Passaram-se horas em que as únicas coisas que pude ver, foram os predominantes pinheiros dos dois lados da estrada, uma típica paisagem do Oregon. Minha tia Dory estava dirigindo a muito tempo; era visível que ela estava cansada, mesmo assim mantinha um sorriso em seu rosto e um olhar otimista, característico dela, sem dúvidas era uma de suas habilidades que sempre admirei.
Do outro lado estava eu, cansado, entediado e, admito, um pouco mal-humorado. O sol da manhã tapava minha visão, me impedindo de ver os “interessantes” pinheiros, felizmente aquela vista logo ficou para trás e foi aí que Dory interrompeu meus pensamentos:
—Olha, Blake! — A paisagem se distorceu, revelando um extenso vale com vista para a costa, embora o mar não fosse claramente visível. Próximo dali, havia uma cidade, não era uma metrópole como Chicago, mas também não se tratava da cidadezinha caipira que eu imaginava. — Summering, não é o lugar perfeito, mas já fui muito feliz aqui.
Completou Dory.
Me mantive em silencio e dei de ombros, não queria conversar após tudo o que estava acontecendo, Dory sempre escondeu seus assuntos de mim, e a ida a Summering era um deles.
— Você vai gostar daqui; esquecer um pouco dá rotina corrida da cidade grande. — Ela disse com um tom sereno. Mas o que ela quis dizer com rotina corrida? Eu praticamente ia da escola para casa todos os dias e uma vez por mês até a biblioteca.
Assenti com a cabeça mesmo sem entender se ela estava falando de mim ou dela mesma. Aparentemente Dory desistiu de tentar o diálogo, pois começou a se concentrar na estrada. Nós estávamos indo em direção a cidade, porém ela entra em uma pequena estrada quase imperceptível por conta das árvores de pinheiro, ciprestes, abetos, salgueiros e bordos de folha grande. (sim eu li o catálogo para turistas que Dory recebeu horas atrás.)
— A cidade não é pra lá? — Perguntei apontando com a cabeça enquanto estava com as mãos nos bolsos do meu moletom.
— Sim. — Disse ela. — Mas temos uma casa no terreno da família, não sei se você se lembra dela? — Não me lembrava de ter ido a Summering em nenhum momento de minha vida, muito menos de uma casa da família, então neguei com a cabeça e só aceitei a respostas.
Havia um grande portão na entrada, estava gasto e com um pouco de musgo, porém, aberto. Dory estacionou perto da varanda. quando sai, me escorei na porta do carro e senti em meu rosto, uma leve brisa gélida que associei ao outono. Olhando para a casa, fiquei devidamente impressionado: era bem maior do que nosso apartamento, bem maior mesmo. Um casarão de dois andares e mesmo com a aparência desbotada e abandonada, tinha um certo charme.
Tia Dory estava falando de como passou sua adolescência aqui, enquanto nos tirávamos as malas do bagageiro. Pelo que me contava, sua época do colégio era digna de um filme teen dos anos dois mil. Ela era popular e todos os garotos queriam levá-la ao baile de formatura. Enquanto isso, eu sempre fui o seu oposto, sem amizades significativas ou um amor para chamar de meu. Subíamos as escadas conversando, enquanto Dory falava com entusiasmo por ter voltado à casa que cresceu. Seu cabelo balançava sutilmente com a brisa de outono, brilhando em contraste a luz do sol, um dos vários fatores que a fez ser popular no colégio. Eu ainda estava falando pouco e sentindo como se estivesse borboletas em meu estomago, uma sensação que começou assim que vi a casa, a casa que chamarei de lar por um bom tem.
Nossa conversa foi interrompida por uma voz que saiu da casa — Vocês chegaram! — Logo passou pela porta uma senhora, eu chutaria que tinha em média uns sessenta anos, talvez. — Não os ouvi chegando. — Ela disse com um tom tão doce quanto Dory.
— Carmen! — reagiu Dory, largando as malas no chão e lhe dando um abraço. Esse nome me era familiar; Sra. Carmen era governanta e conselheira da família desde o tempo de meus avós, algo que Dory já havia mencionado algumas vezes. Carmen retribui o abraço enquanto fala. — Calma menina, meus ossos não são mais os mesmos. — A intimidade entre elas era evidente, algo de mãe e filha.
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Tracker of Mysteries
FantasyQuando me mudei para Summering, no Oregon, não esperava uma reviravolta tão grande em minha vida. Tudo parecia seguir o curso normal de uma mudança: uma nova escola, uma nova cidade. No entanto, o que encontrei foi muito além do que poderia imaginar...