Confissões de Uma Alma Arrependida

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O Peso do Luto, o Luto por Uma Vida de Arrependimentos

O vento frio chicoteava o rosto de Catarina enquanto ela observava o caixão de seu marido ser baixado à terra. Uma onda de náusea a dominou, não de tristeza, mas de um vazio avassalador. Uma vida inteira ao lado de um homem que ela nunca amou, um casamento arranjado pelas convenções sociais da época.

As lágrimas que teimavam em cair não eram de luto, mas de arrependimento. As oportunidades perdidas, os amores ignorados, a vida que se esvaiu em meio à rotina monótona e sem paixão. As lembranças a assombravam como fantasmas: os olhares apaixonados de um jovem poeta que ela recusou por medo do escândalo, a chance de viajar pelo mundo que ela trocou pela segurança do casamento, a paixão arrebatadora por um artista que ela reprimiu por julgá-la vulgar.

Catarina se viu presa em uma teia de "e se". E se tivesse seguido seu coração? E se tivesse vivido com mais intensidade? E se tivesse se permitido amar e ser amada? Agora, era tarde demais. O tempo havia passado, deixando apenas a amargura dos sonhos não realizados. Ao se afastar do túmulo, Catarina decidiu que não seria mais uma mera espectadora da própria vida.

A Sombra do Amor Perdido: 1964, Fernando Albuquerque

Era 1964, época de efervescência cultural e política. Os Beatles dominavam as rádios, a Guerra Fria dividia o mundo e no coração do jovem poeta Fernando Albuquerque, florescia um amor arrebatador por Catarina. Fernando era um sonhador, um romântico incorrigível que via em Catarina a musa inspiradora de seus versos. Seus poemas transbordavam paixão, retratando a beleza estonteante de Catarina, seu espírito livre e a chama ardente que consumia o poeta.

Em seus encontros clandestinos, sob a luz prateada da lua, Fernando declamava seus poemas com fervor, enquanto Catarina se perdia em seus olhos ardentes, hipnotizada pela melodia de suas palavras. Era um amor puro, intenso, que desafiava as convenções da época. Mas Catarina, presa às expectativas da sociedade e ao jugo de um pai tradicional, não se permitia entregar-se à paixão. O medo do escândalo, da reprovação social, era uma muralha intransponível. As palavras de seu pai ecoavam em sua mente: "Poesia não enche barriga!".
Com o coração dilacerado, Catarina recusou o amor de Fernando. O poeta, desolado, partiu com o coração em pedaços, levando consigo a lembrança da musa que jamais esqueceria. Ao longo dos anos, a sombra do amor perdido por Fernando a acompanharia. A cada poema que lia, a cada melodia melancólica que ouvia, Catarina era transportada para aqueles encontros secretos, para a intensidade de um amor que ela mesma havia sacrificado.

Em seu leito de morte, muitos anos depois, Catarina revisitaria seus erros. As lembranças de Fernando, agora um homem consagrado, um poeta renomado, a consumiriam com o amargo sabor do arrependimento. A história de Catarina e Fernando é um lamento à paixão sufocada, um lembrete da importância de seguir o coração e de nunca negar a força do amor verdadeiro. A sombra desse amor perdido a acompanharia para sempre, um fantasma que assombrava seus sonhos e a confrontava com a dura realidade das escolhas que fizera

A Farsa do Amor: 1975, Ernesto, o Fazendeiro Rico

Catarina, agora uma mulher madura, carregava o peso do arrependimento por ter recusado o amor verdadeiro de Fernando. O fantasma de sua paixão perdida a assombrava, intensificando a amargura que sentia em seu relacionamento sem amor com Ernesto. Ernesto, um fazendeiro rico e bem-sucedido, era tudo o que a sociedade considerava um bom partido. Ele era gentil, atencioso e a provia de uma vida luxuosa que Catarina nunca havia conhecido. Mas, para ela, ele era apenas um vazio a ser preenchido, um escudo para as dores do passado.

Em 28 de novembro, o dia em que o grande escritor Érico Veríssimo partiu, Catarina e Ernesto se conheceram. A ironia da data não passou despercebida por Fernando, que era um grande fã do autor. Ele viu na morte de Veríssimo um prenúncio do que seria o relacionamento de Catarina: uma obra fadada ao fracasso.

Catarina, movida por interesses mesquinhos, não enxergava em Ernesto o homem amável que ele era. Ela se aproveitava de suas posses, vivia uma vida de ostentação e superficialidade, sem dar valor ao amor genuíno que ele lhe oferecia. Ao longo de dois anos de namoro, Catarina traiu Ernesto diversas vezes, buscando em outros homens a paixão que nunca encontrou em seu casamento. Ela se envolvia em aventuras fugazes, buscando saciar um vazio que só o amor verdadeiro poderia preencher.

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