Velha infância

|Solidão..

—Por que a vida dói tanto?—Julieta resmunga entre lágrimas sentada do terraço da escola.

Ela não estava pronta para deixar as coisas irem. O fluxo da vida seguir.

Por que dizer adeus dói tanto?

Era cedo demais,por que haviam partido afinal?Ela não conseguia lembrar a razão pela qual havia feito intercâmbio. Eles queriam que ela se encontrasse?Mas quem precisa se encontrar?

Sua vida estava bem,simples e segura. Ela não estava preparada para uma vida diferente.

Mas quem está?

Havia tantas coisas que queria dizer..Muitas coisas que precisava contar.

Mas ela não disse a tempo..

Ouviu passos calmos mas duros vindo em sua direção. Sabia quem era.

—Se fingir de forte não anula sua dor. Os covardes são feitos pelo fingimento e a covardia em fugir ao invés de encarar as coisas.—Hélio,seu avô a dizia com sua típica voz monótona.

Era verdade. Ela fugiu. Não era culpa dela afinal. Precisava de um tempo sozinha.

Poderiam ter se passado horas, ter se passado minutos. Quem estava contando afinal? Era o espaço pessoal dela,deveriam entender. Não é todo dia que se recebe a notícia que seus pais morreram afinal.

Ela sempre brigou muito com eles,principalmente com sua mãe. Eles a controlavam,queriam decidir a vida dela.

Mas ela nunca os quis mortos. Quem desejaria isso para os próprios pais? Talvez desejassem isso da boca para fora,mas a verdade é que ninguém quer saber a vida sem eles.

—Os covardes são feitos pelo medo vovô.E eu não estou tentando ser forte,nunca tentei,só quero espaço para pensar. A vida é dura demais para eu desperdiçar com atos mal pensados.—Julieta disse de forma fria. Essa não era ela...

Mas ela não queria uma conversa agora,suas amigas sabiam disso,por isso não a seguiram.

—A vida é feita para viver e não para pensar ou planeja-la. Os planejamentos não se vão com você quando morrer,são apenas poeira nesse vazio. Pense nisso.— Hélio termina dando um beijo na bochecha de sua neta e vai embora,deixando sua neta cheia de pensamentos.

Porém um deles se sobressaia entre os outros.

Para onde vão nossos pensamentos quando nos silenciamos e deixamos de dizer o que sentimos?

—Castanheiras não é linda? As fotografias só a deixam mais bela em minha opinião.— Karen exclama um pouco feliz. Ao contrário de Lívia,que ainda queria ir atrás de Julieta.

—Amigas não são para dar apoio? Então que tipo de amigas somos?Ela está lá sozinha e estamos aqui! Nós temos que-

—Ela precisa pensar. Amigos são para apoiar em todos os momentos sim,mas ela precisa de um tempo sozinha,um tempo para entender o que ela quer e o que precisa e isso é algo que infelizmente não podemos dizer a ela.— Karen diz pondo a mão no ombro da irmã,Lívia por sua vez apenas assente desanimada.

—Eu acho que vou comer algum doce daquela loja,com certeza vou ficar melhor com isso,igual você com as fotografias.— Karen assentiu sorrindo minimamente e viu sua irmã mais velha ir correndo a uma loja de doce. As vezes duvidava se ela realmente era a mais velha das três.

Karen então decide ir até a praia tirar mais fotos. Ela liga sua playlist para se sentir mais inspirada e põe os fones sem fio no ouvido. Segundo ela,tudo fica melhor com um pouco de música.

Ela vê a vista perfeita, suspira ao imaginar aquela foto pendurada no seu mural de fotos do quarto e sorri animada. 

Quando ela finalmente posiciona a câmera perfeitamente calculada....

—Ora,ora. Se não é a maluca raivosa da escola..— Karen vê o moreno na frente da sua câmera e fecha a cara.

E toda paz que Karen havia conquistado com suas fotografias é arrancada,assim como seus fones, por um moreno cacheado irritante.

Vou tentar publicar outro amanhã. Tentar.