exatamente original, mas que Gulf fingia fielmente que sim. Já atrás da estrutura de madeira e tecido, Gulf lembra que também tem algo a entregar ao mais velho — Ahhh Mew, uma senhora no mercado me deu algo pra você, esta na sacolinha sobre a mesa, perto da janela — o garoto não imaginou que o rei voltasse tão cedo, então nem se preocupou em arrumar ou separar os presentes que recebeu. O rei agradece, e caminha na direção mencionada, vasculhando as sacolas. Sais de banho, algumas simples mas bonitas bijuterias, temperos, eram tantas coisas que o menor havia comprado, que Mew não pode deixar de sorrir — Hum, perdoe-me Gulf, mas o que exatamente era pra ser pra mim aqui? — Gulf meio enrolado com as cordas da roupa, responde abafado, enquanto travava uma luta ardua atras do biombo — Hum, um... droga pera, fiquei preso...É, é um vidrinho... Não pera, lado errado — a conversa era dividida entre o rei e ele mesmo. O mais velho que ainda ria, continuou a vasculhar os vários presentes sobre a mesa, até que um deles lhe fizesse surpresa — Humm Mew, acho que ficou um pouco grande, a calça tá caindo tambem — dizia Gulf, ainda escondido atrás do trocador, porém quando só recebeu silêncio vindo do outro, estranhou. Saindo apenas com meio corpo dali de trás — Alteza, ainda esta...ai — seus olhos se arregalaram quando o pequeno objeto é visto nas mãos de Suppasit. O vidro com a compota de doce ainda estava sobre a mesa, e sob o poder do Rei, o pequeno frasco rosado de poção — O que significa isso Kanawut? — o tom de voz do mais velho era misto, curiosidade, desconfiança e...Excitação.

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