Sorriso - Pitanda

capítulo único.

11 de julho.
Hoje meu pai chega de mais uma de suas viagens de trabalho.

...

Em dois dias será meu aniversário de 19 anos. Lembro quando me sentava embaixo de uma árvore de carvalho no quintal de casa, eu e mamãe tínhamos muitos planos para esse dia, muitos desejos. Essa era nossa diferença de idade, 19 anos. Ela sonhava em me levar ao seu restaurante favorito, aquele que conheceu ainda grávida de mim, pediríamos martínez e passaríamos a noite olhando a cidade. Quando o relógio desse meia noite, iríamos cantar alguma música do Jota Quest. Eram bons planos, mas ela se foi a cinco anos e agora passarei esse dia trancada em meu quarto, observando nossa árvore enquanto tomo uma grande e forte xícara de café. Sozinha.

Não posso julgar meu pai por se casar denovo. Ele é um homem jovem e muito rico. Não posso julgar sua esposa por quere-lo tanto, novamente, jovem e rico.

Posso me julgar. Isso eu posso e isso eu faço todos os dias a três anos. Desde que ela chegou.

Fernanda Bande, agora Marinho.

Nanda é daquelas mulheres que te prendem com o olhar, sabe? Eu nunca saberei explicar a sua beleza. Quando ela sorri para você é como se o mundo parasse e apenas aquele momento importasse. E eu tenho uma coisa que ninguém mais tem, uma coisa que nenhum homem jamais conseguiu dela.

Quando ela me olha, ela olha apenas para mim, não importa mais nada e eu posso afirmar que o mundo para, para para nós.

Eu sou uma idiota.

...

Ela estava lá, sentada ao lado direito na enorme mesa da sala de jantar. Ao lado direito dele. Ambos me observando descer a escada.

- Bom dia, meu amor. Não te vi ontem, achei que fosse me esperar acordada.

- Bom dia, pai. Foi um dia cansativo, desculpe. Bom dia, Nanda.

- Bom dia, pequena.

Dei um longo abraço em meu pai e um sorriso para Fernanda, digamos que a mulher não gosta muito da linguagem toque. Bom, isso é o que ela diz, ao meu pai...

A manhã seguiu como sempre, casual. Ele falava sobre a empresa e nós ouvíamos como se fosse um assunto absurdamente interessante. É chato, mas ele gosta. Todo homem é assim? Quando entende de um assunto só fala sobre ele e todos ao seu redor sabem menos ou nunca terão argumentos suficientes para debater? Porque aqui em casa é.

Nenhum "como foram seus dias?", "como está a faculdade?", "o que vamos fazer amanhã?" Amanhã...

Eu gostaria de ter um plano, algo divertido para fazer. Mas não tenho, não com ele aqui.

...

- Que cara feia é essa?

A morena, cujo cabelo bate na bunda, disse se jogando em minha cama.

- Você não sabe mais bater na porta?

- Por quê eu deveria bater?

- O que você quer, Nanda? Eu estou ocupada.

- O que vamos fazer amanhã?

- Como assim? É quarta, eu tenho aula e meu pai não está do outro lado do país.

Ela tirou o computador do meu colo e segurou minha mão.

- Pequena, é seu aniversário de 19 anos. Não me interessa se você tem aula ou se seu pai está aqui. É seu aniversário.

- Não quero comemorar, se essa foi sua pergunta.

Soltei sua mão e voltei a atenção para meu computador