Capítulo IV

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Este dia era diferente. Sobretudo porque não olhava para a porta com o mesmo objetivo dos outros dias. Olhava, sim, mas esperando por ela.

Escrevi no caderno que ela vinha. Descrevi tudo ao pormenor. Tinha de resultar. Eu queria que resultasse.

Lia tudo pela enésima vez, tentando ver se me tinha escapado alguma coisa, se tinha cometido algum erro... Afinal, estávamos a falar de prever o futuro. Não podia errar.

A minha concentração foi perturbada pelo barulho da porta e da campainha.

Não olhei de imediato. Este era um momento muito importante.

Previ o futuro? Perguntava em silêncio na minha mente.

Era ela.

A Alexandra entrou na loja.

Nem tive tempo para raciocinar muito mais quando o Cosme sai da sala e diz, com um tom estridente:

- Menina Alexandra, obrigado por ter vindo.

A Alexandra contornou o balcão e entrou na sala, sem sequer olhar para mim.

*

O clima dentro da sala era tenso. Cosme tentava manter a postura. Sentou-se na poltrona, cruzando a perna e acendendo um charuto.

Alexandra encostava-se à mesa. Ambos fitavam os olhos um do outro, num claro tom de desafio.

Cosme quebrou o silêncio.

- Porque é que voltaste? Pensei que tínhamos um acordo.

- Tínhamos um acordo até que descobri que me mentiste.

Cosme já sabia que ela tinha descoberto. Tentou gerir a situação.

- Sempre soubeste apenas o que precisavas de saber.

- Vocês não respeitam a memória dele!

Alexandra mostrava-se visivelmente irritada, quase emocionada.

- Isto não é sobre ele. Deixou de ser sobre ele a partir do momento em que o que ele descobriu pode ser muito útil à Humanidade.

O Cosme facilmente irritável dentro do grupo era neste momento um homem calmo e sereno.

Alexandra deu um murro na mesa.

- Tretas! Ambos sabemos que o que tu queres é dinheiro! E fama! À custa dele! Eu não vou desistir.

E saiu de rompante.

Cosme continuou a fumar o seu charuto.

*

Eles estavam aos berros!

Ninguém me deixava digerir o que quer que fosse.

Se eu queria tentar compreender aquela entrada na sala da Alexandra, ou o facto de ter sido o Cosme a telefonar-lhe, não podia, porque ela acabava de sair exatamente da mesma forma brusca com que entrou. Eu não entendia nada. Ela veio à loja... Mas foi ele que a convidou. Eu não tive influência nenhuma.

Deite a cabeça nos braços apoiados no balcão, desiludido.

*

Ele andava para trás e para a frente, com a mão direita no bolso e a esquerda atrás das costas como, aliás, sempre foi seu costume.

Os seus passos, para trás e para a frente, eram o único ruído que fazia companhia às suas respirações curtas e pausadas.

- Tenho de voltar. A Alexandra precisa de mim.

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⏰ Última atualização: Jul 02, 2015 ⏰

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