Capítulo 1
Posen, Posnânia
6 de janeiro, 1814Uyara
— Matem ela! Essa traidora! — Belinda gritava aos ventos, enquanto corria desesperada em direção aos muros do castelo.
Senti uma leve espada cortar o meu braço, meus olhos antes azuis claros encontravam vermelhos sedentos pela carnificina. Antes de escalar o muro, encarei os vários guerreiros a minha frente cobertos por armaduras, cheios de armas e até mesmo mais altos do que eu, deixando bem evidente o preparo físico.
Ao topo a minha irmã com o grande vestido vermelho, usando a antiga coroa de pedrarias egípcias da minha mãe, com colar cheio de rubis, igualmente o anel e pulseira. Jóias ao qual nunca terei o prazer de usá-las se depender da última pessoa da minha família viva existente.
Peguei meu machado usando toda a minha força para matar o vampiro que me acertou, decepado ele em dois para depositar todo o meu ódio em si. Mal havia superado o luto da morte dos meus pais e logo meu irmão veio a falecer, simplesmente pelas mãos de Belinda, a qual colocou a culpa em mim por tudo e agora todos estão contra mim.
Encarei aquela diaba no fundo dos olhos com meus sentimentos à flor da pele.
O meu ódio a ela me motiva a matá-la.
— Eu vou matá-la, Belinda, vou servir sua cabeça em uma bandeja de prata. — Guardei o meu machado no local costumeiro.
Escalei o muro rapidamente com as unhas cravando cada vez mais nas paredes, usando meus pés como apoio e indo cada vez mais próxima até sentar em cima. Nesses momentos agradecia por ser tão forte quanto o meu irmão em batalha, sendo exemplar como sempre, a melhor guerreira desse castelo.
A Belinda é a mais bela, meu irmão mais inteligente e eu a mais forte.
Mesmo tendo apenas 1,60 de altura, os traços mais finos no rosto e a estrutura bem pequena em comparação a Belinda, que sempre teve o corpo esbelto e escultura.
(...)
Após dias caminhando consegui chegar em uma cidade aparentemente na divisa com a França, como não sou muito boa com geografia, pois eu nunca saí do castelo. Agradecia por não morrer de fome, sempre fui uma mulher forte, por isso comecei a pensar em maneiras de ganhar dinheiro rapidamente para comprar alguns utensílios necessários.
Necessitava comprar roupas, botas e demais coisas, ao qual não consegui trazer. Fiquei dias vagando sem absolutamente nada, agradecendo pelo inverno europeu não ter raios solares para acabar com a minha pele.
Vi um lugar cheio de mulheres movimentando de um lado para o outro, ambas brigando sobre quem iria levar uma caixa de bebidas para dentro, naquele momento percebi a oportunidade perfeita para ganhar um dinheiro.
— Posso ajudá-las? — Perguntei olhando as caixas.
— Claro, se conseguir.
Sem força alguma coloquei uma em cima da outra carregando com maestria para dentro, logo que coloquei os pés no lugar percebi que era bastante diferente dos demais lugares que vi rapidamente em minha demorada caminhada. Um local lotado de bebidas, mulheres e homens agarrando elas a pura realidade.
Fiz uma cara de descontentamento, não gostei muito da situação, contudo apenas levei as bebidas até onde era indicado. Logo que cheguei vi uma mulher fumando e bebendo, aparentemente era mais velha do que todas naquele lugar, por isso me analisou de cima a baixo como se fosse uma mercadoria.
— O que a trouxe aqui? Vestida assim não… — A interrompeu antes que prosseguisse.
— Ela é muito forte, ajudou a trazer bebidas para dentro. — Uma delas explicou, neste momento sorri sem jeito.
— Hum, dê licença para conversarmos. — Falou, ambas as duas foram embora. — Meu nome é Antonieta. O que te trás aqui?
— Eu… — Suspirei, o mundo humano não aceita vampiros tranquilamente. — Sou uma caçadora de vampiros.
— Faça-me o favor e seja sincera, mulheres não caçam vampiros. — Riu sem humor tragando o cigarro.
— Estou sendo sincera. — Afirmei e ela aparentemente começou a me entender.
