Só mais um Clichê [KTH + JJK]

Romance com mistério - Capítulo III

Eu nunca fui tão bom em desenvolver mistérios.

A maior prova cabal disso é o meu mais novo livro. Aquele que estou definhando dia após dia para escrever insignificantes parágrafos, um mísero por vez. Entretanto, posso dizer que o resultado desse compilado de insignificâncias, tem se mostrado bem apreciável. Mesmo sem quase nenhum mistério, o que é fruto da minha total e completa impaciência.

Eu odeio enrolação, acho que vocês já perceberam. E isso reflete completamente na minha escrita, nas minhas decisões e inevitavelmente na minha desastrosa vida amorosa.

O meu novo romance tribunalesco, tinha tudo pra ser uma esfinge impenetrável de enredos interligados e reviravoltas de tirar o fôlego, mas não tenho o menor saco para criar personagens que não dialogam ou que fazem "cu doce" para qualquer coisinha. Resultado: até então, todo mistério criado em um capítulo, é solucionado no capítulo seguinte.

É, eu sei, não dá nem tempo de criar teorias! Estou trabalhando para melhorar isso.

Mas diferente da vida dos personagens dos meus livros, no instante em que fui ameaçado juntamente com o atual namorado do meu melhor amigo, a minha vida se tornou um belo mistério de Agatha Christie. Sem os assassinatos, é claro. Apesar de hoje, eu estar me sentindo morrendo lentamente, envenenado pela saudade que tenho dele.

De todos eles, na verdade.

Como vingança por todas as vezes que não concedi aos meus amados leitores o deleite que é poder se debruçar em arcanas teorias, a vadia da vida me jogou no centro de um redemoinho de mistérios dos quais era impossível eu consegui escapar. Não por inaptidão. Posso não ser bom em desenvolver mistérios, mas sou craque em resolvê-los. É fácil depois de passar meio ano sabático maratonando todas as séries investigativas disponíveis nas plataformas de stream, depois de lançar uma trilogia de comédia romântica tão melosa que aumenta qualquer taxa de açúcar no organismo de uma pessoa já no prólogo. No fim, você aprende a ler entrelinhas, perceber falas, e a notar sutis mudanças de... comportamento...

Espera...

Eu sou fraude!

Estou aqui discursando o quanto é fácil criar habilidades investigativas a partir de séries televisivas enquanto a minha vida desaba por não ter percebido algo que estava escancarado bem na minha frente!

Realmente eu sou uma completa fraude!

Mas deixando de lado a farsa que me tornei. Voltemos ao mistério daquela noite.

Estava debruçado sobre o balcão da cozinha, encarando meio bolo de chocolate solado, tentando entender a relação existente entre o Yoongi e meus vizinhos. Mas como poderia chegar ao ápice da compreensão se não tinha nem metade das informações cruciais?

Eu não sabia nada sobre os três, nem sobre o Yoongi eu sabia muito, afinal ele era namorado do Jimin e não meu. Eu não tinha nenhuma obrigação de saber mais do que o essencial sobre ele. Ou seja: