VÊM OS VENTOS UIVANTES, TRAZENDO O cheiro primaveril da brisa do fim de Setembro. Anuciai que meu adorodo amado vem ao meu encontro, vem para me encher por inteiro. O que tenho que fazer é continuar passiva, aceitando tudo. Permaneço esperando em nossa casa, olhando, sentindo a brisa que deposita flores de Ype rosadas, sendo destaque entre meus cabelos negros e grossos.
O choro do meu filho me aflige, tendo fazer-me sair da minha paz. Coloco-o em meus braços, confortando das cólicas e dos medos pequenos, assombrosos — do mesmo tamanho e entendimento que tem.
Meu bem, meu menino, meu Júlio César, meu bebê, meu lindinho. O que eu faria por ele? Como poderia protegê-lo dos perigos do mundo? Mataria por ele, sem pensar duas vezes. Ele é o meu ovinho, meu precioso ovinho que guardei por nove meses em meu útero. Ele era uma parte de mim, meus olhos, minha risada, meus cabelos, meu nariz.
— Mamãe te adora muito, muito, muito mesmo, sabia? — Sussurro no ouvido minúsculo.
O balancei de um lado ao outro, sentindo o acalmar. Meu bebê.
O estrondo da porta abrindo ecoa na sala de estar; meu amado chegou. No seu rosto há aquela expressão rígida que sempre esteve no rosto cansado, as olheiras grandes e roxas, afundando seus olhos prateados.
— Você chegou. — Falei em um tom esperançoso.
— Sim, cheguei, minha querida. — Aproximou-se e me presenteou com um beijo terno nos lábios.
Mesmo que breve, senti o gosto do álcool nos lábios dele. Um início de cólera dentro de mim.
Nem mais falou comigo, já foi tomar um banho — isso demoraria um século. Júlio César dormiu em meus braços, ele me amava tanto quanto eu o amava. Beijei a testa dele, o deixo no berço, com a segurança que ele estava em paz e seguro.
Quanto o que pode mover a determinação de continuar nessa rotina de mãe de família devota? Mas haveria outra coisa em vida que sei fazer além disso? Não, só me ensinaram a ser esposa e mãe. Me alienaram por tanto tempo, desde que sou gente, que não tive um tempo de sair e explorar o que realmente queria. Só me restou aceitar essa vida.
Tenho o que quase todas as mulheres almejam: estabilidade, um marido fiel, um bebê bonito, tempo a disposição, todos os produtos que quero... Mas o amor de Victor, meu esposo, é tão evasivo, me dói. Não é egoísmo, é uma necessidade. Ele não me deseja como antes, depois de Júlio nasceu só me enxergar como mãe, não como mulher que também tem desejos carnais. O sexo não é o mais importante, mas para mim, honestamente, me é uma falta enorme, um vazio. Eu sou uma mulher, sou de luxúria, quero ir ao êxtase, ir ao orgasmo — é um fardo ter que fingir.
Depois do jantar, estamos na cama, observo as costas nuas de Victor, concentrado em papéis do trabalho — como era belo concentrado. Movida por lascividade, abraço-o pelas costas, deixando a respiração na nuca, mordendo a orelha e dando beijos nas costas. Tenho a resposta de suspiros e rigidez.
— Sinto sua falta. — Falei entre os beijos.
— Eu também, Lúcia, eu também...
Assim, prosseguiu uma noite similar com a qual Júlio César foi concebido. Uma parte minha descansou, meu desejo de meses de falta foi saciado. Entreguei-me ao meu amante, como quem dar-se ao carrasco. Eu ainda queria mais uma prova de amor. A parte carnal estava em Ceasar Fogo, mas a espiritual com fome.
Queria mais, muito mais.
Uma fome sem saciedade, uma gula.
— Me prove seu amor por mim. — Ordenei pela manhã. — Você me ama? Se sim, quanto?
Ele fica em silêncio, olhando para os próprios pés, com um beicinho e cenho enrugad. De repente, ele se levanta, indo em direção a gaveta da cabeceira. Ficou assim por um longo período.
— Lúcia, você quer mesmo saber?
— Ora, sim!A gaveta é aberta, de dentro, um punhal é retirado, chamando minha atenção, acelerando meu coração e congelando meu sangue.
— Minha querida, eu transformaria suas costelas de Adão em asas de anjo, me ganharia em seu sangue doce, sufocaria seu pescoço, para ver seus olhos sintilarem, e devoraria seu coração, como se ele fosse o alimento mais protéico da terra.
Era isso que eu queria, essa sinceridade, este amor! Ah, Deus, como adorei tal declaração! Tanto amor, tanto amor!
Fora o ápice do romantismo de Victor. Andei até ele, segurei o punhal, com os olhos vendo este visual tão belo, então sei permição para transportar suas palavras em ações. Ele poderia na matar como uma vaca ou um porco, afinal, não sou nada além de carne.
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Epifania Romântica
Short StoryVos escrevo prosas manifestadas em contos e crônicas que saem de minha mente durante devaneios longos, presentes, rápidos, futuros ou passados. Enxergue isso como uma coletânea de tudo o que escrevo, sem uma conexão certa. A proposta é intimista, re...