Algumas mudanças não costumam ser muito fáceis, há pelo menos três meses me forço a levantar da cama e tentar fazer algo, alguns amigos me ligam constantemente, assim como meus pais, que mesmo longe sempre se mantêm por perto. Permaneço deitada em minha cama, vejo, por uma breve fresta da janela, um raio de sol adentrando o quarto e atingindo minhas pernas e, ao olhar para a tela do meu telefone noto algumas ligações perdidas do meu amigo de longa data. Desde que mudei para outra cidade, ele tem me ajudado nos meus dias mais difíceis. Ouço a caixa postal e todas as mensagens de voz que Tony havia deixado para mim.
"Bom dia, raio de sol, liguei para você algumas vezes, penso que está me ignorando como de costume, tenho boas notícias, passo na sua casa por volta das onze horas para lhe contar, não se preocupe em fazer algo para comermos, irei levar uma deliciosa lasanha, por favor, esteja pelo menos viva."
Ele sabia que eu nunca cozinhei depois daquilo. O relógio do meu celular indicava que ainda eram 10:25, eu ainda tinha tempo para tentar levantar, tomar um breve banho e aguardá-lo chegar. Tony costumava ser bastante pontual.
Meu apartamento um dia já foi um lugar bem iluminado pelo sol, cheio de esperanças e cheirava a comida fresca. Agora, cheirava a solidão e lembranças as quais são as únicas coisas que posso me segurar para não esquecê-lo. Sentei-me no sofá, agora bagunçado, minha visão da cozinha era privilegiada, a bancada em mármore preta ainda parecia nova, como se nunca tivesse sido usada, chegando mais perto, poderia ser notado depois de muito observar uma leve rachadura onde uma vez fizemos amor depois de uma briga. Um pequeno sorriso escapou dos meus lábios com o vislumbre de uma memória apaixonada.
— Ah, aí está você! — Disse Tony entrando no meu apartamento sem nenhum problema desde que lhe dei uma cópia da chave. — Não diga nada ainda, a corretora me ligou hoje de manhã, acho que tentaram falar com você.
Tony sempre foi um homem diferente, não apenas fisicamente, sua pele era bronzeada como se tivesse acabado de tomar sol, ombros largos que lhe davam uma aparência máscula, estatura mediana, não que ele fosse baixo, mas isso claramente o incomodava, sua beleza chamava atenção por onde ele passava. Seu rosto sempre estava relaxado, era fácil arrancar um sorriso dele, seu bom humor era de deixar qualquer enjoado, que já o fez se meter em várias confusões.
Afundei mais no sofá enquanto tentava focar no que Tony falava, ele era o tipo de pessoa que dava voltas e mais voltas para contar algo.
— Tony! — O interrompi. — Seja mais objetivo, por favor.
— Oh, estou sentindo uma onda de negatividade vindo daí — Disse ele andando em direção à porta que dava diretamente a varanda do meu apartamento e abrindo totalmente as cortinas. — Preciso que você me diga se ficará com a casa, a corretora me ligou para informar que ela está pronta para sua mudança, ela não sabia que o Leon... — Sua pausa dramática me incomodava muito mais do que a palavra que ele se esquivava de falar em minha presença.
— Morreu. — Falei apressadamente. — Morreu, Tony, tudo bem falar que ele morreu.
Um sorriso amarelo tomou conta de seus lábios. Dentro do meu peito eu não sentia nada, o que era estranho, poucos meses atrás aguardava ansiosamente por essa casa, pela mudança, um lugar maior para aproveitar minha vida nova ao lado do Leon. Tínhamos tantos planos...
— Sem querer atrapalhar seu momento perdida na sua mente, preciso que você me dê uma resposta sobre a casa até amanhã
Desde que o Leon se foi, Tony tem cuidado de mim e de tudo o que eu não tenho tido forças para lidar, praticamente tudo que envolvia meu Leon.
— Vou ficar com a casa. — Falei sem hesitar. — Me mudo na semana que vem.
Tony ficou me encarando por alguns instantes, não consegui decifrar o que aquele olhar queria dizer, talvez surpresa ou admiração por me ver finalmente tomando decisões sem que ele interfira a pedido meu. Ele fez minha mesa de centro de acento, ficou bem em frente a mim, por algum motivo ele parecia incomodado, como se quisesse me dizer ou perguntar algo.
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Gostaria que você ficasse
RomanceJade perdeu seu marido há poucos meses e luta contra a escuridão que tomou de conta da sua vida após essa grande perda. Seria ela capaz de lidar com a dor de uma perda e seguir em frente? O árduo trabalho de se reeguer irá fazê-la resistir encontrar...