Prólogo;

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MARGOT CICCARELLI

ANOS ATRÁS; ÚLTIMO ANO DO ENSINO MÉDIO

Os ombros dele me incomodavam. Quase não dava para enxergar a lousa, por conta do seu tamanho. Era injusto, no Brasil é bem diferente, contando com a experiência que tenho sobre a minha antiga escola.
Nas escolas de lá, os menores obrigatoriamente eram colocados nas primeiras carteiras, ou seja, em ordem crescente com relação a altura.

Mas, não estava tão aborrecida assim. Me incomodava, mas em compensação, eu tinha uma bela vista de sua nuca, seus cabelos negros e ondulados, que nas pontas se tornavam amareladas por causa do sol que o encontrava.

Por mais que eu o conhecesse há pouco tempo, tinha uma ótima impressão vinda dele, ele me fascinava de uma forma inexplicável.

— Srta. Margot!

O professor exasperou, me assustando e fazendo a turma toda rir baixinho. 
E ele olhar para trás, com aqueles olhos.

— Sim, professor?

Não ousei olhar nos olhos do docente. Encarei seu suspensório.

— Dê continuidade à leitura, se é que você sabe onde estamos lendo.

DIAS ATUAIS…

— No fim das contas, eu não sabia onde enfiar a cabeça. O professor fez questão de me marcar pelo resto do ano, e a turma começou a me zoar por causa da minha leve queda pelo rapaz que sentava à minha frente. Esse foi o meu primeiro mico aqui, e eu continuo respirando, pelo menos. — Falei para Lívia.


Continuei, dizendo:

— Então, querida, não precisa se preocupar com um lugar novo. Se acontecer algo, logo as pessoas esquecem e se torna apenas uma lembrança divertida. Vai ser como a primeira vez, quando viemos do Brasil. Será legal.

— É diferente… — ela reclamou.

— Na época que viemos do Brasil, eu era bem mais nova. Não entendia quase nada. Agora, é diferente. É um curso técnico. Convívio entre adultos… Não é o ensino médio.

— Você pode até ter razão. Mas como você disse, é o mundo adulto. As pessoas, adultos, sabem lidar bem com novidades. Pessoas novas. Não é o ensino médio, como você mesma disse. — falei baixinho.

Lívia me encarou com compreensão, mas preferiu ficar em silêncio. Deixei meu lugar na poltrona e coloquei o livro sobre a mesa de centro, aproximando-me dela e sentando ao seu lado.

— Sei o quanto é difícil deixar um lugar que você já se apegou, já criou raízes, mas é necessário, às vezes.

— Pois é, mana… — ela disse com pesar.

Continuou:

— Mas deixa isso para lidar depois, mana. Me diz, o processo de transferência já foi homologado?

— Já sim! — respondi com tranquilidade.

— Mas, tipo, já que o hospital psiquiátrico vai fechar, como as outras pessoas que precisarem de tratamento vão ficar?

— Então, como aqui não houve mais pacientes, quando acontecer um, provavelmente vai ser transferido para o hospital mais próximo.

— Entendi! Mas aqui não tem outros hospitais que você possa trabalhar?

— Sim, mas nenhum outro tem ala psiquiátrica.

— Nossa, mana. Fico triste em saber. Psiquiatria é uma área tão necessária, apesar de todos os preconceitos que impõem a ela.

O Quarto 115 - Kim Taehyung. Onde histórias criam vida. Descubra agora