Capítulo Um

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Acordei com a luz do sol queimando o meu rosto. Estava um calor insuportável. Olhei para o relógio de pulso que marcava dezesseis horas. As janelas do quarto estavam fechadas e as cortinas abertas. Um cheiro muito forte de cigarro e vômito impregnava o quarto. Era por causa do vinho barato. Garrafas vazias e latas estavam espalhadas pela cômoda. Minha boca estava com um gosto horrível. Levantei ainda sonolento e tropecei em um homem pelado que dormia no chão ao lado da cama. Eu não sabia quem era ele. Não lembrava muito o que tinha acontecido durante a madrugada. Ele não se mexeu mesmo eu quase pisando em cima dele.

Levantei ainda sonolento e abri a janela para entrar um pouco de ar. Peguei uma cueca branca jogada no chão, só depois que a vesti, percebi que não era minha. Atravessei o quarto e fui até a cozinha para beber um pouco de água gelada. Deparei com outros dois homens dormindo abraçados no sofá. Eu não gostava de levar desconhecidos para casa, mas acabava ignorando as minhas próprias regras quando bebia demais. Algumas memórias surgiram fora de sequência. Eu tinha ido ao Bar do Jão ouvir música de rock, jogar sinuca, e encher a cara, como tenho feito com frequência. Devo ter exagerado na maconha e no álcool, outra coisa que venho fazendo muito. E quando passo do limite assim fico com tesão e acabo transando com qualquer pessoa que demonstre interesse. Dessa vez tudo levava a crer que foram com três homens. Uma madrugada de orgia com desconhecidos. Eu nunca deixava ninguém dormir em casa. Eu devo ter apagado antes de mandar todo mundo embora. Resolveria isso depois. O que mais precisava agora era tomar um banho.

Nenhum dos três acordou e preferi deixá-los dormindo para não ter que lidar com aquela situação. Eu acho que o nome de um deles era Rodrigo. Tinha uma vaga lembrança de conversar alguma coisa com ele. Sai de casa para tomar café na padaria de esquina. Não tinha nada para comer em casa e estava morrendo de fome. Eu precisava tomar café. Não queria encontrar com nenhum deles depois. Estava torcendo para que eles fossem embora depois de acordar.

Enquanto caminhava mandei uma mensagem para o meu padrinho. Tinha dois grandes problemas para resolver. Eu ia precisar da ajuda dele desta vez:

"Oi padrinho, boa tarde. Tudo bem? Estou precisando de dinheiro para pagar algumas contas. Tive alguns imprevistos."

Ele me respondeu minutos depois:

"De quanto você precisa?"

Eu fiquei na dúvida, se pedia o valor total que precisava naquele momento para resolver de vez a situação ou se pedia só parte do dinheiro. O restante eu podia dar um jeito. Estava com medo de ser interrogado. Acabei arriscando o caminho mais fácil:

"Preciso de dez mil."

Às vezes eu pedia dinheiro para ele. Ele nunca tinha deixado de dar. Nunca tinha pedido um valor tão alto. Arrependi logo depois de mandar a mensagem. Não deu tempo de apagar a mensagem. Recebi uma notificação do banco:

"Pix recebido com sucesso. Você recebeu um Pix de Antonio S. do Banco Corporativo no valor de R$10.000,00."

Eu não tinha pedido antes por medo de perguntas. Tentei resolver as coisas do meu jeito e não estava conseguindo. Não tinha outra saída. Eu já tinha pensado em algumas mentiras. Ele não falou mais nada.

O único parente vivo que tenho é o tio Antônio que também é meu padrinho. Não nos encontramos com muita frequência. Ele sempre está ocupado demais trabalhando. Eu estou sem ocupação há quase um ano. Desde que meus pais morreram, é ele que me dá apoio financeiro. O meu apartamento e o meu carro foram presente dele quando completei dezoito anos. Todo mês ele me dá uma generosa mesada e eventualmente eu acabo tendo que pedir um dinheiro extra. Não sou muito controlado financeiramente e acabo sempre gastando demais. Eu me acostumei com esta situação, mas dinheiro que vem fácil, vai fácil. Apesar de todo o conforto, às vezes acabo gastando tudo, e tenho que recorrer a ele. Não tinha começado a trabalhar ainda, usava os estudos como desculpa. Fiquei um ano fazendo cursinho para prestar vestibular, depois fiz um ano de engenharia civil, acabei trancando o curso, depois um semestre de direito que também tranquei e nunca consegui passar no vestibular de medicina. Eu perco o interesse pelas coisas muito rápido. A verdade é que eu gostava da vida boa de festa, sexo, drogas e bebidas, e evitava ao máximo uma rotina de estudo e trabalho. Estava a uns três anos vivendo com essas justificativas. Eu sei que meu padrinho sabia disso, mas ela nunca me pressionou nem cobrou nada. Acho que era a forma dele demonstrar que se importava comigo e que faria tudo o que estivesse ao alcance dele para que eu tivesse uma vida tranquila. Ele ganhava bem, tinha uma produtora e distribuidora de conteúdos audiovisuais. Eu não queria abusar da boa vontade dele. Ele já tinha me oferecido emprego algumas vezes na produtora, me dando a liberdade de escolher com o que e com quem trabalhar. Eu acabei não demonstrando muito interesse e ele não me cobrou nada. Acho que eu gostaria de trabalhar na parte de produção técnica de algum filme. Eu deixava as coisas sempre para depois, e o tempo passou, e não corri atrás. Sabia que a qualquer momento, era só pedir, que a vaga era garantida.

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⏰ Última atualização: Apr 24 ⏰

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