Ela estava nervosa. Suas pernas não paravam de pular por mais que ela tentasse se controlar. A chuva forte que começou a cair no caminho fez um grande engarrafamento se formar e já fazia mais de dez minutos que o GPS marcava que faltavam apenas dez minutos para chegar no local de destino e o carro não se movia. O relógio já marcava 21:40 e Carol sabia que tinha apenas vinte minutos para a galeria fechar, por isso, num impulso, seguiu a primeira ideia que lhe surgiu na cabeça.
– Moço, pode destravar a porta, por favor? Vou descer aqui mesmo.
– Você vai a pé? – o motorista que até então estava calado, expressando seu estresse com o trânsito apenas em algumas suspiradas, perguntou assustado. – Está chovendo muito, não é seguro a senhorita ir andando.
– Eu agradeço a preocupação, mas já faz mais de dez minutos que estamos parados no mesmo lugar e pelo visto não vamos sair daqui tão cedo e eu tenho hora para chegar onde preciso.
Balançando a cabeça em desaprovação, o motorista não tinha outra alternativa a não ser destravar a porta e dizer um "vai com Deus, minha filha!" quando a mulher saltou do carro e saiu andando em passos largos.
Carol andava o mais rápido que podia, sabia que os dez minutos do gps a pé seriam mais do que isso, mas estava confiante de que chegaria a tempo, afinal Natália também não teria como sair logo da galeria com a quantidade de água que caía do céu. Conhecia a amiga, sabia como ela tinha medo de dirigir quando estava chovendo tanto assim, principalmente depois do seu acidente de carro.
A professora sentiu seu coração apertar mais uma vez ao lembrar do tal acidente que aconteceu logo depois da briga das duas, mas logo tratou de deixar o sentimento de culpa de lado novamente e focar nos passos protegidos pelos sapatos já encharcados.
A cada passo que dava em direção a galeria, ela sentia seu corpo tremer com cada vez mais intensidade. Se o motivo era o nervosismo de estar prestes a se declarar para Natália ou o frio que piorava a cada batida de vento contra o seu rosto ela já não sabia e no momento não fazia diferença, ela só queria chegar logo.
Ao terminar sua caminhada e torcer os cabelos perto da entrada da galeria embaixo da pequena marquise que tinha na loja ao lado, a morena respirou fundo e tentou pensar no que diria à outra mulher. Visitá-la no trabalho não era novidade alguma, afinal essa não seria a primeira vez, mas por onde começar a contar para Natália que esta visita não tinha o mesmo teor das outras.
– Meu Deus... o que eu tô fazendo? – se perguntou pela primeira vez, sentindo seu coração acelerar ao lembrar que nunca havia se declarado para ninguém antes. – Tudo bem... – respirou fundo. – foco, Carol! Não dá tempo de ficar pensando muito, só vai e na hora alguma coisa sai.
Após um último suspiro e de se ajeitar da maneira que dava pra diminuir um pouco os danos da chuva em seu visual, Carol foi em direção a porta da galeria. Ao entrar, mais uma vez se viu maravilhada diante das fotos que Natália tinha exposto.
É claro que o talento de Natália não era novidade alguma, mas toda vez que seus olhos observavam aquelas imagens que transmitiam tanto do olhar da outra mulher, ela não conseguia deixar de lado a sensação de encantamento. Natália sempre foi de falar muito sobre o quanto admira Carol, o que ela faz e como o que ela faz impacta a vida de outras pessoas e agora a morena se perguntava se a amiga também tinha noção do quanto o olhar sensível e atento dela às coisas também afetava as pessoas. Não são fotografias apenas bonitas, uma foto bonita qualquer um poderia tirar. É o olhar de Natália, que não apenas vê as coisas, mas enxerga, presta atenção e observa quase que como um sexto sentido o detalhe das coisas a sua volta que dá um tom tão comovente às suas imagens.