Em algum momento das nossas vidas, estaremos tão destruídos que iremos atrás de uma válvula de escape emocional. Qualquer coisa que seja capaz de nos fazer esquecer só por um momento aquele sentimento sufocante que se rasteja lentamente, pronto para nos fazer desmoronar a qualquer momento.
Eu amava quando chovia.
Eu achava muito estranho a alegria que eu sentia sempre que via o céu começar a escurecer e o vento começar a se manifestar arrepiando todo o meu corpo.
Aquilo era uma sensação maravilhosa. Minha pele começava a furmigar como se estivesse ansiosa para sentir aquelas gotas geladas baterem contra o meu rosto e ser envolvido por todo aquele frio.
Eu não conseguia entender o motivo dos adultos fugirem da chuva, como se ela fosse queimar a pele deles caso não estivessem com um guarda-chuva ou algo em cima da cabeça deles para os proteger, mas eu me perguntava, os proteger de que? Aquelas pessoas nunca experimentaram correr no meio da rua enquanto as suas roupas ficavam encharcadas? Ou apenas se sentarem em um cantinho e aproveitarem
o momento?Eu as considerava tão sem noção naquela época que nem percebia que era eu que parecia um sem noção ali. Um garoto sentado em um degrau com roupas inapropriadas para o frio correndo o risco de ficar doente enquanto ficava conversando com o nada na visão das pessoas.
Ninguém podia culpar a minha inocência.
Pelo menos eu não era a única criança. Sempre havia algumas crianças da minha idade ou mais novas brincando nas poças de água ou apenas correndo por aí enquanto sentiam o suor se misturar com as gotas de chuva, mas nunca ficavam tanto tempo como eu, quando começava a ficar tarde, as mães delas gritavam seus nomes para entrarem dentro de casa para não pegarem um resfriado ou então usavam o jeito mais eficiente que era a boa e velha ameaça que funcionava muito melhor.
Elas eram uma boa companhia para mim, eu costumava brincar bastante com elas até minhas pernas começarem a implorar por alguns segundos de paz e meus pulmões agradecerem por voltarem a receber ar novamente. Era extremamente divertido.
Não diria que éramos amigos nem nada do tipo, apenas, algo parecido com isso somente quando a chuva começava a cair sobre nossas cabeças, depois disso, só me restava um único amigo no mundo inteiro. Amiga no caso.
A chuva.
A chuva era minha única parceira, minha companheira e aliada de guerra. Para que eu precisava de amigos da minha idade quando a minha melhor amiga existia desde o começo dos tempos e era mil vezes mais impressionante e mais sábia do que eles?
Ela sempre estava comigo quando os dias começavam a ficar difíceis demais para suportar sozinho, além de conseguir aliviar toda a pressão que ficava nos meus ombros.
As gotas fortes e geladas contra a minha pele eram muito boas de sentir, elas deslizavam pelo meu rosto de uma forma delicada e fluida. Eu imaginava que cada gota que caia no meu rosto era um beijo dado pela chuva, beijos repletos de carinho e de segurança. O frio às vezes incomodava bastante, mas era só um mínimo detalhe, não me importava de o enfrentar contanto que eu pudesse ficar naquele momento tão especial.
Quando eu me entregava naquele abraço frio em volta de mim, eu sentia outra sensação, era algo parecido com conforto ou relaxamento ou então, paz. Era como se não existisse absolutamente nada naquele momento, só existia uma criança de nove anos de idade aproveitando um fenômeno comum da natureza.
Apesar de todos os sentimentos diferentes que eu sentia quando estava debaixo da chuva, eu sempre percebia que existia um que era incrivelmente forte e abundante sobre todos os outros, ele fazia questão de predominar toda a minha área sentimental e agia como um lembrete do porque ele existia em mim.
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Beyond the Limits of Desire
Random"Você é complicado. Eu sou complicado. Nossa relação é complicada. Mas eu não consigo te deixar ir porque eu te amo, porra. Amo o jeito como você geme meu nome enquanto te tenho nas mãos, minha doce aranha. Amo saber que você pode me destruir se qui...