Era um dia de rachar no meio do deserto, um sol de lascar banhando a vastidão das areias. A única coisa que se destacava em meio à imensidão era um possante militar que lembrava um dos antigos engesa, sulcando o terreno arenoso a toda velocidade e arremessando nuvens de areia por onde passava. A sombra dele se alongava pelo chão, pintando uma imagem inquietante contra o brilho cegante do deserto.
No interior da cabine, o calor era apenas ligeiramente menos asfixiante. Entre instrumentos de leitura oscilando e rádios chiando com estática, Aaron estava recostado, com o rosto pálido e os olhos fechados. A expressão era de desconforto, a viagem, embora necessária, não lhe tinha feito bem.
— Você está bem, Aaron? — perguntou um dos homens que estava logo a sua frente, o bigode sujo de areia. Seu tom de voz era rígido e seu cabelo dançava com o vento empoeirado.
— Acho que o higris não me fez bem — disse Aaron.
O motorista, sem desviar os olhos da pista incerta à frente, permitiu-se uma breve risada. Ele então alertou:
— Eu disse a você, nunca se deve comer higris em dias quentes, muito menos frito.
Aquela advertência veio tarde demais, mas prometia ser uma lição que Aaron não esqueceria tão cedo.
— Vou lembrar disso da próxima vez — Aaron respondeu, parecendo meio aéreo. O calor lá fora estava de matar, e o interior do carro não estava muito melhor.
Em meio ao riso retumbante do motor e ao zumbido da agitação interna, um dos homens manobrou ao lado de Aaron e estendeu uma garrafa. O líquido dentro estava parcialmente oculto pela sombra, mas se movia de uma maneira que sugeria alguma viscosidade.
— Suco de Catalpa — revelou o homem, observando Aaron com um olhar que era metade simpatia, metade diversão.
— Deveria acalmar o seu estômago — disse ele, encarando Aaron com um sorriso enquanto seus corpos balançavam para um lado e para o outro na viagem.
Aaron examinou a garrafa, depois o homem.
— E por que você anda com isso?
O homem deu de ombros.
— Faz mal a mim também, o higris — ele admitiu, um sorriso brincando em seus lábios.
— Mas não consigo deixar de comê-lo. Depois que você realmente experimenta, não há nada que se compare no lugar para onde estamos indo.
Com um aceno de cabeça hesitante, Aaron aceitou a garrafa e tomou um gole cuidadoso, sua expressão muda instantaneamente.
— É amargo! — disse Aaron, esmigalhando os olhos.
O homem sorriu.
— Você vai se acostumar — ele garantiu.
— Minha mãe tem um pé gigantesco de Catalpa em casa, sabe? No caso de alguma "emergência".
Aaron devolveu um sorriso cortês, mas claramente não tinha interesse nesse pedaço de informação. Algo no olhar do homem sugeriu uma consciência disso, mas ele continuou: — Ah, e eu sou Sérgio Martarof, a propósito.
— Aaron Dorrosh — respondeu, devolvendo a garrafa.
Os olhos de Sérgio se arregalaram inesperadamente.
— Dorrosh? Você é Aaron Dorrosh? O filho de Calar Dorrosh?
— Ele serviu aqui, não foi?
Aaron, surpreendido, mas orgulhoso, confirmou com um aceno de cabeça.
Os outros homens, pegando o nome, trocaram olhares surpresos e depois começaram a rir, suas risadas preenchendo o carro enquanto continuavam a viagem, agora com uma nova energia.
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A Honra do Hackaleiro
HorrorEste mundo, marcado pela guerra de montarias, revela criaturas de espécies desconhecidas. Cada animal, dotado de habilidades singulares e mortais, é tanto uma arma quanto uma força vital para seu guardião. Em meio ao caos, surge uma organização pri...