Dando o primeiro passo

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Dizem que começar uma frase com a palavra "eu" significa que a pessoa tem muito ego. Não sei se sou muito egocêntrica, mas quando se trata de escrever, infelizmente ou felizmente eu sou. Sempre amei livros, sentir as folhas, o cheirinho de um livro acabado de comprar ou apreciar um livro antigo onde suas folhas são delicadas por conta do tempo.
Já me imaginei muitas vezes sendo uma personagem de cada livro que eu lia, já fui vilã, mocinha, um personagem qualquer e até mesmo um poste sem muita importância. Minha mãe sempre me motivou a ler, talvez tenha sido ela que me tornou essa devoradora de livros e que me ajudou a sonhar e ir atrás dos meus sonhos, que no caso é ser uma escritora famosa e reconhecida. Vários dos meus cadernos de quando eu tinha doze anos eram usados como rascunho para livros que não tinha muito sentido que eu escrevia e não terminava.
Pra mim uma inspiração para escrever consigo rápido, lendo algo, assistindo, fazendo atividade ou varrendo a casa. Mas a melhor inspiração mesmo que seja considerada clichê pela minha melhor amiga Luna, é os romances "secretos" do Eton College ou do meu crush, Lukas, que é o líder de turma e faz parte do jornal do colégio.
No momento enquanto escrevo no notebook escuto do andar debaixo meus pais cantarolando uma música brasileira, que é do país da minha mãe. Quando era pequena fui visitar o Brasil, Minas Gerais e comi bastante pão de queijo, que é muito gostoso.

Minha mãe me chama e bate na porta:

— Bom dia filha, caso não vá se arrumar agora, vai se atrasar para a aula.

Verdade, eu havia perdido a hora escrevendo.

— Bom dia mãe, já vou me arrumar.

Uma das cenas mais picantes em um livro geralmente acontece em um banheiro, durante o banho. O cara do livro entra pro banho justamente no momento em que a protagonista toma banho, e dá pra notar o quanto os dois estão sentindo seus poros implorando pelo toque um do outro, que nem aconteceu no livro Um acordo milionário com o Jogador. Quando essa cena finalmente aconteceu dei um grito, meus pais acharam que havia acontecido algo, mas tinha, aquele momento era épico, pelo menos para mim como leitora daquela obra. Enquanto lavo meu cabelo, imagino uma cena como aquela com o Lukas e dou uma risada. Acho que mesmo que eu seja muito aberta para falar sobre qualquer assunto, morreria de vergonha antes de fazer qualquer coisa com o Lukas.

Me enrolo na toalha e saio do banheiro. Minha mãe me grita do andar debaixo que vou me atrasar mais e acabar saindo sem tomar meu café da manhã. Termino de vestir o uniforme que na aparência seria chique demais para qualquer pessoa de renda comum comprar. A saia é listrada com vermelho, preto e branco. A blusa é como se fosse uma camisa de terno, mas delicado e com um tecido que tem a aparência de ser caro - e é. Mas pelo fato do meu pai ser inglês, foi mais "fácil" concorrer para uma bolsa de estudos na Eton College, fácil apenas pelo fato de ser metade da minha descendência inglesa, porque as três provas e redação que fiz para entrar não era fácil. Quando entro na cozinha, meu pai esta debruçado sobre um jornal e aposto que está verificando se publicaram sobre sua padaria, porque ele ganhou o concurso que teve de pães ingleses. Pela gargalhada dele é notório que a reportagem estava do jeitinho que ele narrou para minha mãe, meus dois irmãos e para mim.
Na capa do jornal alguns rostos mais do que conhecidos no meu país, a família nobre Windsor. Meu pai gostava deles, tinha até ficado feliz quando eu entrei para Eton pelo fato de que teria uma educação semelhante à que os Windsor tem. Minha mãe concordava comigo que não passavam de pessoas esnobes. Reviro os olhos quando leio o título "Família nobre Windsor vai promover um baile beneficente". Geralmente sempre tem um baile beneficente dos Windsor depois de alguma polêmica dos filhos.

Olho pela janela e vejo meu ônibus. Se eu não correr vou perder ele. Pego dois bolinhos, minha mochila e corro para fora antes que o meu ônibus fosse embora.

— Tchau mãe, tchau pai!! — gritei do lado de fora.

Leva cinquenta e três minutos para chegar no colégio de onde eu moro, dependendo do motorista uma hora ou menos. Costumo ficar ouvindo algumas músicas durante o caminho, ou fazer falas mentais sobre um possível encontro com o Lukas. Os olhos dele são de um castanho escuro intenso. Seus cabelos castanhos sempre parece que dança no ritmo do vento ou eu que fico imaginando isso? Não sei. E sua boca, imagino como deve ser beijar ele. Será que vou me sentir flutuando? Borboletas no estômago? Arco-iris e toda besteira romântica que eu acredito que acontece quando se beija alguém que ama? Sempre fico caga quando ele me elogia. Fico com vontade de dar pulinhos. Olho para o lado de fora da janela, muitas árvores e a beleza da natureza. O dia parece que vai ser daqueles dias bons que tudo vai dar certo.

Me levando e aperto o botão escrito stop, descendo logo em seguida no ponto. Luna me espera no mesmo lugar como sempre faz, sentada na escadinha que tem um pouco longe das redondezas do começo da entrada para Eton. Luna corre e vem me abraçar.

— É hoje que finalmente vai dar o seu primeiro passo? — pergunta dando um sorriso enorme.

Lukas e lá vamos nós.

— Sim, dessa vez eu não gaguejo e chamo ele para sair. — afirmo. — Como hoje o jornal tem que fazer uma entrevista com os jogadores de criquete, a gente tem que comentar sobre as perguntas que vamos fazer e então — finjo um suspense — Uso esse tempo pra chamar ele para sair.

— Finalmente. Para alguém que não tem papas na língua demorou muito para chamar seu crush para sair.

Dou um tapa no ombro dela quando uma das garotas do jornal passa.

— Aposto que á maioria das pessoas do jornal já notou sua quedinha pelo Lukas, só não falam. E até ele já deve ter notado.

— Mas a Rebeka passa tudo que escuta pra frente, ela pode contar antes pro Lukas que vou chamar ele para sair.

— Mas a Rebeka passa tudo que escuta pra frente, ela pode contar antes pro Lukas que vou chamar ele para sair

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