Luiza se espremeu dentro do elevador, como uma sardinha enlatada. Estava nervosa. Através do reflexo do espelho, tentou discretamente alinhar os fios castanhos que estavam espetados no topo da cabeça, porém sem muito sucesso. Bufou enquanto uma sensação de incômodo começava a se instalar
Quando a porta do elevador abriu e o fluxo de pessoas empurrou-a para fora, ela respirou fundo e endireitou a postura ao caminhar na direção dos balcões da recepção.
— Bom dia. Sou Luiza Vasconcelos, a nova funcionária — disse, esforçando-se para manter uma expressão calma.
Até o cheiro do lugar era agradável e tudo exalava luxo e modernidade.
— Só um momento — a recepcionista respondeu prontamente.
Ela tentava enganar a sua ansiedade admirando os quadros no hall, até ser interrompida pelos passos curtos que ecoavam no corredor. Uma mulher vestida com a elegância de roupas sóbrias, segurava um arranjo de flores. Luiza não pôde deixar de notar o penteado impecável: o clássico cabelo loiro, abaixo das orelhas.
— Finalmente você chegou. E já está atrasada, logo hoje que temos a reunião com o novo CEO — disse e voltou a caminhar, na direção oposta, ignorando-a por completo.
Luiza a seguiu e tentou se explicar, lançando um olhar nervoso para o relógio que estava na parede.
— Bom dia! Eu tinha entendido que meu horário começava às oito, pelo menos foi o que me informaram.
A mulher colocou o vaso de flores sobre o aparador, centralizando-o bem abaixo do quadro. Depois, voltou sua atenção para a recém-chegada. A sua máscara de profissionalismo caiu quando examinou Luiza, dando uma atenção extra para os fios eriçados no topo da cabeça.
— O horário da 'diretoria' é às oito. Nós, que não fazemos parte da diretoria, precisamos chegar com antecedência! As salas precisam ser verificadas e tudo precisa ser organizado antes que todos cheguem — retrucou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
Luiza continuou a segui-la enquanto tentava ajeitar os cabelos. Estava tão nervosa que nem percebeu quando chegou numa sala imensa, com dezenas de baias e funcionários trabalhando a todo vapor na frente dos monitores.
Ela olhou ao redor.
— Qual é a minha mesa de trabalho? — questionou, contudo, sentiu um arrepio na coluna vertebral ao ver o sorriso estranho se formando nos lábios de sua anfitriã.
— Oh, minha querida, não se preocupe com a mesa. Aqui, temos muitas tarefas a serem realizadas antes que você possa se sentar.
Luiza engoliu a seco, estava tentando usar toda a sua simpatia, sem muito sucesso.
— Desculpe, mas não sei seu nome.
— Meu nome está no meu crachá — indicou para o pequeno objeto fixado em sua camisa social com os dizeres "Clara Antunes".
— Eu não vi — murmurou, sentindo-se cada vez mais desconfortável com a dinâmica entre elas.
Clara apontou para uma mesa vazia que ela poderia usar e explicou a situação de forma breve e sem paciência:
— Sua contratação foi fora dos nossos padrões, mas alguém na agência de empregos te indicou, então eu não questionei. Normalmente, eu daria conta do recado, mesmo que estivesse sem dormir e com gastrite — suspirou alto. — Mas o Thomas, o filho mais novo, antecipou o retorno e voltou dos Estados Unidos esta semana. Ficarei à disposição dele, então você ficará à minha disposição.
As informações caíram sobre ela como uma avalanche, deixando-a momentaneamente atordoada. Antes que pudesse raciocinar ou esboçar alguma reação, uma funcionária apavorada surgiu na porta, e veio em direção a Clara. Ela usava o uniforme de copeira e mal conseguia respirar e falar ao mesmo tempo.
—Não temos água mineral francesa que o Senhor Olavo gosta.
O semblante de Clara ganhou uma tonalidade sombria. Como se uma catástrofe tivesse acontecido.
— Incompetentes! Como deixaram isso acontecer? Vá comprar rápido.
Clara parecia ser alguém que exercia a sua pequena tirania em horário comercial, para massagear o seu ego.
— Pegue a bandeja de café que está na cozinha e me siga.
Luiza estremeceu e paralisou ao ouvir a primeira ordem direta.
— Vai ficar parada aí? — Clara ralhou, olhando-a com severidade.
Ela tentou desesperadamente avisar que não possuía uma coordenação motora e nenhuma habilidade em servir café. Em seu antigo emprego era fotógrafa, ela carregava uma câmera pendurada no pescoço e, ocasionalmente, algumas latinhas de cerveja. No entanto, Clara não parecia inclinada a exercer sua empatia frágil, exigindo que Luiza se apressasse.
Quando olhou para a bandeja parecia o próprio diabo olhando para a cruz. As xícaras de porcelana, um bule de água fervente e o açucareiro pareciam ser maiores e mais pesados do que realmente eram. Outro arrepio macabro percorreu a coluna em menos de um minuto e Luiza sentiu o suor brotar em sua testa
— Que Deus me ajude — murmurou.
Respirou fundo e tentou segurar com força nas alças. Logo no segundo passo que deu, o pé deslizou no assoalho e sentiu o salto do sapato escorregar. Ela lutou para manter o equilíbrio com a bandeja, mas alguém apressado esbarrou nela, e o pior aconteceu.
Primeiro Luiza perdeu o equilíbrio, depois veio a sensação repentina de estar em queda livre e finalmente caiu no chão como uma jaca madura.
Imóvel no assoalho olhava os objetos no ar rodando devagar, como se estivessem em câmera lenta, mas o seu coração disparou de susto ao ouvir um berro de dor, seguido por um palavrão bem cabeludo — que envolvia a sua mãe a atividades sexuais ilícitas. Alguém recebeu em cheio os respingos ferventes da água.
Ainda caída no chão, o olhar dela se cruzou com o dele: eram olhos azuis, não era azul celeste, nem o turquesa, era azul cobalto, intenso e frio como o mar do Norte. Dois icebergs à deriva. Ela ficou petrificada ao perceber o ódio que transbordava no rosto masculino. O dono daqueles olhos a mataria ali se não tivessem testemunhas.
Sentiu um nó se formar em sua garganta, sufocando-a com uma mistura de vergonha e desespero. As lágrimas ardiam em seus olhos, prontas para transbordar a qualquer momento, mas ela lutou contra elas com todas as suas forças. Queria se desculpar, queria gritar, queria entender a sua total falta de sorte. Não fazia nem quinze minutos que começou no novo emprego e já seria demitida: isso com certeza seria um recorde mundial. O medo de perder o emprego e a vergonha de ter sido o centro de atenção em sua primeira manhã eram esmagadores, e ela mal conseguia reunir coragem para olhar para cima e enfrentar os olhares de reprovação ao seu redor.
Tentou se levantar, mas escorregou no chão molhado, caindo novamente. Ela conseguiu ouvir os risos abafados. Uma mulher espalhafatosa, que parecia ter saído de um filme dos anos oitenta, foi a única pessoa que veio socorrê-la, já que todos os outros funcionários estavam preocupados com o homem que foi atingido pelo bule. Antes de sair pela porta, os seus olhos se cruzaram uma vez mais. E ele renovou silenciosamente a promessa de que a mataria ali se pudesse.
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Sobrevivendo ao meu chefe
RomanceLuiza consegue um emprego temporário em um prestigiado escritório de investimentos. É nesse ambiente que Luiza conhece Thomas e Thiago, dois irmãos que são polos opostos em personalidade, mas igualmente cativantes. Thomas é o tipo de homem sério e c...