— Bem, se é realidade, a onde está seu sicário? — Olhei para si buscando uma explicação. — Querida, se for verdade a senhorita deve caçar com um homem ao lado, pois nunca vai arranjar um trabalho de assassina assim.
— Por quê? — Estreitei as sobrancelhas franzindo a testa.
— Porque nós mulheres só arrumamos três empregos: dona de casa, meretrizes e trabalhadoras braçais na cozinha, limpeza e no campo… — Justificou calmamente como se fosse óbvio e evidente. — Mulheres médicas, advogadas… Um sonho longe e distante.
— Mas conhece algum sicario? — Ela pois o peso do corpo todo depositado na perna direita.
— Conheço sim, vários vem aqui quando fazem trabalho na França. — Disse como se fosse nem um pouco importante.
— Poderia me dizer mais sobre?
— Se é uma assassina, deveria saber. — Virou-se com discrepância. — Veja se alguma das meninas sabem de algo.
Entrei novamente naquele salão repugnante, quando vi uma mulher fingindo estar fazendo alguma coisa, porém era evidente a curiosidade sobre a conversa. Entretanto, se eu fosse sincera, falasse que quero um sicário para ser levada mais a sério e matar a minha irmã, não conseguiria saber de ninguém.
— Quer saber de um assassino? — Questionou com um sotaque irreconhecível.
— Se possível… Tem um vampiro me incomodando em minha residência… — Fingi estar falando uma verdade para ter mais informações.
— Se a senhorita tiver dinheiro contrate o Ronney Bordon, ele é o melhor, excepcional no trabalho, mas é muito caro. — Afirmou como se fosse uma inspiração. — Dizem que ele matou tantos vampiros, que até mesmo ele perdeu as contas.
— Então o homem é excelente.
— Ele tem boa reputação com as meretrizes, mesmo não vindo aqui com frequência. — Comentava com um breve sorriso.
— A onde posso encontrá-lo? — Ela pensou por alguns segundos.
— Ele mora na Espanha, em Madrid, mas vive pela França e Portugal, entretanto deve estar em uma cidade aqui do lado. — Pois a mão sobre o queixo pensando com calma. — Atualmente está tendo vários vampiros aparecendo na Polônia.
— Estranho demais, odeio essas criaturas medonhas. — Disse, ela apenas deu de ombros com indiferença.
— Não me mordendo, estou desinteressada com esse crápulas.
— Realmente, mas eles mataram meu irmão, estou detestando eles. — Ela me olhou com muita pena e tristeza.
— Meus pêsames. — Suspirou. — Ele deve estar em Valsehône, fica há alguns quilômetros daqui.
— Com quem posso obter mais informação?
— A padaria da frente sempre sabe desses assuntos. — Indicou com um breve sorriso. — Boa sorte.
— Obrigada.
Sai do local, passei em frente a uma loja de frutas vendo um rapaz roubando as frutas, isso me despertou uma ideia ao qual irei fazer depois. Passei algumas casas e entrei no lugar buscando mais conhecimento do assunto, onde apenas reforçaram o que já sabia no momento, apenas mostrou a direção da cidade.
A mulher dona da loja era quem me atendeu, aparentemente mulheres humanas eram mais simpáticas do que os homens.
— Está com fome? — Perguntou, apenas neguei com a cabeça. — Por favor, a senhorita deve estar faminta, tão branquinha…
— Não tenho dinheiro para pagar…
— Após tantos tartifundios, merece um agrado. — Me entregou o prato com o doce.
— Mas o sicário vem aqui com frequência? — Peguei uma colher tirando um pouco do doce e trazendo a boca.
Era extremamente divino.
— Ele adora doce de banana daqui. — Respondeu como se fosse costumeiro a visita dele. — Ronney já veio aqui, ele deixa evidente a quatro cantos seu ódio pela Belinda.
— Belinda? — Questionei, ela deu de ombros pondo o pano de prato sobre o ombro.
— Uma vampira. — Voltou ao caixa com insignificância. — São o mal da humanidade, eles vivem séculos e mais séculos, apenas matam sem pensar duas vezes.
