One and Only [Mirandy]

One and Only - Parte I

Tocando: One and Only - Adele

Meu escritório grande e muito bem decorado tornava-se cada vez menor e mais sufocante à medida que minha mente vagava para onde eu deveria estar. Ela saiu há algumas horas depois de perguntar se eu precisava de algo mais. Na realidade, mesmo respondendo que "não", tudo que eu queria era conseguir organizar meus pensamentos e formular uma única frase que mudaria toda a minha vida, para o bem ou para o mal.

Já passou da hora de eu admitir que seus olhos castanhos e grandes me chamam a atenção mais do que eu gostaria. Que todo o meu corpo se retrai quando penso que poderia tomá-la para mim; unicamente para mim. Eu consigo, ainda que não tenha experimentado o seu corpo contra o meu, sentir seu calor emanando contra a minha pele, abrindo caminho por meus poros e circulando por minhas veias, trazendo consigo o afeto e o conforto que eu gostaria de ter.

Não me lembro exatamente quando percebi que ela, a garota tola que invadiu meu escritório com sua petulância e ousou impor seu profissionalismo, tornou-se mais que apenas uma assistente. Para ser bastante sincera, eu sei bem do que eu não me lembro: de como eu era antes dela. Antes de ter seus pés ágeis e, hoje adaptados aos saltos altos, correndo de um lado para o outro para cumprir minhas demandas.

Não trocamos mais que algumas palavras voltadas ao trabalho, mas ouvir o som da sua risada através das portas de vidro fazia com que meu dia tivesse um ar diferente. Me incomodava o fato de que seu olhar havia perdido o brilho vívido que me energizava, então, com algum esforço, descobria que era devido à alguma nova discussão com seu namorado detestável. 

Como alguém ousa apagar tal brilho?

Antes eu sequer gastava erguia meus olhos para o céu, tentando me tranquilizar, ou pensava em algo além do trabalho e das minhas filhas, mas hoje... Hoje tudo que faço é divagar. Logo eu, que detesto qualquer desperdício de tempo com inutilidades. 

Depois que me vi sufocada por esse sentimento, procurando desesperadamente por formas de limitá-lo ou apenas esquecê-lo, tornou-se quase um ritual sentar-me no chaise do jardim para contemplar um momento à sós a fim de entender tudo que se passava comigo, estudando cada pensamento como se fosse impossível sentir tanto amor por alguém que eu sequer conhecia o suficiente. Às vezes eu chegava à conclusão de que era ridículo demais para colocar em palavras ou até para admitir, então deitava-me em minha cama certa de que colocaria um fim de uma vez por todas, mas na manhã seguinte tudo que eu fazia era me arrumar, inconscientemente, para ser contemplada por ela.

Eu sequer sei se ela se abriria para mim. Mesmo que consiga imaginar com uma riqueza extraordinária de detalhes diversos momentos compartilhados por nós, não sei se teria coragem de dizer em voz alta. Eu sou alguém importante para um mundo desconhecido por ela. E ela... Ela é importante demais para o meu mundo. Silenciosamente.

Todas as vezes que eu contemplava a imagem de nós duas juntas, compartilhando momentos únicos, vinha também à mente as lembranças de um casamento frustrado. Eu sempre soube muito bem que não sou uma pessoa fácil de lidar. Criei essa máscara para conseguir me erguer num universo profissional onde mulheres não são bem aceitas e precisei carregar comigo os fardos dessa decisão. Contudo, a frustração de nunca conseguir me ver num ambiente agradável e amoroso me fazia dar dois passos para trás antes de tomar qualquer atitude no que diz respeito à minha vida pessoal.

Não é justo envolver Andrea nessa névoa de incertezas.

O que eu poderia lhe dar? O que eu, carregando comigo tantas cicatrizes, poderia proporcionar a uma jovem cheia de vida e com anos pela frente? Não é justo pensar apenas em mim e colocar em palavras tudo que sinto, obrigando-a a lidar com essa informação aterradora. Não é justo colocá-la na posição de precisar lidar com uma Miranda aberta às emoções.