O Acordo

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5 de Agosto de 2004

Marcos já não aguenta mais procurar formas de garantir ao teimoso e desconfiado Augusto que sua palavra vale mais que qualquer outra forma de firmarem o acordo ao qual passaram a manhã toda discutindo. Sempre que Lombardi garante que ambos tem um acordo, Barbieri torna a encontrar brechas por onde suas palavras tornam-se inválidas.

- Já não sei mais o que preciso te dizer para que confie em minha palavra, Barbieri... -- Tenta não transparecer sua irritação.

- Palavras não valem de nada, amigo, vão-se com o vento com facilidade. -- Augusto volta a justificar sua insegurança. -- Preciso de algo mais concreto, algo que me faça ver que não lhe passará pela cabeça nos prejudicar.

- Pois que me sugira algo, só eu gastei neurônios até agora e tudo que disse foi refutado por você em segundos.

- Estou tentando pensar, amigo, quero que nosso acordo seja algo seguro para os dois, algo que também te prejudique se pensar em me prejudicar. -- Barbieri ignora o revirar de olhos de Lombardi. -- Não sou homem de ser passado para trás, não lhe darei brechas para me prejudicar.

- Fala como se não fosse do meu interesse nossa união.

- De forma alguma, nem estaria aqui se pensasse dessa forma, mas você não é ingênuo de pensar que vou confiar em sua palavra cegamente como se fosse um dos meus.

O silêncio volta a predominar no escritório gelado de Lombardi, o homem já não tem mais forças para argumentar, tudo que quer é que Augusto diga de uma vez o que deseja como garantia de sua fidelidade e que ele se retire para que possa apreciar seu uísque em sossego na presença de sua esposa.

Quase como se pudesse ouvir os pensamentos do marido, Catarina bate na porta do escritório para confirmar se de fato almoçariam juntos ou se a governanta da casa já poderia desfazer a mesa e lhe preparar uma marmita.

- Entre, meu amor. -- Marcos autoriza.

- Não quero atrapalhar, só gostaria de saber se ainda planeja almoçar comigo.

- Ainda não comeu? -- Marcos arregala os olhos em surpresa, quase em desaprovação.

- Ora, estava te esperando, homem. -- É o que sua esposa responde.

Ao cruzar os braços abaixo dos seios Catarina prende o vestido deixando à mostra sua barriga de cinco meses. Ali se desenvolve Valentina, a primogênita do casal Lombardi, a gravidez de Catarina não foi algo fácil de ser conquistada, após mais de cinco abortos finalmente estavam podendo apreciar a deliciosa experiência de aumentar a família.

- Está grávida? -- Augusto pergunta já formulando sua proposta.

- Estou, é a nossa menina. -- Responde Catarina orgulhosa.

- Nossa valente e cheia de saúde, Valentina. -- Marcos completa tão orgulhoso quanto a esposa.

- Acabo de pensar em uma forma de validar esse acordo, meu amigo. -- Augusto se levanta da poltrona e caminha em direção à Catarina.

Imediatamente Catarina leva as mãos até sua ainda pequena barriga em forma de proteção, Marcos também não se demora sentado atrás da mesa onde estava, quase que correndo se posiciona em frente a esposa fazendo barreira para que Augusto não se aproxime demais.

- Calma, calma... -- Augusto diz recuando os passos. -- Não quero lhes roubar a menina. Eu disse que não posso confiar em sua palavra como se fosse um dos meus, mas e se vocês se tornassem um dos meus? E se casassemos nossos filhos?

- Como? Sua esposa não está grávida. -- Marcos questiona.

- Minha filha não será usada como um objeto, não vou lhe entregar em casamento para firmar combinado nenhum. -- Catarina protesta.

- Sônia não para de pedir que tenhamos um filho, se conseguirmos concretizar essa gravidez ainda esse mês, nossos filhos teriam a mesma idade, poderíamos casá-los, isso faria com que de fato nos tornássemos um só.

- Já disse que minha filha não vai a lugar nenhum! -- Catarina reafirma.

- Nada nos garante que você teria um menino. -- Marcos argumenta.

- Mas isso não é importante, eles não precisam concretizar o casamento, podem só se casar no papel e que eles decidam como vai funcionar essa união. -- Augusto insiste. -- E quanto a levar a filha de vocês para longe, não faço questão que seja a filha de vocês a ir morar conosco, meu filho pode vir morar aqui, como preferirem.

- Sônia estaria de acordo com isso? -- Marcos pergunta ainda meio relutante com a ideia.

- Eu é que não estou de acordo, Marcos! -- Catarina esbraveja. -- Te proíbo de tratar minha filha dessa maneira, eu te proíbo!

- Precisa me dizer quem é que veste as calças nessa casa, amigo. -- Augusto debocha. -- Estou quase achando que passei a manhã discutindo com a pessoa errada.

Augusto nunca sonhou em ser pai, nem sequer se casou por amor, tudo em sua vida sempre girou em torno dos negócios da família em que nasceu, por essa razão não compreendia o motivo de tanta relutância do casal, eles poderiam ficar com a tão preciosa filha.

Barbieri também sabia que para um chefe de máfia, poucas coisas importam mais que sua fama, sabia que tudo que precisava para convencer Marcos a aceitar sua ideia era insinuar que seu poder estava sendo menor que o poder de sua mulher naquela decisão.

- Feito! -- Marcos lhe estende a mão. -- Mas só quando minha Valentina completar 20 anos, e seu filho é quem se mudará para nossa casa.

- 20 anos me parece a idade ideal. -- Augusto aperta a mão que lhe foi estendida firmando ali o acordo.

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Oi gente, quanto tempo kkkkkk estava pensando nessa fic há um tempinho já, mas fiquei com medo de vocês detestarem a ideia, então qual a melhor forma de saber a opinião de vocês? Perguntando pra vocês!
E ai, continuo ou apago e finjo que foi um surto coletivo?

Aaah, mais uma coisa, nessa fic nós vamos fazer de conta que o casamento homoafetivo é legal lá na Itália, porque sonhar é de graça e não dá cadeia.

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