Era simplesmente a comida mais gostosa que já havia provado, evidentemente a primeira, porém não dei ouvidos à mulher xingando a minha raça por inteiro. A mulher ficou empolgada em me ver alimentar com o doce, apenas sorri, se deliciando na comida.
Iria me juntar ao maior caçador da Europa, exterminar a minha irmã nem que seja preciso acabar com quem antes achava ser meus amigos.
— Esse é o melhor doce da minha vida… — Admiti, comendo o último pedacinho.
— Vinte e um anos não provou esse doce? — Questionou e neguei com a cabeça. — Vou lhe dar a receita, caso queira comer mais e não tenha como vir.
Em segundos sai com o papel de receitas em mãos e a minha barriga doendo, porém estava satisfeita pela delícia que provei.
Aproximei do banco em frente a um lugar cheio de advogados, apenas esperei a noite cair e diminuir a movimentação de pessoas. Nunca achei certo roubar de ninguém, contudo no desespero ninguém olha a ética moral, faria simplesmente o que deve ser feito no momento, ao qual poderia me arrepender ou não.
Enquanto o homem desceu da carruagem para entrar no banco, subi em cima sem o chofer me ver ficando escondida nos adornos da carruagem até movimentar para ir embora, logo que começou a se movimentar aproximei do chofer puxando o pescoço dele para cima e tirando do banco.
— O que está acontecendo, seu desgraçado?! Não sabe dirigir? — Era tamanha ignorância com o pobre homem, ao qual apenas tive pena dele naquele momento.
— Irei poupar sua vida se dirigir e não olhar para trás. — Orientei, o chofer parecia receoso. — Ele irá morrer de qualquer forma.
Após pensar por breves segundos, apenas concordou e o soltei imediatamente. Enquanto a carruagem se dirigia em meio ao matagal para onde seria a casa dele, respirava o cheiro de ar puro que as árvores proporcionam. Guiada pelo ódio desci para onde posicionou os pés para subir a dentro da carruagem, aparentemente ele havia trancado.
Encarava-me com ar de superioridade através do vidro, usando roupas altamente lotadas de adornos, evidentemente cocô branco no rosto, como um belo palhaço. Suspirei com impiedade, uma carruagem de metal e madeira, para mim quebrar isso é igual quebrar palito de dente.
Segurando no apoiador para abrir, firmei no local antes de socar o local arrebentando a porta, segurei no local puxando com força para fora, logo jogando a porta quebrada para o meio do matagal. Encarava ele com o mais puro ódio de vê-lo, como se eu antes tivesse algo contra si, entretanto pela maneira condizente que trata os funcionários, conseguiu atrair a minha ira.
— Como quebrou essa carruagem?! — Berrou incrédulo, apenas sorri deliciando com o medo, ao qual respirava pelas narinas.
— Da mesma maneira que vou quebrar seus ossos. — Respondi sem piedade, igual a minha irmã sempre fez, mesmo eu a odiando com todas as minhas forças.
Segurei ele no pescoço com força contra a carruagem, mordi para matá-lo imediatamente. Não demorei muito até arrancar cada gota de sangue em seu corpo, poderia me manter viva por um bom período de tempo caso não conseguisse me alimentar adequadamente que andasse ao lado do Ronney.
Retirei todo o ouro dele, guardando para mim como se fosse algo costumeiro e cotidiano. Roubá-lo foi mais fácil do que imaginei, por isso aproximei do cocheiro segurando nas grades, com um sorriso ensanguentado nos lábios.
— Fale que Belinda o matou a sangue frio por tê-la roubado.
Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, apenas me joguei com a carroça em movimento, após ter acusado a minha irmã em meu lugar, pois se ela quisesse jogar sujo, iria ser tão podre quanto ela.
Agora tinha a certeza que conseguiria matar a Belinda, pois me juntaria ao melhor caçador da Europa.
Faria Belinda cair do pedestal.
Custe o que custar.
A coroa nunca será dela.
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A inimiga do caçador - Livro 1 irmãos Cappel
RomanceEle é um caçador de vampiros. Ela é uma vampira. Ele teve a família morta por esses seres. Ela é uma princesa das sombras. Ele quer matar todos os vampiros existentes. Ela apenas se manter viva. Em discrepância da realidade, Uyara se vê obrigad...