Capítulo 9

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Era tanta gente andando de um lado para o outro que Zayora se sentiu tonta. O coração dela começou a bater descompassadamente e ela ficou zonza. Pensou estar perto da parede o suficiente para se apoiar mas falhou e escorregou.

Sentiu uma mão na sua cintura. Estavam tão inclinados que pareciam estar a dançar tango na mais pura perfeição.

— Uma donzela não devia estar tão desprotegida assim.

Quando abriu os olhos deu de cara com um rapaz cujos cachos pendiam para  perto dos olhos quando se inclinava. Ele era muito bonito. Tinha cílios longos, olhos acastanhados mais para âmbar e um pomo de Adão bem saliente.

— Obrigada. — ela disse quando ele a ergueu devagar.

— Sem problemas. — ele sorriu e Zayora quase caiu outra vez.
— Nervosa?

— Um pouco. — confessou.

— Francesa?

— Não, angolana. E tu?

— Francês. Ainda não me apresentei. Prazer, o meu nome é Théo Larousse. — deu a mão.

— Zayora Nkembo. — copiou o gesto.

— Zayora... — disse devagar. — É um nome bonito.

— Obrigada.

— Você é modelo?

— Não. Nunca me interessei por modelos até a senhora Loza ir a minha casa me dizer que fui seleccionada para desfilar em Paris.

— É justo.

— Você é modelo?

— Não profissionalmente mas digamos que sou muito bom com fotografias. Tanto para ser fotografado como para fotografar.

— Que bom! Então o seu hobby é fotografia?

— Sim. E qual é o teu?

— Ler. Adquiri o hábito por causa da minha irmã mais velha. — olhou de esguelha para a mencionada — que estava sentada bem perto de Etienne mas não lhe passava palavra alguma. — Ela ama ler e escrever.

— Já lançou algum livro?

— Aquela teimosa? Não.

— Seria bom o mundo conhecer a arte dela, não?

— Sim, eu acho... Sim, é verdade.

— Vocês dois estão aqui no cantinho enquanto o pessoal está lá. Maquinando algo maldoso? — Daniel riu e Zayora se sentiu tão confortável que riu também. — Vocês ficam bem juntos. — sorriu. — Uma foto?

— Ah, não, não! — balançou as mãos na frente do corpo.

— Como assim, não? Querida, você sabe onde está? Num estúdio de fotografia. O que se faz num estúdio de fotografia? Se tiram fotografias! Vamos, quero uma pose espontânea.

— Ah...

Num instante ela estava de pé e noutro estava inclinada sendo encantada outra vez pelos olhos de Théo. Ela colocou uma mão no antebraço esquerdo dele e a mão esquerda dela foi para o pescoço dele. Estavam olhando um para o outro. Ouviram um click. Ele a ergueu mas manteve a mão na cintura dela.

— Como ficou? — ele perguntou.

— Olha você mesmo. — mostrou a tela da câmera.

— Ficou muito boa! — olhou para a sua parceira de fotografia com as orelhas quentes. — Vem ver.

Ela se aproximou devagar e olhou para a fotografia. Estava mesmo muito boa.

— Sim, ficou mesmo boa.

— Agora juntem-se aos outros.

Uma mulher baixinha, usando um vestido florido bateu palmas.

— Olá, meninos e meninas. Hoje vamos começar com o nosso trabalho. O meu nome é Jéssica Ndongala e sou a responsável pelos figurinos. Então quero que formem uma fila. A primeira sessão consiste em fotografias a solo. Todos vão ser fotografados hoje.

Uma menina loira saltitou batendo palmas. Ela usava uma mini saia jeans, uma mini camisa polo rosa e botas rosa de cano curto. Ela estava com duas tranças.

— Vamos começar! — Jéssica falou alto e a sua voz parecia estar vindo de um megafone.





— Não vai falar comigo até a sessão terminar?

Zayudi não respondeu, apenas olhou para a irmã. Etienne não parecia aborrecido, apenas curioso. Começou a bater o pé de forma frenética e ele — atrevido como era — levou a mão até a coxa dela mais para perto do joelho.

— Tem calma.

Ela abriu a boca, porém não falou nada. Uma queimação começou a surgir na ponta das suas orelhas.

— Do que você tem medo?

— De tudo. Isso é muito misterioso, Etienne. Aqui do nada, você me vê e gosta de mim. Depois quer me conhecer? Não quero que seja algo passageiro, algo momentâneo, tipo uma diversão em Paris. Pelo amor de Deus, Etienne, daqui a pouco eu vou fazer 30! — disse quase mergulhando em pânico. — Não tenho tempo para simples atracções físicas.

Ele a encarava não mais com aquele olhar inquisidor mas com uma expressão séria.

— Quero que venha comigo.

— Para onde?

— Apenas venha. — se levantou e deu a mão.

— Nem pensar. Não vou te seguir cegamente.

Ele riu, se inclinando para trás e lançando a cabeça junto.

— Eu conheço Paris, papillon. Não seja teimosa. Eu não mordo.

— Para onde vai me levar?

— Para um lugar onde possamos conversar.

— Estou a detestar isso.

— Pronta para viver um romance em Paris, meu presente de Deus?

— Eh eh eh! — o repreendeu se levantando. — Essas coisas não. Não sem antes confirmarmos.

— Tem esperança? — sorriu pelo canto da boca.

Ela sorriu também e deu a mão para ele.




— Tem calma, Zayora. — repetia para si mesma enquanto ia para o provador.

— Vais ser um sucesso, amiga!
— Alina ergueu os polegares.

— Já voltaram?

— Sim. Tiramos duma sala onde estava escrito "seulemente persone autorisé". Né? Era assim né, Sara?

— Yeah... — engoliu um pedaço de donut de baunilha. — Alguma coisa assim.

— Vocês entraram numa sala apenas para pessoas autorizadas?

— Quem ia saber? Não falamos francês.

— E é "seulement persone autorisé". Não se pronuncia o t do seulement e o men, pronuncia-se ã. O au em francês lê-se ô.

— Zayo... — a mão da irmã pousou no seu ombro. — Eu volto depois, sim?

— Para onde vais?

Etienne tossiu e ela olhou para baixo e os viu de mãos dadas. Ficavam muito bem daquela forma.

— Oh, oh, oh! Ok. Volta quando quiseres. — riu. — Etienne, cuida da minha irmã, porque apesar de seres muito bonito, podemos ter alguns problemas sérios se ela não voltar como foi.

— Irmã protectora. Gosto disso.

— Vais gostar mais ainda quando cometeres e eu te ensaiar.

— A sessão vai demorar?

— O suficente para irem e regressarem a tempo.

Desfilando Em Paris Onde histórias criam vida. Descubra agora