Luz da Ruína - Spin Off

Real perigo

  Já era inverno no enorme reino de Terynas, mas a neve ainda não havia chegado a sua capital. Os finos raios de sol que vazavam por entre as densas nuvens cinzentas iluminavam os cabelos castanho-claros esvoaçantes de uma jovem que percorria as estradas de paralelepípedo com pressa. Ofegante, a garota com seus recém-formados 16 anos, olhos verdes bem claros e um sorriso brilhante, ansiava para encontrar alguém. Seu nome era Wanessa, da importante família Lotus, e morava na cidade comercial de Anrhy desde que nasceu.

  Terynas era um reino enorme cercado por montanhas, vales e pântanos. Segundo as lendas, existiam criaturas sombrias que circundavam o reino, organizando ataques somente durante o inverno. Por essa razão, o rei concentrava suas forças da Guarda Real nas duas principais cidades do reino, sendo elas Anrhy, a grande cidade comercial que arrecadava 60% da riqueza do reino, e Gwerth, a capital real onde se encontrava o castelo. Alguns diziam que devido a isso os moradores destas duas cidades jamais avistaram as criaturas das lendas, já que seus ataques se concentravam nas vilas externas, enquanto outros já nem acreditavam nestas histórias. Existindo ou não os tais monstros, todos evitavam sair durante o inverno, assim como a própria família de Wanessa. Porém, isso não impedia a menina de dar umas escapadas.

  Após correr bastante para perto da fonte Luc, a menina respirou fundo ao colocar ambas as mãos sobre as coxas e inclinar o corpo, se recuperando do cansaço. Sem demorar muito, ela puxou uma moeda de ouro da pequena bolsa de couro que carregava e a observou brilhar sob um fraco raio de sol. A fonte tinha este nome porque muitas pessoas jogavam seus lucs, as moedas douradas, na água, em troca de desejos. Era uma tradição muito antiga, pois ninguém nunca soube explicar a origem. Sobre a funcionalidade, alguns diziam que seus desejos foram mesmo realizados, enquanto outros ainda estavam esperando. Sendo alguém que acreditava, Wanessa não pensou muito. Moveu seu braço para trás e lançou a moeda na água, concluindo a ação com um grande sorriso. Assim que o fez, um sujeito se aproximou dela, dizendo:

− Viu? É só lançar a moeda que eu apareço. Seu desejo foi realizado!

− Mark!

  Disse ela, admirada ao ver o rapaz. Este era Mark Isilde, um integrante da Guarda Real de Terynas, como sua armadura reluzente e capa azul demonstravam por si sós. Ele tinha 19 anos e já era um cavaleiro há pelo menos uns dois. Wanessa e Mark haviam começado um relacionamento fazia duas semanas, mas ainda estavam escondidos por pedido de Mark, que informou que precisava avisar sua família antes. Segundo ele, sua família lhe havia arrumado uma pretendente, mas ele acabou se apaixonando por Wanessa e precisava obter uma posição melhor na Guarda para poder assumir o relacionamento e viver com ela, já que ele provavelmente perderia seus direitos financeiros de linhagem por ir contra a vontade do patriarca da casa.

  Wanessa foi muito compreensiva quanto a isso, afinal, ela se apaixonou por ele e queria que tudo desse certo para ambos. Era o seu primeiro amor que estava acontecendo neste momento e isso a deixava extremamente feliz e empolgada.

  Mark levava Wanessa para passear pelos pequenos campos floridos que rodeavam a entrada sul da cidade de Anrhy, sempre em dias menos movimentados para evitar serem vistos juntos em programas românticos e suspeitos. No campo, Mark lhe entregou um buquê lindo, que ela certamente desejaria guardar em um jarro de sua casa se fosse possível levá-lo, o que certamente não era o caso. Tudo o que ela recebia era momentâneo e por essa razão o próprio Mark evitava lhe presentear com itens valiosos como colares e outras joias, pois Wanessa não poderia levar para casa mesmo. Após lhe entregar o buquê, ele lhe perguntou:

− Aceita ir comigo amanhã até a casa abandonada na saída norte, no fim da tarde?

− Na casa abandonada?

− Sim. Assim nós poderíamos ter uma pequena amostra do que será nossa vida de casados. Só você e eu dentro de uma casa inteiramente nossa.

  O pedido de Mark era tentador, afinal, isso era o que ela mais desejava. Viver ao lado de seu amado perfeito, uma vida a dois, é claro que ela não tinha motivos para negar. Uma troca de beijos foi sua resposta, deixando ambos ansiosos pelo que estava por vir. A experiência de estar casada com Mark a alegrava, a fazia imaginar situações onde ambos se sentavam na varanda apreciando a brisa juntos, preparavam algo bom para comer ou até se deitavam juntos, aconchegados, para lerem histórias de romance. Era uma vida perfeita, muito além do que ela poderia pedir.