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«𝐒/𝐧 𝐃𝐞𝐜𝐥𝐚𝐫𝐨𝐢𝐱 𝐏𝐎𝐕»
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Enquanto seguro as cinzas em minhas mãos, ouço a porta de aço se abrir. Passos pesados ecoam pela sala e meus olhos acompanham o desconhecido com um prato em mãos.

Ele me olha com desprezo, uma expressão de nojo e satisfação misturada em seu rosto ao ver meu estado vulnerável e aflito. Seus olhos brilham com uma crueldade desumana.

-- Trouxe algo para você comer, acho que merece pelo menos uma refeição. -- Ele me olha atentamente, seus olhos refletem maldade.

-- Vai a merda, isso deve estar péssimo. -- Digo encarando o homem olhar para o prato de soupa.

-- Deve estar uma delícia, eu quem fiz. -- Eu ri sarcasticamente por sua certeza. Ele observa, procurando pela graça.

Seu punho se fecha e deposita um soco na mesa de madeira já apodrecida, ecoando em meus ouvidos. Sua mão empurra fortemente o prato em direção da parede, fazendo toda a sopa se espalhar pelo chão e pelos azulejos. O som do impacto reverbera no ar.

-- Ops... acho que preciso parar de ser tão desastrado. -- Um sorriso sarcástico se formou em seus lábios e o mesmo saiu da sala, me deixando sozinha novamente.

Meus olhos são direcionados para a sopa que escorre pelos azulejos sujos e nojentos. Pedaços aparentemente ser vegetais e uma carne duvidosa estão no chão, enquanto o cheiro da comida passa pelas minhas narinas.

Eu respiro fundo e percebo que vou ficar sem nenhuma alimentação por enquanto, então tenho que sair daqui o mais rápido possível, antes que morra de fome.

Me arrasto pelo chão passando minhas mãos pelos azulejos brancos manchados de vermelho, procurando por alguma possível saída. As manchas pretas de mãos parecem me guiar até um caminho de repetição, encontrando nada além de mais motivos para meu estômago se revirar.

Cada som que eu escuto passa a ser ensurdecedor, me deixando incomodada por não estar acostumada estar em um ambiente tão quieto e sujo. Sinto o vômito preso em minha garganta enquanto observo uma tripa no canto da sala, aparentemente ressecada. Tento desviar minha mente daquilo, mas é tarde demais quando coloco tudo o que havia em meu estômago para fora.

A ardência em minha garganta enquanto o suco gástrico se mistura com o vômito, fazendo-me apertar minha pele já sensível, sentindo minha garganta se rasgar ainda mais. Eu me afasto um pouco do meu vômito e tento respirar, fechando meus olhos, torcendo para que algo de bom acontecesse, como se alguém pudesse simplesmente me tirar daqui.

Tento encontrar forças e motivações para continuar, me convencendo levemente que há uma maneira de sair daquele inferno. Mas o desespero passa a me consumir aos poucos, como fogo em papéis encharcados de álcool e deixando eu me sentir morta a cada minuto que se passa naquela situação.

As dores do meu corpo são uma barreira para a minha esperança de sair do local ainda com vida. Cada ferida aberta parece ser uma contagem regressiva para o fim, enquanto meu sangue jorra pelo chão, pintando o ambiente com meu sofrimento.

Nunca passou pela minha mente que meu livro da vida poderia ser finalizado pelas gotas do meu próprio sangue.

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»𝐒𝐚𝐝𝐢𝐞 𝐒𝐢𝐧𝐤 𝐏𝐎𝐕«
17:59 PM

Estávamos a caminho do aeroporto, mas apenas agora a gravidade da situação começava a passar pela minha mente. Minha preocupação e ansiedade me dominavam no banco do motorista, como se estivesse dirigindo para trás, rumo a um destino desconhecido. Nos bancos vagos, os sentimentos de medo, culpa, ansiedade e preocupação pareciam dançar, confundindo minha mente e dificultando minha concentração na estrada. Cada quilômetro parecia uma eternidade, enquanto minha respiração se tornava cada vez mais curta e entrecortada.

Tínhamos passo em nossas casas para pegar apenas o básico para uma viagem. Quando estivermos em Paris, a gente se vira.

Billie e Millie estavam juntas no carro da frente, enquanto eu optei ir com o meu. Elas entenderam, eu precisava de um momento sozinha e ficar com meus pensamentos.

Minhas mãos seguram o volante com tanta força, sem a menor intenção de soltar. É como se eu estivesse agarrando não apenas o volante, mas também os traços suaves das mãos de S/n com seu sorriso vívido que ainda ecoa em minha mente. O sentimento de angústia me abraça com uma enorme intensidade, me envolvendo como os braços da garota rodeando meu corpo.

A dor de cabeça intensa me incomoda ainda mais quando penso no que pode estar acontecendo com S/n. Um medo profundo de dar de cara com o pior cenário possível: encontrar apenas seu corpo, sem as batidas fortes em seu peito, sem o calor reconfortante de sua presença ao meu lado. Sem o som de seu suspirar pesado sempre que algo não havia saído como o planejado.

Meus olhos não passam de uma barragem prestes a se romper, podendo desmoronar a qualquer momento. O borrão da minha visão estava da mesma forma quando pensei sobre o que realmente sinto pela garota cujo coração ouvi se rachar em uma terça-feira à noite. Cada pensamento é como uma flecha afiada, perfurando meu peito e fazendo com que as lágrimas tentem escapar.

Em um piscar de olhos, me vejo prestes a comprar a passagem para Paris, sem um sentir dúvida ou incerteza em minha mente.

Eu oro, implorando para que S/n seja forte o bastante para aguentar mais algumas horas com vida.

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«𝐒/𝐧 𝐃𝐞𝐜𝐥𝐚𝐫𝐨𝐢𝐱 𝐏𝐎𝐕»
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Abro meus olhos pesados e respiro fundo, percebendo que havia desmaiado mais uma vez.

Olho para minha perna e percebo que foi levemente cuidada, assim como meus outros ferimentos, mas eles ainda estão abertos e expostos, vulneráveis à sujeira do ambiente imundo. Cada ferida aberta é um convite para a infecção.

A sala permanece na mesma condição nojenta, a sopa espalhada pelo chão agora está infestada de moscas. Meu vômito não escapou, sendo agora um ponto de atração para os insetos.

Me sinto um total nojo e incapaz de sair dali.

Simplesmente sinto a morte cada vez mais perto, se tornando a única companhia na sala.

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Wattpad tirou a atualização da história 🫠

CAPÍTULO NÃO REVISADO!

𝐓𝐡𝐞 𝐃𝐞𝐬𝐢𝐠𝐧𝐞𝐫 - 𝐒𝐚𝐝𝐢𝐞 𝐒𝐢𝐧𝐤 (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora