(Capítulo não revisado)
06.10.2024
Há um motivo pelo qual eu escolhi Regulus Black para ser o primeiro entrevistado e, apesar do que todos pensam, não é por ele ser um dos protagonistas dessa grande história épica e devastadora que envolve amor, rivalidade e violência. Minha agente e amiga próxima disse que eu deveria começar com alguém mais confiante, que continha menos ódio e que provavelmente seria mais amado pelos leitores. Ela não precisou dizer o nome que a pessoa que estava pensando para eu saber que se referia a James Potter. Embora fosse uma excelente ideia, descartei a sugestão e segui com minha ideia.
Exatamente por Regulus conter essa personalidade reclusa e mal vista pelas pessoas é que me faz querer começar a contar essa história através das palavras dele, que, embora afiadas como adagas e sujas como sangue, são abraçadas por um tipo de sentimento que nenhuma outra pessoa seria capaz de oferecer. Nem mesmo James Potter.
A ideia de escrever sobre a ascensão desse mundo veloz e perigoso surgiu em uma noite tempestuosa e terrivelmente fria. Meu aquecedor havia quebrado duas horas antes da maior tempestade prevista da última década cair sobre East End com trovões que deixariam até os mais corajosos aterrorizados. Nessa noite, minha perna direita estava mais pesada como se uma bigorna tivesse sido amarrada no tornozelo e a dor que se instalou no joelho foi o suficiente para eu decidir passar a noite bebendo o restante da garrafa de vinho. Ganhei essa garrafa de vinho na semana passada, presente de um amigo do colégio que mantenho contato e às vezes nos reunimos em um bar.
Nunca gostei de vinho. Bebidas alcoólicas não eram meu forte desde que saí do colégio e quando meus amigos seguiram com a vida, o que é esperado ao se formar, não vi motivo para beber com frequência. Mas, naquele dia, senti que precisava beber ou iria enlouquecer.
Sentei-me no chão, as costas encostadas no sofá e liguei a televisão enquanto bebia na boca da garrafa. O gosto doce desceu pela minha garganta e percebi que o problema do álcool jamais foi a sensação de se perder em algo que está sob o seu controle e sim sobre como ele me fazia sentir a solidão de uma forma que sempre tentei fugir. Após me formar, de uma forma nada convencional em um colégio que não se encaixava nos padrões esperados, tentei seguir os passos de um homem que admirei a minha vida inteira. Eu não era bom no que fazia. Na verdade, criei tanta expectativa naquilo que nenhum esforço no mundo seria capaz de fazer com que eu alcançasse os padrões que coloquei dentro da minha cabeça.
Desisti desse sonho impossível.
E, apesar do que todos pensam, desistir não foi a parte mais difícil. Aceitar que era ruim em algo que sempre desejei ser bom foi a parte que me destruiu por dentro.
A solidão se aconchegou dentro de mim assim que relembrei das noites em que eu e meus amigos nos reunimos no dormitório de uma das meninas e bebíamos até que o sol nascesse e percebêssemos que tínhamos prova de química naquela manhã. O arrependimento acompanhava todos até a sala de aula, mas ninguém parecia realmente arrependido.
Sozinho e melancólico, eu coloquei no canal que passava a única coisa que poderia me acolher. Por sorte ou azar, estava passando um documentário de um dos pilotos mais memoráveis e icônicos que o mundo já viu e acabei abraçando a garrafa de vinho e assistindo as próximas duas horas que mudariam a minha vida.
Sirius Black foi o melhor piloto que o mundo presenciou desde seu pai. Um jovem promissor, com uma longa família de pilotos talentosos que o observavam em silêncio enquanto crescia em pistas de kart ao invés de parquinhos de areia e brinquedos. Ele continha um tipo de talento que jamais poderia ser conquistado com esforço. Era o tipo de talento que ou você nascia com ele, ou morria esperando reencarnar com ele na próxima vida. Eu o invejava por isso.
Com apenas um campeonato vencido, Sirius abandonou a Fórmula 1 e se aposentou prematuramente sem oferecer muitas explicações. Ele deixou seu melhor amigo nas pistas, liderando o campeonato atrás de campeonato durante quatro anos até que um piloto de capacete prateado aparecesse e tirasse sua onda de sorte. Regulus Black.
A rivalidade entre Regulus Black e James Potter colocou holofotes na Fórmula 1 e o mundo parou para assistir a dois pilotos se matarem dentro das pistas. Eles trouxeram o reconhecimento que o esporte precisava e o que isso exigiu deles? Tudo que eles tinham.
Naquela noite, uma ideia que jamais havia passado pela minha mente, apesar de acompanhar esse desde que nasci, surgiu e foi como se eu visse uma luz no fundo do poço em que me coloquei. Eu decidi, por fim, escrever sobre a história mais bela e dolorosa que o mundo não teve a oportunidade de presenciar.
Não a rivalidade de James Potter e Regulus Black.
Nem a impressionante carreira de Sirius Black.
Claro, Sirius ainda estaria ali, envolvido nesse mundo que me abraçou desde o meu nascimento e que prometia me salvar do fracasso pelo qual eu estava me tornando.
O que eu realmente contaria seria a história de James Potter e Regulus Black.
Como os dois quase perderam tudo enquanto corriam atrás do reconhecimento um do outro, sem saber que precisavam disso, e buscavam se tornar campeões mundiais sem que isso acabasse os matando.
Eu queria escrever sobre como a rivalidade quase destruiu seus corações.
Como o mundo não presenciou a maior história de amor já vivida.
Pensando agora, sentado na poltrona em frente ao protagonista do meu livro, considero se a ideia é realmente tão boa quanto imaginei que era.
Regulus Black está sentado no sofá com as pernas cruzadas e as mãos descansadas em cima do colo, a postura impecável e os olhos cinzentos pareciam guardar uma tempestade que poderia ser capaz de estragar a vida de qualquer um. O sobretudo preto foi deixado na entrada, mas isso não deixou sua aparência menos assustadora. Com uma blusa de gola alta preta e uma calça de alfaiataria da mesma cor, Regulus continha somente um anel de prata, diferente dos anos em que corria na Fórmula 1, onde esbanjava acessórios de prata.
– Essa é uma ideia estúpida. – Regulus diz.
No momento, também estou achando minha ideia estúpida.
Engulo em seco, reprimindo a vontade de limpar o suor que cobre as palmas das mãos e clicar no botão de gravação do celular.
– Olá, Regulus. – Meu tom de voz denuncia o nervosismo que cresce dentro de mim. – Por que você não começa me contando do começo?
– Há muitos começos, depende do que você quer que eu conte.
– Que tal me falar sobre James e a rivalidade de vocês? Quando isso começou?
Com os olhos distantes, direcionados para as enormes janelas que davam visão a cidade de Londres, Regulus Black diz:
– Só para constar, essa não é uma história de amor que fará as pessoas quererem lerem seu livro em busca de conforto. Essa vai ser uma história que fará seus leitores se encolherem enquanto pensam se vale a pena se apaixonar.
– Por que você saiu com um coração quebrado?
Regulus olha para mim e uma risada escapa. É tão fria e distante que quase estremeço em minha poltrona.
– As coisas teriam sido muito mais fáceis se James Potter tivesse apenas quebrado meu coração.
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O preço da vitória - Starchaser
Fanfiction"Eu estou aqui para ganhar. Se eu precisar escolher entre ter você e ser campeão mundial... James, eu não vou escolher você. Nunca" - Regulus Black.