Not Alone

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"Era mais um dia comum para mim, estávamos na troca de professores e eu estava sentando na sala conversando com Jeonghan sobre como as meninas da outra turma pareciam mais velhas do que de fato eram enquanto Hannie rabiscava a última folha do meu caderno.
- O que é isso? - Perguntei a ele, apontando para algo que ele havia escrito.
- Uma "dica" musical. Você pensa numa música, mas não escreve ela. Você escreve o álbum, o ano que ele foi lançado, o número da faixa e se você quer falar algo em específico você coloca o tempo, assim! - Jeonghan circulou o que acabara de escrever, sorrindo para mim.
- Você realmente não tem nada melhor para fazer não é?
- Essa é uma ideia genial, não pode discordar!"

Eu nunca neguei que Jeonghan era muito esperto na maior parte do tempo, suas façanhas quase nunca eram descobertas, ele sabia jogar. E ali estava eu desvendando mais um de seus truques, mas era só isso? Não, com certeza havia mais alguma coisa que ele queria dizer com aquele papel, com aquele trecho da música.

"Eu não estou bem e não está tudo certo. Você não vai atravessar o lago e me trazer de volta para casa? Quem vai me consertar agora? Mergulhar quando eu estiver lá embaixo? Me salve de mim mesmo, não me deixe afogar."

Caminhei pelo molhe de volta, avisando Seokmin que iria caminhando para casa, mas não disse que faria um caminho diferente dessa vez. Enquanto caminhava, coincidentemente encontrei um prédio residencial chamado "Sea Spirit" que me chamou a atenção. Olhei para os números no papel, pensando que era loucura fazer aquilo, mas talvez fosse ser o mais certo a se fazer. Jeonghan com certeza faria isso.
Tentei combinar os números do papel algumas vezes, até que um deles finalmente deu certo. Entrei no prédio, observando as coisas em volta. Ao entrar no elevador, vi que ia até o nono andar, então apertei no numero 9 do painel, sentindo as borboletas em meu estômago em festa. Ao sair do elevador, caminhei lentamente pelo corredor, prestando atenção nos números de cada apartamento, parando em frente ao 122. Respirei fundo, olhando aqueles números na porta e o pedaço de papel em minhas mãos. Será que pelo menos uma vez o destino havia resolvido me dar essa força? Respirei fundo e toquei a campainha, dando um passo para trás.

- Oh... boa noite! Precisa de ajuda? - A moça... a moça da foto no bar. Ela me perguntou em português, e por mais que eu soubesse algumas palavras por causa do Seokmin, ainda não fazia tanto sentido assim.

Eu não sabia o que dizer, ela menos ainda, pois estava analisando cada partezinha do meu rosto, como se estivesse tentando me reconhecer. A expressão dela mudou de curiosa para surpresa rapidamente, fechando a porta na minha cara. Fiquei sem entender o que havia acabado de acontecer ali, então continuei encarando a porta por mais alguns segundos antes de começar a caminhar lentamente de volta para o elevador. Apertei o botão e fiquei aguardando o elevador chegar no andar enquanto eu continuava tentando entender o que estava acontecendo. A garota estava ali, mas por que aquela reação? Será que ela sabia alguma coisa que eu não sabia? Com certeza. Mas o que era? Por que tanta surpresa? Suspirei e entrei no elevador, mas antes que a porta se fechasse por completo, alguém colocou a mão, fazendo com que ela abrisse novamente. Eu, que estava cabisbaixo perdido em pensamentos, levantei a cabeça devagar, não evitando me assustar ao ver o que acontecia diante dos meus olhos.
Aquela mão me puxou novamente para fora do elevador, me soltando assim que saí. Eu estava completamente paralisado, os olhos marejavam e a boca estava seca enquanto eu olhava para aquele que eu há tanto tempo procurava.

- Seu idiota! - Ele me disse, fungando. - Por que demorou tanto?!

Seus cabelos que costumavam ser loiros quase dourados, agora eram pretos e estavam úmidos provavelmente por conta de um banho recém tomado. Os olhos vermelhos e lacrimejando denunciando que estava fragilizado ao me ver depois de tanto tempo... A expressão corporal exalando cansaço, mas ainda sim um sorriso único em meio a toda aquela bagunça na qual ele se encontrava naquele momento. O meu primeiro amor estava ali na minha frente, me perguntando o porquê eu demorei tanto para vir até ele.

- Me... me desculpa, Hannie... - Foi a única coisa que consegui dizer antes que a minha visão ficasse totalmente embaçada por conta das lágrimas insistentes.

- Onde você esteve? Onde?! - Não consegui dizer nada, apenas o abracei apertado enquanto ele chorava junto comigo no corredor. - Ddaddu...

- Estou aqui... eu estou aqui, meu anjo... - Tentei conter as lágrimas e me afastei brevemente para poder olhar Jeonghan nos olhos.

Segurei em suas bochechas e limpei as suas lágrimas com os dedões, sorrindo ao perceber que aquilo não era um sonho, não dessa vez. Ele estava ali, eu estava sentindo seu rosto e vendo seu sorriso de perto. Eu havia encontrado meu lar novamente.

- Eu... eu não vou mais te deixar sozinho de novo... eu, eu te prometo. Eu vou cuidar de você! Vamos pra casa, vamos.

- Calma... Helena vai ficar preocupada se sairmos assim tão depressa. Venha, ela quer conhecer você, e eu tenho tanto pra te contar...

Jeonghan segurou em minha mão, me puxando de volta para o apartamento. Ele me apresentou para sua amiga e vice-versa, mas claro que ela deveria me conhecer já, pela expressão que fez ao me ver e fechar a porta na minha cara. Ele também me mostrou o apartamento e me contou sobre como teve a brilhante ideia de me escrever aquele bilhete.

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