Perdão [ Cegan ]

te odeio mais que tudo

As coisas ficaram estranhas após aquele dia infernal. Carl não falava com as pessoas e todo o céu de Alexandria estava nublado, combinando com o clima melancólico que estava aquela comunidade, parecendo cada vez mais vazia.

Aqueles cinco dias foram suficientes para Carl processar os ocorridos e decidir que queria buscar vingança por aqueles que morreram, e seu ódio por Negan aumentava cada vez mais, misturado com repulsa, um nojo daquele homem que nunca teve por qualquer pessoa antes.

Naquele momento Carl estava com Judith, preso em sua nuvem de pensamentos aleatórios até alcançar algo que valesse a pena refletir sobre, para no final chegar em um assunto que ainda estava confuso em seu coração, um pensamento que ele tentava evitar a todo custo nos últimos dias, mas que era impossível fugir agora que as coisas estavam tão ruins.

Enid…

Ele realmente gostava de Enid, arriscava dizer que até mesmo tinha um interesse na garota, mas seu coração nunca palpitou de verdade para ela, nunca sentiu aquele sentimento incrível que os contos românticos da Biblioteca prometiam, nunca sentiu seu estômago borbulhar e ferver como um vulcão. Na verdade, ele sequer sabia como isso era com qualquer outra garota que teve contato antes, apenas as achava bonitas e beijáveis, nada que despertasse tanto interesse ou uma atração física real pela coisa. Merda, ele sequer sabia o que era estar apaixonado.

E havia algo que o fazia ficar extremamente incomodado com a jovem garota nos últimos dias. Seu olhar de pena e o sorriso forçado de consolo como se ele fosse alguém prestes a quebrar a qualquer momento, fazendo Carl fugir todas as vezes que ela ameaçava se aproximar para conversar. Ele não precisava de consolo das pessoas, mas sim de soluções para os problemas que estavam sofrendo no momento, eles não tinham tanto tempo para gastar com conversas que não adiantaria de nada no final das contas.

Seus amigos haviam morrido, não havia como voltar atrás, a única coisa que poderiam fazer era guardar as memórias em seus corações e seguir em frente, lutando contra o causador de tanto sofrimento como fizeram várias vezes antes. Ele estava triste, é claro, mas cada um tinha sua forma de ficar de luto, e essa era a forma que Carl encontrou de lidar com as coisas, mas Enid parecia não entender isso.

Seus pensamentos sobre a jovem foram logo dispersos por uma voz melancólica o chamando. Carl processou os arredores a sua volta somente na terceira vez que seu nome foi dito por seu pai. Rick estava cada dia mais quieto e abatido, seus olhos mantinham os sentimentos de alguém que havia sido espancado várias vezes e torturado por mil anos como um animal.

— Eu estou saindo agora, fique de olho na Judith para mim por hoje, por favor… — Sua voz soou mais baixa que o normal, fazendo o coração de Carl se apertar, mas ele engoliu a melancolia goela abaixo e olhou para seu pai com um sorriso suave, confirmando com a cabeça com confiança como sempre fazia quando algo dava errado.

— Eu vou, pode ir! Vou ensinar Judith a pintar hoje.

— Você é um ótimo filho, Carl, muito obrigado — Abraçou o jovem garoto e bagunçou seus cabelos, fazendo o mesmo com Judith, para apenas depois alcançar a maçaneta e ir embora.

Quando Rick saiu pela Porta, Carl tirou O sorriso do rosto, sua expressão ficando mais fria do que gelo, voltando a alimentar sua irmã mais nova com o mingau de aveia que havia preparado para o café da manhã.

Sua paz não durou muito tempo após seu pai sair. Carl estava na sala sujando as mãos de Judith de tinta até que alguém chutou a porta da casa com brutalidade, arrebentando a fechadura em segundos. Carl imediatamente alcançou sua arma e apontou para quem quer que fossem aquelas pessoas que entravam na casa sem permissão.

— Abaixe essa arma garoto, se não vamos estourar seus miolos! Sua irmãzinha vai amar pintar os desenhos dela com o seu sangue — O mais alto ameaçou enquanto outros três reviraram a casa em busca de algo para levar. Qualquer coisa que achassem interessante estavam levando para o lado de fora e depois voltando para buscar ainda mais.